Distância entre as mudas permite colheita mais farta; demanda não pressiona os preços, que sofreram leve queda em fevereiro, mas seguem em níveis "elevados"
Deve ser concluído nesta semana o plantio do algodão no Mato Grosso, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). O estado responde por 52% da produção no País. Embora as lavouras possam ter ficado menores, em função de preços menos atrativos na safra atual, o estado espera crescimento de 8,4% da produção: acima de um milhão de toneladas.
"Os produtores optaram pelo espaçamento tradicional, que tem produtividade maior", explicou uma analista do Imea. Na temporada passada, agricultores escolheram o plantio adensado como forma de colher mais rápido o algodão, aproveitando uma escalada das cotações, com pico em março de 2011, mas perdendo em volume - a última colheita rendeu 937,3 mil toneladas.
De lá para cá, as plantações densas (com menos de 0,76 metro de distância entre as mudas) diminuíram de 17% para 9% da área de plantio.
O Mato Grosso já responde por cerca de 52% da área nacional de plantio de algodão. Planta-se a fibra em 1,7 milhão de hectares no Brasil, sendo que 720 mil hectares no MT. "A última estimativa, de janeiro, é de 733 mil hectares, mas deve ser revisto para 721 mil", disse a pesquisadora do Imea, pontuando que os preços mais baixos do produto podem ter inibido um plantio maior.
Cotações e estoques
Desde o ano passado, quando bateu recorde, o preço do algodão vem caindo nas regiões produtoras de Rondonópolis (onde uma arroba de pluma está valendo R$ 52,7), Sorriso (R$ 52) e Sapezal (R$ 51,8). Essas regiões representam, respectivamente, 44,5%, 19,4% e 25% da produção estadual de algodão.
"Os preços estão razoáveis. A tendência, com os estoques em alta, é que não haja pressão de demanda para aumentá-los", disse a analista de fibras do Imea. Segundo ela, a demanda do mercado interno, neste ano, "vai crescer só um pouco", repetindo o comportamento observado no ano passado. "A indústria têxtil ainda está devagar no Brasil", afirmou a pesquisadora.
No País
O baixo nível de encomendas por parte dessa indústria somado a um estoque de passagem (511,7 mil toneladas) capaz de sustentar 53% da demanda interna, no Brasil, são fatores que mantêm a oferta com folga acima da demanda por algodão (a nível nacional). "As exportações é que vão determinar o equilíbrio", analisou o pesquisador Lucílio Alves, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Em sua análise, as expectativas de que haja uma retomada de ritmo na atividade industrial e as cotações futuras do preço da fibra em Nova York - em cujos números o algodão está mais caro depois de março do que agora - significam que o preço pode se manter estável daqui em diante.
"Apesar de uma produção recorde ser esperada, parece que os preços encontraram uma estabilidade. E, no Brasil, estão abaixo da média histórica", disse Alves. "Não há parâmetros para avaliar se haverá mais queda de preços", acrescentou.
Contexto mundial
O pesquisador lembrou que o mercado mundial de algodão está voltando a seu equilíbrio entre oferta e demanda. Com a crise financeira de 2008, a demanda por produtos têxteis se retraiu no globo e o produtor da fibra se afastou da produção, provocando queda abrupta nas cotações internacionais. "Em abril de 2009, o produtor brasileiro teve o menor nível de preço", afirmou.
A demanda só voltou a superar a oferta em 2010, "e essa tendência continuou". Em março do ano passado, na contramão do que havia acontecido dois anos antes, o preço do algodão chegou ao patamar mais elevado da história.
Alguns números citados por Alves ilustram bem o comportamento do mercado global: na safra de 2004/2005, havia no mundo 35,7 milhões de hectares com plantações de arroz, uma produção de 26,5 milhões de toneladas da fibra e consumo de 23,7 milhões. Três temporadas mais tarde (2009/2010), os dados mudaram para 30,1 milhões de hectares, 22,3 milhões de toneladas produzidas e 25,9 milhões de toneladas consumidas.
Na safra passada, tanto no mercado brasileiro como no mundial, "o produtor de algodão voltou para o mercado", segundo Alves. "Agora, a oferta voltou a prevalecer sobre a demanda".
Fibra chinesa
A China terá redução de 6,1% em sua área de plantação de algodão, neste ano, segundo uma projeção divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa de Algodão, ligado à Academia Chinesa de Ciências Agrícolas. Deverão ser colhidos 5,09 milhões de hectares no país.
Veículo: DCI