'Tarifa contra importado tem efeito nefasto'

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Presidente da Alpargatas,Márcio Utsch, que produz Havaianas e Topper, ataca protecionismo do governo e despreparo da indústria


A adoção de barreiras tarifárias para proteger a indústria nacional dos importados chineses vai gerar um efeito "nefasto".

Quem diz é Márcio Utsch, 53, presidente da Alpargatas, maior empresa de calçados e artigos esportivos do país em receita líquida (R$ 2,2 bilhões em 2010), dona de Havaianas e Topper e importadora de Mizuno e Timberland.

"Enquanto a indústria internacional investe e se moderniza, a nacional não está preparada para viver sem proteção", diz.

Voz dissonante no meio empresarial, o executivo critica a adoção, no ano passado, de uma tarifa antidumping de US$ 13,85 para proteger o calçado nacional de importados asiáticos."Quem paga a conta do protecionismo são os consumidores."

Antidumping
É um disparate. O consumidor tem acesso à internet. Ele compara com os preços lá de fora e acha que a gente aqui é ladrão. Já temos 35% de imposto de importação no calçado e colocamos mais a tarifa antidumping.
A quantidade de artigos esportivos trazidos pelas pessoas em viagens internacionais é absurda. Mas o governo não vê que está transferindo receita para o exterior.

Brasil x Itália
Tem finalidade quando há um dumping. No caso de calçados não percebo. Quando foi feito o antidumping se comparou a indústria brasileira com a italiana.
Como comparar o preço brasileiro com o da Itália? A gente é parecido em quê? Talvez na beleza das mulheres, no charme do país. Mas em empresa de calçado não dá para comparar.

Contrabando
A barreira à importação estimula o contrabando. Se a tarifa de importação fosse normal, a diferença seria tão pequena que não valeria a pena fazer contrabando.

Carroças
Quando tínhamos proteção ao carro brasileiro tínhamos as famosas carroças. O que aconteceu? A gente abriu a importação e a indústria não quebrou. Lembra da Cobra, indústria de computador? O Brasil não tinha computador. E aí abriu o mercado e deu no que deu: computador barato. Telefonia, a mesma coisa.

IPI para carro importado
Como cidadão me sinto ofendido. Para proteger quem? As multinacionais delas mesmas? Solta as amarras, deixa eles entrarem aqui. Reduzir o imposto é anti-inflacionário, faz o país crescer.

Quando você cria proteção, as indústrias investem menos e ficam atrofiadas. O efeito é nefasto. Você tem que criar filhos expondo-os aos anticorpos. Se você fica dentro de uma bolha, qualquer espirro vira pneumonia.

Raio-X - Márcio Luiz Simões Utsch

IDADE
52 anos
ORIGEM
Brasileiro
FORMAÇÃO
Administração de empresas, MBA pela UFRJ - COPPEAD, INSEAD (França) e direito
CARGO
Presidente da Alpargatas, onde está desde 1997
ATUAÇÃO ANTERIOR
> Negócios próprios, na área de comércio e indústria de calçados, de 1995 a 1997
> Gradiente Entertainment, de 1989 a 1995
> Mesbla, de 1972 a 1989


Crise faz Alpargatas 'pisar no acelerador'

Presidente da empresa quer ganhar mercado com crise europeia, lançar tênis Havaianas e linha de corrida da Topper

Gastos com marketing em 2012 vão aumentar por conta do aniversário de 50 anos da marca Havaianas

O presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, fala sobre crise e sobre as estratégias para que o faturamento passe de R$ 2,2 bilhões (2010) para R$ 5,5 bilhões até 2015.

Crise
Não existe possibilidade de uma crise do tamanho da europeia não nos afetar de alguma forma. Vejo a crise como oportunidade para pisar um pouco mais no acelerador e ganhar mercado.

Coerência
O discurso tem de ser coerente. Em 2009, lançamos produtos exclusivos para a crise. Nosso tênis Mizuno mais barato custava R$ 149 e fizemos um de R$ 109 e outro de R$ 99. Outra medida que podemos fazer é financiar um pouco mais o cliente [lojista] para ele poder alongar o prazo de venda ao consumidor. Vamos monitorar. Caso seja necessário, vamos atuar.

Marketing na crise
A gente nunca deixa de investir em marketing, tanto para desenvolver novos produtos como para comunicar o que estamos fazendo. Isso é fundamental para que as pessoas tenham sempre uma imagem positiva das marcas. No fundo marca é isso. Quando você olha para as Havaianas você não pensa que ela é cara ou chata. Mas que é legal, colorida, macia, combina com biquíni. Se você deixa de investir em marketing, a coisa se esvai com o tempo. Em 2012 as Havaianas fazem 50 anos e vamos aumentar o investimento em relação a 2011 (13% a 15% da receita).

Planos para 2015
Estamos crescendo com a entrada em novos mercados (Índia, Paquistão, Indonésia) e chegando a mais localidades dentro do Brasil. Também estamos entrando em novas categorias. As Havaianas com a linha de tênis. A Topper, que era só futebol, com uma linha de corrida. E a Rainha está sendo revitalizada, com a linha clássica dos modelos Iate, Mont Car e F7.

Havaianas e Topper
Uma coisa é sair para o mundo com Havaianas, que não tem concorrente internacional focado. Outra é sair com Topper, que tem concorrente para todo lado. A velocidade é outra, as ambições, diferentes. Mas há velocidade e ambição para expandir além da América do Sul. Só temos que ter juízo. Você só tem a primeira chance de causar uma boa impressão.

Varejo e indústria
O varejo cresce, pois estamos abrindo mais lojas. São 185 franquias das Havaianas e o plano é ter 500 até 2014. Mas não queremos competir com nossos clientes. As lojas têm a função de expor o conceito da marca e a imensa variedade de modelos. Mas as lojas respondem por apenas 8% das receitas globais, incluindo o varejo de Timberland e lojas próprias de Havaianas no exterior.

 
Veículo: Folha de S.Paulo


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