A indústria alemã fez ontem um apelo à presidente Dilma Rousseff por uma parceria estratégica com o Brasil na área de matérias-primas, para garantir abastecimento mais estável, em meio à concorrência que se intensifica com a China, principalmente. Coube ao grupo siderúrgico ThyssenKrupp fazer uma exposição sobre o tema, em nome da federação das indústrias da Alemanha, em almoço com a presidente Dilma Rousseff e a primeira-ministra Angela Merkel, sobre a nova política alemã para matérias-primas, vista como oportunidade importante de negócios.
O Brasil tem deixado claro aos europeus que não fará aliança para continuar um mero exportador de matérias-primas. E cada vez mais o relacionamento bilateral passa por uma joint venture dos alemães com empresas brasileiras.
Os alemães dizem entender isso e sugerem um novo modelo envolvendo matérias-primas, dando como exemplo os investimentos da Thyssen no Rio. Ou seja, levar a tecnologia alemã para o Brasil, produzir localmente, agregar valor e exportar boa parte da produção para o mercado alemão. "Temos muito interesse em uma parceria estratégica com o Brasil em matérias-primas", disse Rafael Hadad, diretor do "Brasil Board" da federação das indústrias da Alemanha, que se encarrega de otimizar a relação com um dos emergentes com maior peso no mercado de commodities. A Alemanha fez recentemente um acordo de matérias-primas com a Mongólia, país rico em cobre, terras raras, carvão e ouro, e com o Cazaquistão.
Conforme estudo do Deutsche Bank, o aumento da população mundial e uma economia global que tende a se expandir vão aumentar a demanda por matérias-primas e assim o preço dos produtos se elevará no longo prazo. Para países industrializados, como a Alemanha, isso significa mais custos. De outro lado, mais acesso a consumidores com bons recursos. Mas o país precisará competir não apenas com os próprios produtores de commodities, como com a China e a Índia, cuja industrialização eleva o preço dos produtos.
Uma das razões pelas quais a Alemanha abre um novo capítulo sobre o tema é que o crescimento de países asiáticos e suas demandas enormes por matérias-primas foram subestimadas por um longo tempo, porque isso era visto mais como um fenômeno temporário.
A China prossegue com uma estratégia agressiva por mais acesso a recursos naturais. Os chineses hoje asseguram seu suprimento por meio de aquisições em todo o mundo, removendo assim boa parte da produção do mercado global. Para o banco alemão, "preços exorbitantes" vêm sendo cobrados pelos chineses para fornecer suas próprias commodities, como terras raras.
Veículo: Valor Econômico