O Coeficiente de Importação e Exportação (CEI) divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostrou que a participação de mercadorias importadas no consumo brasileiro voltou a atingir o nível recorde da série história, ao fechar o segundo trimestre do ano em 24%. O patamar havia sido alcançado anteriormente no quarto trimestre de 2011.
Na comparação com o mesmo período de 2011, o aumento foi de 1,2 ponto percentual. Quando comparado ao trimestre imediatamente anterior, o Coeficiente de Importação (CI) da indústria geral apresenta alta de 1,5 ponto.
O diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Fiesp, Roberto Giannetti, afirmou que como os efeitos do câmbio, que atualmente está no patamar de R$ 2 por dólar, demoram de três a seis meses para serem sentidos, a importação compensava mais para atender a demanda interna. "A valorização do câmbio aconteceu mais entre maio e junho, o que significa que a tendência é da importação cair nos próximos meses. O que pode gerar questionamentos se isso pode favorecer a competitividade da indústria. Acredito que sim", diz.
Segundo ele, porém, com o dólar cotado a R$ 2, a competição com a China continua forte, possibilitando a importação dos produtos do país asiático. "Um câmbio mais satisfatório estaria em torno de R$ 2,20 a R$ 2,30 para elevar a competitividade dos produtos brasileiros", avalia.
Com relação à competição com a China, o embaixador Luiz Augusto de Castro Neves endossa a opinião do diretor do Derex. "Evidente que o câmbio favorece a quedas das importações, mas, paralelamente, com a globalização da economia mundial, para até mesmo gerar competitividade ao processo industrial, o dólar muito valorizado pode encarecer o produto nacional", diz ele, ao se referir à necessidade de aquisição de insumos pelos brasileiros para a produção de maior qualidade e valor agregado.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as importações podem até ter uma leve queda nos próximos meses, com a tendência de aumento da atividade econômica. "Mas com esse câmbio não significa que as importações vão diminuir", afirma.
Giannetti comenta que o fundamental para fazer com que a indústria não perca competitividade ao longo deste ano e nos próximos é manter a desoneração da folha de pagamento e prorrogar as medidas dentro do Plano Brasil Maior. "O câmbio valorizado e o Brasil Maior fazem a diferença", entende.
Setores
De acordo com a Fiesp, o coeficiente de importação apresentou alta em 21 dos 33 setores analisados. Destaque para o setor de tratores, máquinas e equipamentos para agricultura, cuja participação dos importados atingiu o terceiro maior nível da série histórica, crescendo de 46,1% no segundo trimestre de 2011 para 54% no mesmo período de 2012.
Dos 12 setores que mostraram retração, peças e acessórios para veículos automotores e outros equipamentos de transporte registraram as maiores quedas ante ao mesmo período de 2011 (2,7 p.p. e 2,5 p.p., respectivamente).
Exportação
Em relação às exportações, a participação das vendas externas na produção total da indústria geral cresceu de 19,9% para 20,5%, na comparação entre os três primeiros meses de 2011 e os de 2012.
Apesar da leve alta do CE no segundo trimestre, houve queda na quantidade de produtos brasileiros enviados para o exterior. Giannetti explica que, com a queda mais intensa da produção física da indústria, a quantidade exportada permaneceu a mesma, à medida que a fatia enviada ao mercado internacional ficou, proporcionalmente, maior em relação ao total produzido.
"A diminuição da indústria dá uma falsa impressão de que estamos exportando mais. Apesar do acréscimo na parcela exportada da produção industrial no segundo trimestre, houve queda da quantidade exportada", conta. "Por outro lado, a contração ainda mais forte da produção industrial no período puxou o coeficiente para cima", observa.
Dos 33 setores analisados pelo coeficiente de exportação, 12 apresentaram alta em relação a 2011. Destaque para o de ferro-gusa e ferroligas e o de aeronaves, cujos coeficientes de exportação se elevaram 14,6 p.p. e 10,8 p.p., respectivamente.
Já entre os 21 setores que apresentaram queda no CE, o setor de outros equipamentos de transporte registrou a maior baixa em bases anuais (24,2 p.p.).
Com relação à tendência para as exportações, o vice-presidente da AEB acredita que os preços devem reduzir 7% neste ano, por conta das quedas já observadas em soja, algodão, café entre outros produtos. "De qualquer forma, o cenário [da balança comercial] não é positivo para o Brasil."
Veículo: DCI