As perdas - sejam por furtos, roubos ou produtos que tenham sido abertos ou quebrados nas lojas - chegam a se equiparar ao faturamento de um grande player supermercadista do País. Na soma de todos os setores presentes no mercado nacional, as perdas das redes varejistas somaram R$ 16,4 bilhões em 2010, o que representa 1,75% do faturamento total das 103 empresas participantes.
A surpresa é que os medicamentos são os produtos mais suscetíveis a fraudes e furtos, e representam 15% das perdas das redes farmacêuticas. Porém, segundo a pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), mesmo as farmácias sendo as que mais apresentam produtos furtados, no ambiente interno quanto no externo, as redes supermercadistas são as que mais perdem com um índice de 2,26%, seguida das lojas de material de construção com 1,81% e as drogarias com 0,52% da amostra.
Áreas como vestuário e outros segmentos, apontam 0,67% das perdas. Para Claudio Felisoni , presidente do Provar/Ibevar, as fraudes dos consumidores em pegar um produto da prateleira da loja, e levá-lo ao setor de troca causam grandes perdas às redes. "Como as redes não pedem o cupom fiscal da compra, alguns consumidores viram a oportunidade de lesar a empresa. Eles retiram a peça da arara e a levam ao setor de troca. Nesse local eles conseguem um voucher de troca e o repassa a terceiros". Felisoni diz que um grande player do setor foi lesado em R$ 50 mil com esse tipo de fraude.
Para Carlos Eduardo Gomes vice-presidente do Programa de Administração de Varejo (Provar/Ibevar), mesmo com as farmácias tendo os produtos de maior valor organizados atrás de balcões e funcionários que manuseiam os itens, os furtos ocorrem após esse atendimento. "O caminho entre o balcão e o caixa é o fator que pode explicar esse alto índice de perdas e furtos em medicamentos", diz que completa: "Não podemos esquecer os furtos que ocorrem na distribuição - fraude dos fornecedores - e dos funcionários das redes pesquisadas que podem desviar os medicamentos de alguma forma". No total, o varejo perde em torno de R$ 8 milhões ao ano apenas com furtos, em sua maioria não são informados à polícia e outras instituições competentes. Assim, as perdas chegam a se equiparar ao faturamento de uma grande rede supermercadista. "As perdas do varejo com furtos interno e externo, problemas de administração e com os profissionais que atuam nessas empresas, entre outros fatores, chegam a equivaler ao faturamento do Walmart do Brasil por ano", diz Felisoni. Ainda segundo o especialista em varejo, se a base de comparação fosse idêntica a dos Estados Unidos - em que o preço de venda é utilizado como referência - esses índices seriam ainda maiores. "No Brasil usamos o preço de custo para tirar a média das perdas, se fosse igual a dos EUA teríamos um prejuízo muito maior que esses R$ 16,4 bilhões", completa ele. Ainda com a experiência dos especialistas, um dos grandes fatores a ser levado em conta é que, muitas redes atuantes no mercado brasileiro, não têm a dimensão real dessas perdas. "É muito comum a empresa que insere em sua operação medidas preventivas e controles mais eficazes, se assustem em um primeiro momento, pois os índices de perdas com roubos e afins será enorme", explica Santos.
Mesmo o supermercado sendo o player com maior número de perdas, é o segmento que menos investe em segurança: 0,04% do faturamento líquido. As empresas de material de construção investem 0,08% e as farmácias em média 0,33% em equipamentos de segurança. Os especialistas quando questionados sobre esse pequeno investimento desses players supermercadistas, afirmaram que por vezes, as medidas inibidoras dessas perdas podem ser mais caras do que o próprio prejuízo. Outro ponto de destaque é que as redes presentes na pesquisa não repassam suas perdas ao consumidor final. "Como a inflação é mais estável, eles não precisam repassar suas perdas no preço dos produtos", diz Felisoni.
Veículo: DCI