A Mattel Inc., maior fabricante de brinquedos do mundo, está em busca de um Natal feliz.
A fabricante das Barbies, dos brinquedos Fisher-Price e das bonecas American Girl e Polly Pocket, tem registrado fortes vendas e lucros crescentes nos últimos trimestres, apesar das economias anêmicas nos Estados Unidos e na Europa, seus dois maiores mercados.
Enquanto concorrentes como a Hasbro Inc. tentam direcionar os negócios para a televisão e o cinema, a Mattel segue com o que os fãs dizem que a empresa faz melhor - criar e vender brinquedos que se tornam ícones. Essa foi a ordem enviada pelo diretor-presidente, Robert Eckert, quando ele chegou a Mattel há 11 anos, depois de ter passado a carreira inteira na Kraft Inc.
Quando ele assumiu o posto na Mattel, a empresa passava por um período de instabilidade depois da desastrosa aquisição da Learning Co., fazendo com que o lucro despencasse. E a empresa em seguida se envolveu numa longa disputa judicial pelos direitos autorais e pelo controle da marca de bonecas Bratz, que são fabricadas pela rival de menor porte MGA Entertainment Inc.
Especialistas da indústria de brinquedos temiam que Eckert não tivesse tanta paixão e interesse pelo setor, para revigorar a companhia. Mas a Mattel conseguiu uma série de lançamentos bem-sucedidos, incluindo a linha popular de bonecos Monster High, que são os filhos adolescentes de personagens de filmes de terror como Drácula e Lobisomem.
Semana passada, a Mattel fez sua maior aquisição em dez anos, ao comprar a Hit Entertainment por US$ 680 milhões, um acordo que dá à fabricante de brinquedos o controle da Thomas & Friends, que está entre as fabricantes de trenzinhos preferidas de crianças em idade pré-escolar.
Eckert, de 57 anos, conversou recentemente com o The Wall Street Journal na sede da empresa em El Segundo, na Califórnia. Ele falou sobre brinquedos - e estratégia corporativa - antes da temporada de compras de Natal. Seguem os trechos editados da entrevista:
WSJ: O que o deixa otimista em relação às vendas de brinquedos no Natal?
Robert Eckert: Historicamente, a indústria de brinquedos tem mostrado um desempenho relativamente bom em períodos de crise econômica. Foi assim durante décadas e tem sido assim na fase atual.
WSJ: Há algum brinquedo com o qual o senhor está particularmente animado?
Eckert: Eu sempre escolho meu brinquedo favorito do ano, mas meu histórico tem altos e baixos. Eu realmente gosto de um produto chamado Fijit, da Fisher-Price. É como se fosse a melhor amiga de uma garota de cinco ou seis anos. A boneca identifica vozes, reconhece a batida de uma música e dança interativamente. E o Hot Wheels Wall Tracks, onde a criança monta uma pista [para os carrinhos] na parede em vez de fazer o que os garotos vêm fazendo desde 1968 - montar pistas no chão.
WSJ: Quais foram os erros cometidos pelo senhor ao criar brinquedos?
Eckert: Eu certamente aprendi em 11 anos que podemos acabar deixando o brinquedo sofisticado demais. Se o brinquedo faz a maior parte do esforço e rouba muito da imaginação e da brincadeira, vai fracassar.
Minha escolha para o brinquedo do ano há algum tempo foi uma caminhonete vermelha com um stylus no topo. O stylus era usado para desenhar [num tapete eletrônico] aonde você queria ir. A boa notícia: finalmente nos livramos dele. A má notícia: não foi o brinquedo do ano. A verdade é que a caminhonete fazia quase todo o trabalho. Muito da brincadeira é mover você mesmo o carrinho pelo chão.
WSJ: Depois da escassez de brinquedos inovadores durante a maior parte da última década, o senhor ressuscitou a Barbie e criou vários brinquedos de sucesso. O que mudou?
Eckert: Durante anos nesta companhia, tivemos como foco o desenvolvimento de liderança para jovens talentos. Estamos fazendo a mesma coisa agora para a inovação. Conversamos e ensinamos sobre inovação, fazemos contatos fora da empresa para encontrar melhores ideias e estamos trabalhando com a comunidade externa de inventores.
WSJ: Qual é a diferença entre comandar uma empresa de brinquedos e uma fornecedora de produtos alimentícios?
Eckert: Existem mais semelhanças do que diferenças. Ambas são grandes marcas de bens de consumo. Em alimentos, você está vendendo produtos em grande parte para mães [que procuram] benefícios nutricionais para os filhos. Numa empresa de brinquedos, você está vendendo para as mães o valor do entretenimento e, cada vez mais, benefícios educacionais para as crianças.
Além disso, ambos os negócios são fortes geradores de caixa e dependem mais de marcas do que de produtos individuais. A Barbie tem 82 anos, a Fisher-Price tem 80 e a American Girl, 25 anos. Isso é o que gera fluxo de caixa.
WSJ: Os analistas de Wall Street têm criticado o senhor pela contínua disputa legal pelas bonecas Bratz, que começou em 2004. Por que não encerrá-la?
Eckert: Eu gostaria de resolvê-la. Mas precisa ser de uma maneira que seja boa para a Mattel.
WSJ: As vendas da Fisher-Price têm caído nos últimos anos. O que o senhor está fazendo para recuperar a marca?
Eckert: Dentro de dois anos, você verá uma evolução da Fisher-Price. Precisamos nos conectar melhor com as mães e continuar a trabalhar em inovação. Nossa capa para o iPhone é um bom exemplo. É uma capa que deixa o telefone "à prova de bala", mas permite às crianças brincarem de forma apropriada.
WSJ: No começo deste ano o senhor fechou uma loja da Barbie controlada pela Mattel em Xangai. O que aconteceu?
Eckert: Nos EUA, as vendas de brinquedo per capita somam US$ 300 por ano. Nos mercados emergentes, o valor é de US$ 10. Para apresentar a Barbie aos consumidores na China, pensamos que montaríamos uma unidade no padrão das lojas americanas de boneca American Girl, cujo desempenho tem sido tão positivo aqui. Vendemos mais Barbies naquela loja do que em qualquer outro lugar na China, mas não o suficiente para cobrir o aluguel. Por isso não iremos abrir mais lojas da Barbie.
WSJ: Veremos algum dia um filme da Barbie ou dos Hot Wheels?
Eckert: Temos 22 DVDs da Barbie. Não são projetos de US$ 100 milhões. Estúdios compraram os direitos de algumas de nossas marcas. Algumas vão estrear no cinema.
Mas a decisão não é nossa. Não tenho certeza se a produção de filmes seria algo que faríamos bem.
Veículo: Valor Econômico