O oeste de Santa Catarina, conhecido pelas criações de suínos e aves, tem na pecuária leiteira sua mais nova vocação. Cerca de 70% do leite produzido no Estado, 1,8 bilhão de litros por ano, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são provenientes dessa região, que há oito anos respondia apenas por 30% da produção estadual. Santa Catarina ocupa o sexto lugar no ranking do país, e registrou crescimento de 8,2% em sua produção leiteira no ano passado, de acordo com o IBGE.
Na avaliação de Nelton Rogério de Souza, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), uma série de fatores beneficia a região, como clima ameno para animais de raça holandesa, boa formação de pastagens e 80% das propriedades enquadradas na agricultura familiar. "Representa a garantia de mão de obra, um custo elevado para a atividade".
O novo perfil da região se reflete no investimento de empresas, como é o da Cooperativa Central Oeste Catarinense-Aurora, conglomerado agroindustrial sediado em Chapecó, que pertence a 13 cooperativas agropecuárias. Há dois anos, a Aurora inaugurou uma fábrica própria em Pinhalzinho, com investimento de R$ 180 milhões e capacidade para 2 milhões de litros por dia, que se transformam em leite em pó, longa vida, queijos e soro.
Segundo o presidente Mário Lanznaster, a cooperativa entrou no mercado de lácteos a pedido dos próprios cooperados, que enxergaram no leite uma boa fonte de renda. O preço recebido pelos produtores na região está em torno de R$ 0,75 por litro. "Falta leite no Brasil. Por isso importamos tanto do Uruguai", diz Lanznaster. Marcos Zordan, diretor de agropecuária da Aurora, reforça que os produtores foram treinados a investir em pastagens, manejo, inseminação artificial, para que mudassem o perfil da pecuária local. "A produção dobrou, e a média do produtor é de 1600 litros por mês", informa.
Há um ano, o laticínio Piracanjuba inaugurou uma fábrica em Maravilha - a única fora de Goiás, sede da empresa -, que recebeu investimentos de R$ 35 milhões e tem capacidade para processar 450 mil litros por dia, com previsão de chegar a 1,2 milhão em 2015. A unidade respondeu por 8% do faturamento da empresa, que foi de R$ 802 milhões em 2011. Segundo o diretor Luiz Magno, a instalação no oeste catarinense foi estratégica para a empresa ter um "pé" no Sul do país. "A região faz divisa com o sudoeste do Paraná e noroeste do Rio Grande do Sul, que são importantes bacias leiteiras", explica. Juntas, as produções dos três Estados somam cerca de 7,4 bilhões de litros, superior aos 5,6 bilhões de litros de Minas Gerais, líder no ranking nacional.
Na avaliação de Nilton Rogério de Souza, "está em formação um novo polo de leite no país". Seu otimismo não diminuiu nem com a seca que afetou o Sul e fez com que a produção recuasse 17%, nas suas contas. "É hora de darmos um passo à frente e pensarmos em pastagens irrigadas", prevê.
Veículo: Valor Econômico