A pouco menos de 50 dias de 2009, o mercado varejista já tem nas mãos a perspectiva econômica do próximo ano, diante do cenário de crise, elaborada por economistas com especialização no varejo. O crescimento do País deve cravar a marca de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB), a inflação é prevista para 4,8% e o dólar deve se estabilizar no patamar de R$ 1,90, disseram economistas, no Seminário do Crédito no Brasil, promovido pela Associação Comercial de São Paulo, ontem.
O que ainda não é claro, porém, é a extensão e o tempo da crise no mercado interno, mas o varejo deve desaquecer devido à leve alta da taxa de desemprego, diz Alexandre Andrade, especialista em varejo da Tendências Consultoria. Ele crê que o mundo cresça 3% em 2009, e que o crédito externo continuará escasso. "O Banco Central deve manter a taxa de juros alta para ajustar a demanda. Já estávamos crescendo acima da capacidade, e a crise ajudou o BC a frear o processo. Se o mercado não suavizasse, poderia haver pressão inflacionária. Acredito em manutenção da taxa Selic."
Para ele, o crescimento do Brasil será razoável, embora o crédito na praça seja menor ano que vem: "Os bancos têm mais dificuldade de captar dinheiro. Para pessoas físicas, o crescimento da oferta de crédito, que neste ano era de 16,1%, cairá para 13,2%. São taxas reais já descontado o efeito da inflação. Nas jurídicas, o sinal de que o crédito see retrairá é que em 2008 temos 21,9% e isto cairá para 12,7%. É bastante expressivo um crescimento de 13%. Na macroeconomia, vejo que a inflação deva chegar a 4,8% e o PIB 3,2%".
Segundo Andrade, ano que vem o mercado varejista deve desaquecer-se devido a uma leve alta da taxa de desemprego. Para ele os efeitos da crise ainda não chegaram ao mercado de trabalho, mas no ano que vem devem impactar. "As restrições de crédito devem afetar principalmente o mercado automobilístico. As classes C e D começaram a ter acesso ao crédito e o que percebemos é que os carros populares já sofrem alguma redução de venda. Não há mais financiamentos de 90 meses; hoje são 36 vezes."
O economista destaca que a venda de carros estava muito acelerada, nem os executivos acreditavam nos patamares. O setor varejista deve sofrer desaceleração, pois as vendas, principalmente as voltadas aos bens duráveis, dependem de crédito.
"Prevemos redução do crescimento. Antes, era de 6,5% e agora trabalhamos com a margem de 5,2%. No caso de alimentos e supermercados, que dependem mais de renda e menos de crédito, não haverá tantas perdas. As pessoas não param de comer, mas podem comer menos. As matérias-primas podem forçar os preços."
Para o especialista, nas redes de food service, não há previsão de retração. "O cenário é brando.Se não houvesse crise, ninguém pararia de investir. O mercado domestico continua a puxar a economia ainda", crê. Mesmo assim, Andrade é otimista. "Diante da crise, empresários e população ficam apreensivos, mas o Brasil está preparado para enfrentar choques externos. Os números não são ruins. Ficamos três décadas sem crescer, mas nos últimos cinco anos crescemos de forma robusta."
Crises
Para Nathan Blanche, sócio diretor da Tendências, o Brasil sempre sofreu crises internas. "Não sabemos os reflexos da crise, mas sou otimista, porque a crise que vivemos é uma crise de ajustes da economia. Fazemos parte dessa festa e temos de pagar nossa parte. Quando compra um carro ou uma casa em 20 anos, o consumidor torna-se um especulador, pois hipoteca seu salário de longo prazo. Usufruímos as poupanças externas. A inflação aleija, e o câmbio mata, por isto não devemos baixar juros e subir câmbio: gera-se pressão inflacionária na veia. Temos de fazer o contrário. Se houver responsabilidade, sairemos bem da crise."
"As pessoas e as empresas ficam melhores com a crise", afirma Blanche, que prevê fusões na construção civil. "O Brasil vai na contramão da crise, criamos uma eficiência no mercado, como a fusão do Itaú e Unibanco. O balanço de ambos é bom, cria solidez no mercado - é diferente nos EUA, que têm bancos quebrados, ao todo 60. No caso da construção civil, temos o mesmo cenário. Em todos setores e no varejo vai haver fusões e aquisições. Há que melhorar os recursos. Vamos sair mais fortes, pois durante décadas crescemos 2% e agora conhecemos 3%. É um engodo, não há capacidade de crescer 5%."
Para Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo, a crise financeira, que tem repercutido no mundo inteiro, mostrou que todos os segmentos da sociedade precisam interagir em busca de uma solução conjunta. "O preço que se vai pagar ainda não está dimensionado, mas o Brasil está mostrando que tem capacidade de superar a crise, desde que a sociedade participe", disse ele, recentemente.
Veículo: DCI