Eduardo Garófalo não pode reclamar de desafios na carreira. Esse argentino descendente de italianos, formado em Economia e Administração, foi escalado pela Philip Morris no fim dos anos 90 para reconstruir a operação da companhia no Leste Europeu, depois da "crise do rublo", quando o sistema bancário russo entrou em colapso e congelou depósitos em moeda estrangeira. Há nove anos, deixou a Philip Morris e aceitou o convite da PepsiCo para a diretoria comercial da empresa na Colômbia, país que ainda sofria a pressão do narcotráfico e estava longe de atrair executivos do primeiro escalão.
Com esse histórico, Garófalo não considera exatamente uma dificuldade a sua nova missão: comandar a nova divisão da PepsiCo Brasil para biscoitos e cereais. Trata-se de um mercado que gira em torno de R$ 7 bilhões ao ano no país, mas que vem registrando queda em volume e crescimento pífio em valor. E a PepsiCo está pronta para investir pesado nele, a ponto de criar uma terceira presidência para a área. Desde 2007, o organograma da companhia no país estava dividido apenas em bebidas, cuja presidente é Andréa Álvares, e alimentos, tendo à frente Roberto Rios. O mercado americano, sede da PepsiCo, era o único a contar com três presidente locais, estrutura que agora começa a funcionar a partir de agora no Brasil.
"Isso mostra a nossa vontade de mergulhar fundo no negócio de biscoitos e entendê-lo, para chegar ao primeiro ou segundo lugar do setor", disse Garófalo ao Valor, em sua primeira entrevista no novo cargo. "Vamos triplicar de tamanho dentro de três anos", diz o executivo, que tem 48 anos.
Hoje, a divisão de biscoitos e cereais conta com seis fábricas e responde por vendas de US$ 500 milhões ao ano com três marcas: Mabel, Quaker e Eqlibri. Para o executivo, o setor de biscoitos não cresce no Brasil porque falta inovação. "A PepsiCo é dona da Gamesa, no México, que tem mais de 50% do mercado local e lá não faltam lançamentos dos mais diferentes tipos, que acompanham tendências como a da alimentação saudável".
Depois de comprar a goiana Mabel por cerca de R$ 800 milhões, a PepsiCo disputou a paulista Marilan e continua avaliando outras oportunidades. "Não desistimos da Marilan", avisa Garófalo. Segundo apurou o Valor, a fabricante de Marília (SP), a 450 quilômetros da capital paulista, não aceitou receber menos de R$ 600 milhões pelos seus ativos, que estavam sendo disputados por PepsiCo, Bunge, M. Dias Branco e Campbell. "Parte da família Garla aceitava vendê-la por um pouco menos, mas outra parte não queria e os controladores decidiram manter a operação", diz uma fonte. A oferta da PepsiCo, não revelada pela companhia, ficou entre R$ 500 milhões e R$ 550 milhões, apurou o Valor.
Se levasse a Marilan, a fatia da PepsiCo em biscoitos, que hoje gira em torno de 7%, saltaria para quase 13%, fazendo com que a empresa assumisse a vice-liderança, só atrás da M. Dias Branco, dona da Adria. Hoje, a múlti também tem à sua frente a Nestlé, a Kraft, a Marilan, a Bauducco e a Arcor.
Este ano, a multinacional vai investir US$ 45 milhões na modernização das cinco fábricas da Mabel e no aumento das linhas de produção. A PepsiCo, que antes terceirizava a fabricação de barrinhas de cereais e biscoitos tipo "cookies", passa a produzir estes itens na sua unidade fabril de Sorocaba (SP). "A veia de crescimento da marca Quaker está em produtos de maior valor agregado, como barrinhas e biscoitos, uma vez que o cereal é commodity", diz Garófalo.
Outros R$ 30 milhões estão sendo aplicados em logística e merchandising, para fortalecer a imagem das três marcas - Mabel, Quaker e Eqlibri - em quase 200 mil pontos de venda (PDVs) no Brasil. "Nossa meta é atingir 450 mil PDVs no país dentro de três anos", diz o executivo. O plano é fazer com que as marcas Quaker e Equlibri, hoje bem distribuídas nas grandes redes do Sul e no Sudeste, ganhem o Nordeste e o Centro-Oeste do país e também os pontos de venda de menor porte. O Norte, Nordeste e Centro-Oeste são a fortaleza da marca Mabel, que deve conseguir maior relevância, por sua vez, nas grandes redes de varejo do Sul e Sudeste. "Vamos aproveitar os nossos 140 distribuidores no país e expandir cada marca em diferentes regiões", diz ele.
A Mabel vai ser a marca mãe de toda a categoria e continuar focada na classe média. O nome pode ser alvo de campanha de marketing na segunda metade do ano, apresentando novos produtos. Já Eqlibri, de biscoitos saudáveis, está sendo reposicionada para o público feminino e deve chegar mais forte no pequeno varejo. Quaker procura ser uma marca mais acessível, com a diminuição do preço médio das barrinhas, que caiu de R$ 2 para R$ 1,50, em média.
Em 2011, a PepsiCo faturou US$ 1,5 bilhão no país. Hoje, o Brasil é o quinto maior mercado da múlti no mundo, depois de EUA, México, Inglaterra e Rússia. "Há dez anos, o Brasil nem existia no mapa da PepsiCo, apesar de a empresa ter desembarcado no país em 1953", diz Garófalo, que estava na vice-presidente de alimentos da companhia para América do Sul e Central. A área, comandada por Olivier Weber, fatura US$ 4 bilhões ao ano.
Veículo: Valor Econômico