Tendência é de aumento da oferta de lácteos, em período de custos elevados.
A previsão de queda no crescimento mundial do Produto Interno Bruto (PIB) e a crise financeira nos Estados Unidos e Europa poderão impactar negativamente a demanda por produtos lácteos em 2012. O cenário estimulará o redirecionamento da produção de leite e derivados da Argentina e Uruguai para o Brasil, isso pelos preços praticados no mercado interno estarem atrativos e o consumo de leite e produtos de maior valor agregado em alta.
De acordo com o boletim "Ativos da Pecuária de Leite", elaborado pela Superintendência Técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o crescimento econômico global foi revisado para baixo em função da crise financeira enfrentada pelos países europeus e pelos Estados Unidos.
Segundo os dados apontados no boletim, e anteriormente divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global deve crescer 4% em 2011, contra a evolução de 5,1% observada em 2010. Baseado nestes dados, o United States Department of Agriculture (USDA) estima que a demanda internacional por
lácteos possa desacelerar em relação à observada em 2011.
A previsão do FMI é de um incremento do PIB de 2,2% em 2011, nas economias dos países desenvolvidos. Nos países em crescimento a alta deve girar em torno de 6,6%, com destaque para a China, com crescimento de 9,6%, e Índia, com alta de 8,2%. No Brasil, a estimativa é de crescimento de 4,1% do PIB em 2011, frente ao incremento de 7,5% registrado em 2010.
Segundo os dados da CNA, perante o cenário mundial, o receio é que o excesso de produção em alguns países, em especial na Argentina e no Uruguai, principais países exportadores de lácteos para o Brasil, pode ser direcionado ao mercado brasileiro. O que será incentivado pelo câmbio valorizado e pela redução da demanda de alguns países importadores.
O aumento do interesse de compra das empresas que atuam no Brasil pode atingir patamares mais elevados que os registrados em 2011, acarretando prejuízos para os produtores. O aumento da oferta de lácteos no mercado tende a reduzir os preços pagos pelo litro em um período de custos elevados.
"Diante da desaceleração da economia mundial, o governo brasileiro precisa desenvolver barreiras para proteger o mercado interno. Caso ocorra uma redução da demanda mundial, o mercado brasileiro se torna atrativo, principalmente, para a Argentina e Uruguai, o que poderá resultar em graves problemas para os pecuaristas de leite de Minas e do restante do Brasil", diz o superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez.
Quanto às exportações do segmento de lácteos, uma queda na demanda externa não deverá trazer impactos significativos. Segundo a CNA, desde 2009 a taxa de câmbio tornou praticamente inviável a exportação.
Em Minas, apesar de crescentes, se comparadas com 2010, as exportações de leite e laticínios ao longo de 2011 ficaram inferiores às efetuadas em 2009. Segundo os dados da Seapa, o volume embarcado no ano passado foi de 5,89 mil toneladas, contra 1,5 mil toneladas enviadas em 2010 e 24 mil toneladas em 2009.
"Atualmente os preços no mercado interno estão mais atraentes que os gerados nas negociações internacionais. Além disso, com o aumento da renda da população, a demanda por produtos processados e com maior valor agregado foi impulsionada", lembra Albanez.
As interferências climáticas na produção leiteira de Minas e da região Sul do país, que juntas respondem por 58,6% da produção brasileira, também deverão alavancar os custos de produção.
Clima - De acordo com Albanez, a seca que castiga o Sul do país, além de comprometer os níveis de captação de leite, também está prejudicando a safra de grãos e a pastagem. Em Minas, as chuvas excessivas e as enchentes prejudicaram parte dos pastos na Zona da Mata e Sul de Minas, obrigando os produtores a alimentarem o rebanho com ração à base de milho e farelo de soja.
"O aumento dos custos de produção e os impactos negativos provocados pelo clima afetam o nível de captação e contribuem para incrementar os preços no mercado interno. A situação se torna atrativa para países exportadores de lácteos para o Brasil, principalmente pelo custo de produção, na maioria das localidades, ser menor que o brasileiro. Para se ter uma ideia, em 2000 o preço médio do litro era de US$ 0,18 e em 2011 a média ficou em U$$ 0,50, melhor preço na serie dos últimos 11 anos", diz Albanez.
Ainda segundo Albanez, o Brasil precisa trabalhar para aumentar sua participação nas exportações mundiais. Os mercados mais promissores seriam a China e a Índia. Entre os maiores consumidores de leite fluido estão a União Europeia, que também é responsável pela maior produção de leite no mundo, representando 26,5%, seguido pela Índia, Estados Unidos, China e Rússia.
Veículo: Diário do Comércio - MG