No domingo, a maioria dos ovos de Páscoa que serão abertos no Brasil terá a mesma origem, a fábrica de chocolates da Kraft Foods de Curitiba (PR). Dela saíram nos últimos meses 27 milhões de ovos, 8% mais que no ano passado. A empresa é líder em vendas de itens de Páscoa há 15 anos e, em 2011, foi responsável por 37% do volume comercializado no país, de acordo com a Nielsen.
Já não há a movimentação dos 1,2 mil empregados contratados de agosto a março - além dos 4 mil regulares - para produzir ovos de chocolate. Mas esta fábrica, inaugurada há 10 anos, é a maior da Kraft no mundo desde março deste ano, quando ultrapassou a unidade na Inglaterra. Com sede nos Estados Unidos, a Kraft é a segunda maior empresa de alimentos do mundo, atrás da suíça Nestlé.
O plano traçado para a fábrica de Curitiba no começo de 2011 já mostrava a possibilidade de alcançar a liderança dentro da companhia. O movimento de virada ocorreu com a expansão realizada em 2007 e 2008, com investimentos de US$ 50 milhões, que elevaram a capacidade em 40%. Desde que a fábrica começou a funcionar, em 2001, até agora, a produção foi multiplicada em quatro vezes.
"Temos uma folga considerável e vai ser difícil nos passar", diz Fernando Fiorini, diretor de desenvolvimento de negócios, gerente da fábrica até dezembro. É engenheiro mecânico e diz ter chocolate correndo nas veias. Não é o único.
Lucinda Cordeiro Verdelho, que passa os dias na linha de bombom Sonho de Valsa, está há três meses na Kraft e foi efetivada depois de atuar como temporária para a Páscoa de 2012. "É uma tentação viver no meio de tanto chocolate", diz.
Ao todo, a fábrica tem 4 mil empregados e dela saem 60 produtos da Lacta - a marca que lidera o mercado de chocolates no país. Grande parte do trabalho é feito por máquinas. O cheiro pelos corredores é doce e, por todos os lados, esteiras levam produtos cobertos com chocolate ou já embalados, prontos para o consumo. Logo na entrada, o visitante avista as linhas de Bis. Placas de wafer recebem cobertura e 420 unidades são embaladas por minuto.
Há sacos de amêndoas e flocos de arroz e equipamentos chamados de dosadores, que despejam chocolate ao leite sobre bombons. Um dos processos mais complicados é o do Confeti, as pastilhas que têm sete cores. Elas recebem uma cera e ficam girando dentro de uma máquina, a drageadeira, para ganhar brilho com o atrito de umas com as outras. É nessa linha que trabalha José de Almeida. "Confeti é um dos produtos de que mais gosto", diz ele, que está prestes a ser pai pela primeira vez e espera que o filho goste de chocolate tanto quanto ele.
A Kraft não revela quanto consome de açúcar, de cacau e de leite e nem os preços que vem pagando por esses insumos. Sabe-se que, depois de altas expressivas ao longo de 2011, as cotações de açúcar e cacau baixaram, mas o leite continua em alta. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), os ovos de Páscoa vendidos no varejo nacional estão mais caros neste ano, com altas de 7,09% a 10,36%, dependendo do tamanho, em relação ao preço médio cobrado em 2011.
A Kraft faz chocolates no Brasil em Curitiba e em Vitória de Santo Antão (PE), onde inaugurou uma unidade no ano passado. A empresa comprou a fabricante de chocolates Lacta em 1996 e, em 2001, numa consolidação da operação, passou a produzir na capital paranaense. O processo envolveu o fechamento de três unidades em São Paulo, a venda de outra no mesmo Estado e o fechamento também na Argentina, onde era feito o chocolate Milka (hoje importado do Brasil). "Ela nasceu com um tamanho bom para competir entre as cinco maiores", diz Fiorini.
O complexo industrial erguido no Paraná, que inclui uma fábrica de queijos e uma de produtos em pó, foi inaugurado pelo, então, presidente Lula em agosto de 2003. Questionado se há novos investimentos previstos para a unidade, Fiorini diz que ainda há espaço para crescer com a mesma estrutura, mas acrescenta que investimentos são feitos continuamente e devem acontecer também em 2012.
Veículo: Valor Econômico