Após um início de ano ainda sob efeito da desaceleração das vendas, a Riachuelo viu seu faturamento nas lojas abertas há mais de 12 meses voltar a crescer no patamar de dois dígitos em março, segundo o presidente da companhia, Flávio Rocha.
Para o executivo, o quarto trimestre do ano passado, quando as vendas da companhia avançaram apenas 1,3%, foi o "fundo do poço" da curva de desaquecimento do setor de vestuário que começou a se desenhar a partir do Dia dos Pais.
O ritmo mais lento do fim do ano passado se manteve no começo de 2012 para Renner, Marisa e Hering. Na Guararapes, os meses de janeiro e fevereiro também se mostraram "desafiadores". Mas com a recuperação em março, Rocha disse a investidores e analistas na sexta-feira que espera encerrar o trimestre com crescimento de "um dígito robusto".
O sinal de retomada do setor de vestuário dado pela Riachuelo deve ser analisado com ponderação. Pode refletir a melhora do cenário para o consumidor, puxada, por exemplo, pelo reajuste do salário mínimo. Analistas ouvidos pelo Valor comentam que o desempenho mais forte no fim do trimestre também pode estar ligado ao efeito calendário. No ano passado, o Carnaval foi em março e, este ano, em fevereiro.
Em conversa com o Valor, Túlio Queiroz, diretor financeiro Guararapes, garante que o efeito calendário não é o principal motivo da retomada. "O movimento mais forte veio na segunda quinzena", disse. Ele atribuiu o melhor desempenho ao sucesso da coleção da estilista Juliana Jabour e ao início das vendas dos produtos de inverno.
Para a Riachuelo, o aumento nas vendas tem um peso particular. Este ano, a rede conclui seu processo de reposicionamento no setor, iniciado em 2006 e intensificado a partir de 2009. "O marco é agora", diz Flávio Rocha.
Na prática, a Riachuelo passou a oferecer produtos de maior valor agregado, na tentativa de acompanhar as novas exigências de uma consumidora com renda maior e mais acesso à informação. "O foco da nossa companhia continua sendo a classe C. Mas a classe C não é mais homogênea", diz Rocha.
Entre 2006 e 2011, o preço médio das mercadorias da Riachuelo subiu 50% e a margem bruta avançou de 46% para 53,1%.
O modelo que inspira a companhia é adotado pela espanhola Zara e pela sueca H&M. Ambas operam com margem bruta em torno de 60%. Esse patamar é possível, segundo Rocha, graças à integração da cadeia. O foco da Guararapes é tirar o máximo proveito dos campeões de vendas nas lojas, dispondo de uma estrutura logística eficiente.
Com investimento de R$ 300 milhões, a prioridade da Riachuelo, este ano é a abertura de lojas, em detrimento das reformas. No ano passado, dos R$ 306 milhões investidos, R$ 107 milhões foram para remodelação de 17 unidades. Este ano, a companhia quer reformar duas lojas e abrir outras 30. Em 2011, foram 22 inaugurações.
Veículo: Valor Econômico