O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) pretendem financiar e apoiar com R$ 1,1 bilhão pesquisas com etanol celulósico no país. É uma iniciativa inédita do banco que espera que até 2014 entrem em operação as primeiras usinas do biocombustível avançado em escala de demonstração - nessa fase, a produção é de até 3 milhões de litros por safra.
O objetivo é que esses projetos validem a tecnologia de forma a dar segurança necessária para que os investidores partam para a escala industrial - acima de 80 milhões de litros por safra, explica o chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES, Carlos Eduardo Cavalcanti. "Após essa fase de pesquisa, certamente entraremos numa segunda etapa do programa, quando pretendemos financiar os projetos em escala comercial", prevê Cavalcanti.
Os planos de negócios foram aprovados dentro do PAISS (Plano Conjunto de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico) que deve destinar, além dos R$ 1,1 bilhão aos estudos com etanol celulósico, mais R$ 1 bilhão para outras duas linhas de pesquisa de segunda geração: novos produtos da cana-de-açúcar (bioquímicos, principalmente) - R$ 900 milhões - e gaseificação (uso do gás do bagaço para produção de biocombustível, plásticos, etc) - R$ 100 milhões.
Trata-se do maior volume de recursos já aportado pelo banco com a Finep para pesquisa em cana-de-açúcar. Historicamente, a carteira BNDES/Finep vem sendo de R$ 500 milhões por ano, sendo apenas R$ 100 milhões para estudos no segmento sucroalcooleiro, principalmente na área de melhoramento genético de plantas, explica o gerente setorial do Departamento de Biocombustíveis da instituição, Arthur Milanez.
Na área de etanol celulósico foram aprovados 14 planos de negócios de 13 empresas. Entre elas, estão a ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht, a Petrobras, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) - que tem como sócias a Raízen (Cosan / Shell) e a Copersucar - além da espanhola Abengoa.
Também figuram na lista empresas multinacionais da área química e de biotecnologia já com atuação no país, como a Dow Brasil, Novozymes e a farmacêutica Eli Lilly do Brasil e outros nomes novos, como a finlandesa Metso, fornecedora de equipamentos para o segmento de papel e celulose, que tem expertise em tratamento de fibras, e a Mascoma, americana da área de biotecnologia com experiência em hidrólise (quebra de molécula com água) de biomassa.
Milanez explica que os projetos selecionados visam vencer os desafios tecnológicos que ainda impedem a produção economicamente viável do etanol celulósico. Entre eles, o recolhimento da palha da cana no campo de forma eficiente, o desenvolvimento de pré-tratamento dessa mesma palha e a quebra das moléculas de açúcar de cinco carbonos existentes tanto no bagaço quanto na palha da cana. A tecnologia de primeira geração, largamente dominada hoje no setor, consiste na quebra de moléculas de açúcar de seis carbonos.
A intenção é que as empresas cujos projetos foram aprovados façam parcerias tecnológicas para complementar conhecimentos. "Essas conversas já começaram", afirma Calvalcanti.
Além de crédito convencional, com a linha já existente BNDES/Finep, o apoio aos projetos aprovados no PAISS pode vir na forma de participação societária do BNDESPar ou com subvenção do Finep, modalidade com limite de R$ 10 milhões por projeto.
"O financiamento e o apoio não serão os mesmos para todos os projetos. Encontraremos uma solução sob medida para cada caso", diz Cavalcanti.
O banco pretende concluir essa fase de enquadramento no primeiro trimestre deste ano. Em seguida, BNDES e Finep se reunirão com as empresas selecionadas para negociar as condições de apoio e financiamento.
Nas três linhas do PAISS, 35 planos de negócios foram propostos por 25 empresas.
Veículo: Valor Econômico