Argentina quer fazer pequeno produtor vender para o Brasil

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Cerca de 580 empresários argentinos em pelo menos dois voos fretados da Aerolineas Argentinas devem mostrar hoje em São Paulo, em um encontro com empresários brasileiros na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que a balança do poder de decisão no país vizinho mudou em questões comerciais. Enfraquecida, a ministra da Indústria, Débora Giorgi, não é mais o interlocutor preferencial do setor privado no Brasil. O esvaziamento da ministra também retira peso político do atual presidente da União Industrial Argentina (UIA), Ignacio Mendiguren, que congrega os principais conglomerados do país.

Cresce o poder do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, e com ele, de pequenos e médios empresários e grupos econômicos até agora inteiramente voltados para o mercado interno. Moreno é o principal operador das barreiras comerciais informais em vigor na Argentina que foram a maior razão para a retração de 7,7% no fluxo comercial entre os dois países nos primeiros quatro meses deste ano, com queda de 9,5% nas exportações brasileiras e de 5% nas vendas argentinas.

Em sua rápida passagem por São Paulo, o secretário deve transmitir o recado que o governo argentino pretende intensificar e mudar a política informal de compensação de importações chamada na Argentina de "uno por uno", pela qual um importador deve gerar ao país a mesma quantidade de dólares em vendas para cada operação que realiza. Até o momento, esta política pouco eficaz (em termos de balança comercial) estava direcionada ao importador. Agora, os exportadores brasileiros serão incentivados a procurar fornecedores argentinos.

"O governo decidiu ser mais agressivo para encontrar a fórmula ideal de ida e volta. Vamos trabalhar na consolidação de fornecedores argentinos para a produção comprada no Brasil, por meio de consórcios. Já estamos avançando neste sentido no setor automotivo", disse um dos integrantes da comitiva, Guillermo Gomez Galiza, presidente da Confederação Geral Empresária da Argentina (CGERA), para quem Moreno deverá deixar claro que, com a existência de compras compensatórias, a Argentina normalizaria as importações do Brasil. "A ninguém interessa parar fábricas por falta de matéria-prima", disse.

A CGERA é uma entidade criada durante a primeira presidência de Juan Domingo Perón, nos anos 50. Desde a morte de seu principal inspirador, o ex-ministro da Economia José Ber Gelbard, em 1977, perdeu importância. Hoje Moreno tenta revitalizá-la direcionando para a entidade empresários que não se ajustam à UIA, entidade da qual Débora Giorgi foi assessora no passado e com quem ainda mantém forte relação.

O anfitrião de hoje, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, esteve em Buenos Aires em fevereiro, ocasião em que se encontrou tanto com Moreno quanto com Débora Giorgi. Na ocasião, Skaf surpreendeu pelo tom moderado e pela defesa de um processo de substituição de importações em que a indústria brasileira privilegiasse a Argentina em detrimento de fornecedores alheios ao Mercosul. A reunião de hoje foi agendada na época.

As políticas protecionistas na Argentina ganharam força nos últimos três anos, incentivadas pela ministra da Indústria e com apoio das entidades patronais, mas a partir do ano passado aumentou a apreensão do governo argentino com a geração de superávit comercial como forma de repor as reservas internacionais, diminuídas pelo pagamento de dívidas e pela fuga de capitais. Logo após sua reeleição, a presidente Cristina Kirchner centralizou na órbita de Moreno a área de comércio exterior, retirando o setor do organograma do Ministério da Indústria e passando-o para o de Economia.

Nas últimas semanas, seis assessores diretos da ministra, inclusive o secretário da Indústria, Eduardo Bianchi, pediram demissão. Embora formalmente secretário do Comércio Interior, Moreno tornou-se na prática a principal autoridade no comércio exterior desde 1º de fevereiro. A liberação dos pedidos de importação das Declarações Juradas depende de sua autorização. Sua estreia na promoção de exportações aconteceu em março, quando comandou uma comitiva de 300 empresários a Angola, país com quem a Argentina mantem poucos vínculos comerciais.

Entre os integrantes da comitiva a Angola não houve espaço para os grandes grupos argentinos, como o siderúrgico Techint ou os de alimentos Arcor e Sancor. Estavam produtores médios e fabricantes de roupas que vendem peças baratas em mercados de rua, mas o tamanho da missão foi considerado uma demonstração de força, que deve ser superada em São Paulo.

O diretor-titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Fiesp, Roberto Giannetti, prevê engarrafamento na avenida Paulista com os 15 ônibus da delegação argentina. Segundo Giannetti, os empresários paulistas concluíram que, em lugar de retaliar a Argentina pelas barreiras comerciais, o melhor é "o caminho da cooperação". "Claro que esperamos algum tipo de reciprocidade", disse ele.



Veículo: Valor Econômico


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