Os cerca de 43 milhões de brasileiros que passam, diariamente, por uma padaria estão acostumados a encontrar doceria, lanchonete, pizzaria e restaurante no mesmo lugar, além dos tradicionais café e pãozinho francês. Esse modelo de negócios é sui generis no mundo e a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), que reúne 64 mil estabelecimentos no país, responsáveis por um faturamento anual de R$ 63 bilhões, está pronta para exportá-lo. A típica padaria brasileira deve ser instalada primeiro em Xangai, onde já há empresários interessados no negócio.
Dentro de 30 dias, a Abip levará à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) um projeto que prevê a instalação de um show room permanente de padarias no exterior, começando pela China. "Será um espaço que vai funcionar como uma padaria comercial, vendendo produtos ao público, mas o principal objetivo é atrair empresários estrangeiros para o empreendimento, demonstrando como ele funciona na prática", diz Alexandre Pereira, presidente da Abip.
A associação pretende oferecer dois modelos de negócio aos interessados: uma padaria compacta, que custa em torno de US$ 500 mil, e reúne lanchonete e panificação, e um estabelecimento completo, incluindo refeições, cuja instalação gira em torno de US$ 1,5 milhão. Também ficará a cargo da Abip o treinamento dos padeiros. A ideia é vender uma franquia da padaria brasileira, que inclui mão de obra, fornecedores, maquinários e modelo comercial.
Do outro lado do mundo, os chineses da Centex, um dos maiores operadores logísticos da China, já estão dispostos a investir na ideia. "Eles têm planos ambiciosos, de abrir uma padaria em cada grande cidade chinesa", diz Adriano Izidoro, sócio do Crystal Group, voltado à importação e exportação de produtos, que tem entre os seus clientes a CNH-Fiat Industrial. O Crystal é parceiro da Centex no mercado chinês e também quer se tornar sócio do negócio de padarias no país.
"Há uma classe média emergente na China, ávida por novidades e a padaria é uma delas", diz André Dantas, sócio do Crystal Group. A empresa esteve em Xangai em novembro, durante a realização de uma feira de alimentos, a FHC China 2011. Foi lá que tanto a Abip quanto a Apex, que levou os empresários brasileiros, sentiram quanto o negócio da padaria tem apelo no país. "Os empresários da Centex já conheciam as padarias brasileiras, mas lá puderam conhecer mais detalhes do negócio e ficaram entusiasmados", diz Izidoro.
Mas os chineses só estão dispostos a investir se virem o modelo funcionando lá em Xangai. "Eles querem ter a certeza de que o sabor brasileiro de produtos típicos, como pão francês ou o pão de queijo, será transferido daqui para a China", diz Dantas. "Lá, o pão tem menos sal". Na China, assim como na Europa ou nos Estados Unidos, o pão é comprado principalmente em supermercados. Existem as "boulangeries" francesas e as "pasticcerias" ou "panetterias" italianas, mas que vendem só doces e pães.
A Abip e Associação Brasileira das Indústria de Equipamentos, Ingredientes e Acessórios para Alimentos (Abiepan), segundo Pereira, estão dispostas a investir no show room, mas também precisam do capital e do apoio da Apex, principalmente em relação a barreiras sanitárias na China, que tem restrição à importação de queijos, por exemplo.
Na opinião de Paulo Roberto Cavalcante, presidente da Abiepan, as padarias brasileiras tem um mercado potencial em vários outros países além da China. "Desde 2003, temos um projeto com a Apex de promover o maquinário e insumos de panificação no exterior", diz Cavalcante. A Abiepan elegeu oito mercados prioritários: Estados Unidos, México, Venezuela, Espanha, Emirados Árabes, Colômbia, Chile e Angola. "A China é um grande mercado, mas temos concorrência com os equipamentos vendidos no país, a um preço e a uma qualidade inferior à brasileira", diz o empresário, que ainda assim está interessado em participar do projeto com a Abip.
Veículo: Valor Econômico