O município de Três Pontas, no Sul de Minas, está com situação de emergência decretada há uma semana em função dos efeitos climáticos - seca e chuvas de granizo - que atingiram os cafezais nos últimos dois anos. Segundo o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Três Pontas, Amador José Alves, até o final desta semana mais cinco ou seis municípios deverão engrossar este cenário crítico.
De acordo com o dirigente, os cafeicultores da região estão enfrentando uma situação desfavorável e o clima na região não está ajudando, com os cafezais sentindo os reflexos da estiagem prolongada em 2007. "O município conta com algo entre 25 mil e 27 mil hectares plantados que deveriam gerar cerca de 700 mil sacas do grão nessa safra cheia. Porém, a produção não chegará a 400 mil sacas", advertiu.
Além de Três Pontas, municípios como Campos Gerais, Boa Esperança, Coqueiral, Santana da Vagem, Nepomuceno, Três Corações, Varginha e Carmo de Minas estão enfrentando o mesmo problema. De acordo com o dirigente, a seca entre março e outubro de 2007, aliada a altas temperaturas no período ideal para a formação dos grãos, prejudicou demais a cultura cafeeira.
Nesse intervalo, houve falta de água em um período crucial para os cafezais. As chuvas, por sua vez, atrasaram e o reflexo ocorreu na florada, atrapalhando a vida vegetativa do grão, explicou. "De acordo com a altitude da área e o tipo de terreno, o percentual de quebra na produção variou entre 30% e 50%. Devido à bianualidade, a safra que seria cheia não se confirmou", lamentou.
Desemprego - Aliado a esse problema, os preços do café defasados no mercado junto com custos com mão-de-obra e insumos agora representam as maiores dificuldades para os produtores em manter os empregos na atividade. "Desde o início da safra, só se fala em demissões. Em Três Pontas o número de pessoas que perderam seus empregos gira em torno de 2 mil, apenas na cafeicultura", destacou.
Em 2008, a florada das plantas começou no período natural mas, com a colheita do ano anterior atrasada, os grãos foram colhidos junto com a florada, situação que poderá gerar muitas perdas de produção para a safra seguinte. "Para agravar ainda mais o cenário, o município sofreu impactos com a chuva de granizo em setembro passado", complementou.
A principal reivindicação dos produtores é que o governo suspenda os pagamentos de dívidas por dois anos para que consigam sobreviver com a atividade, explicou Alves. "O governo federal liberou uma verba de R$ 90 milhões para ajudar os produtores que sofreram com o granizo mas quem sofre até hoje com a estiagem não está sendo beneficiado de forma alguma", reclamou.
Enquanto o impacto com a chuva de granizo é grande, a seca por outro lado também prejudica muito a planta. "Com alguma chuva o cafezal consegue recuperar um pouco, mas a produção fica comprometida. necessário ajuda para que os cafeicultores possam enfrentar esse cenário de seca. Precisamos de políticas públicas que proporcionem renda para o setor", destacou.
De acordo com o dirigente, a cafeicultura não é uma atividade de apenas calcular custos. Muitos produtores não têm como competir com grupos compradores que cada vez mais pagam menos pelo produto, afirmou. "Precisamos de apoio pois crise como essa na cafeicultura jamais foi imaginada. Enquanto os custos de produção giram entre R$ 280 e R$ 320, de acordo com o grau de mecanização utilizado, os preços estão em torno de R$ 260 por saca", comparou.
Veículo: Diário do Comércio - MG