O arroz fortificado "Ultra Rice" será produzido em escala comercial no Brasil. A organização não governamental americana Path, detentora da tecnologia, acaba de firmar um acordo com a processadora catarinense Urbano para colocar o produto nas gôndolas dos supermercados. A previsão é que a produção e a distribuição comecem ainda no primeiro semestre.
Desenvolvido em 1989 pela empresa americana Bon Dente International, o Ultra Rice é um composto de farinha de arroz acrescido de nutrientes como zinco, ácido fólico e ferro, no formato e com características semelhantes a de um grão convencional.
Em 1997, a Bon Dente doou a patente do "super arroz" para a Path, que desde então tenta, em parceria com a Aliança Global para a Melhoria da Nutrição (Gain, na sigla em inglês), incluir o produto em programas de combate à desnutrição, sobretudo em países em desenvolvimento. Segundo a organização, a mistura do grão artificial no arroz convencional, na proporção de 1 para 100, é capaz de reduzir a incidência de anemia e a mortalidade infantil em populações de baixa renda.
O acordo assinado nas últimas semanas prevê a transferência gratuita da tecnologia para a Urbano, que terá liberdade para explorar comercialmente o composto, com uma marca própria. Em troca, a processadora terá de fornecer o arroz fortificado, a preço de custo, para governos e prefeituras que o adotarem em programas de combate à desnutrição. A Urbano também se compromete a vender o concentrado para outras beneficiadoras que quiserem acrescentar o arroz fortificado em seus produtos.
Segundo a indiana Dipika Matthias, diretora do projeto Ultra Rice no Path, a parceria com empresas comerciais é importante para fomentar a demanda e assegurar a disponibilidade do produto no longo prazo em países considerados estratégicos. "Estamos muito empolgados com esse acordo. Vamos desenvolver um mercado de produtos fortificados no Brasil. Queremos alcançar 10 milhões de consumidores de baixa renda em três anos", revela. Segundo ela, a ONG vai encomendar estudos de mercado a fim de conhecer melhor o potencial da demanda brasileira e as realidades regionais. "Também vamos conversar com as grandes redes varejistas para estruturar a distribuição", afirma.
Renato Franzner, diretor-executivo da Urbano, diz que a demanda comercial pelo "super arroz" pode corresponder a algo entre 5% e 10% do mercado atual, mas pondera que o impacto sobre as receitas do grupo deve ser pequeno. "O benefício econômico não é tão relevante. A parceria nos interessa mais pelo aspecto social". De todo modo, a empresa já estuda ampliar as possibilidades de uso da tecnologia a partir de 2013. "Vamos começar com o grão, mas a ideia é fazer também macarrão fortificado a base de arroz", conta Franzner.
A Urbano tem capacidade para produzir até 500 toneladas do composto por mês - o suficiente para "enriquecer" até 50 mil toneladas de arroz convencional, segundo a proporção recomendada pela Path. Mas a demanda inicial deve ser muito menor, próxima de 50 toneladas mensais, projeta Franzner. A Urbano beneficia aproximadamente 25 mil toneladas de arroz por mês, além de 8 mil toneladas de feijão.
O Ultra Rice está na merenda escolar em escolas de Sobral (CE), Dourados e Campo Grande (MS) e Vespasiano (MG). Ao todo, 80 mil crianças são atendidas. Franzner diz que a empresa pretende levar o projeto ainda às escolas da região metropolitana de Curitiba.
O produto está presente ainda na Colômbia, onde a Path tem um acordo com a Unión de Arroceros, e na Índia, onde repassou a tecnologia para a Swagat Food Products. No Brasil, o Ultra Rice é atualmente fabricado pela Adorella Alimentos, de Indaituba, no interior de São Paulo. Contudo, a Adorella não explora o produto comercialmente.
Em novembro, a Path firmou um acordo com a Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG) para ajudar a desenvolver o produto no Brasil. A instituição passou a ter um "Centro de Excelência para a Transferência de Tecnologia de Fortificação do Arroz" e terá o papel de facilitar futuras transferências da tecnologia Ultra Rice para fabricantes nacionais e internacionais de alimentos.
Veículo: Valor Econômico