Mesmo endividado, o consumidor belo-horizontino ainda prefere comprar a prazo. A afirmativa é comprovada pelo Balanço do Crédito do Comércio Varejista de Belo Horizonte, divulgado na sexta-feira pela Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas). Conforme o estudo, as compras realizadas com cartões de crédito, cheques pré-datados e boletos somaram, em julho, 69%, crescimento de sete pontos percentuais na comparação com o mês imediatamente anterior. Com isso, as compras à vista no cartão de débito, dinheiro e cheque correspondem por 31% das transações.
Do total, o cartão de crédito detém, de longe, o maior percentual, 72%. Apesar do índice elevado, o número é menor que o de junho, quando 78% dos consumidores quitavam suas compras usando o "dinheiro de plástico". Em contrapartida, o cartão de crédito das próprias lojas e os boletos bancários registraram aumento no uso em julho, passando a atingir 8% e 7%, respectivamente.
Segundo o supervisor de Pesquisa da Fecomércio Minas, Eduardo Dias, o aumento está relacionado às liquidações nas lojas de departamento, estabelecimentos que costumam oferecer seus próprios cartões de crédito ao cliente. As promoções acontecem tradicionalmente em janeiro e julho, pois, por se tratar de períodos sem datas comemorativas, é necessário reduzir os preços para manter os negócios em alta. Já sobre os carnês, Dias ressalta que a modalidade encontra, ainda, um público leal, formado principalmente pelas classes D e E.
Os cheques pré-datados corresponderam, mês passado, por 13% das vendas a prazo. Embora o índice de julho se mantenha estável frente ao de junho, o percentual representa a metade do que foi registrado em janeiro de 2010, quando a taxa era de 26%. Dias enfatiza que o declínio no uso dessa forma de pagamento se explica pelo fato de que muitas empresas, com medo dos calotes, pararam de aceitar os cheques, favorecendo, dessa maneira, o cartão de crédito, mais prático e seguro tanto para o consumidor, quanto para o lojista.
Estratégia - A estratégia de evitar o aceite dos cheques, utilizada por 69% dos entrevistados, para não contabilizar prejuízos parece surtir efeito segundo os dados apurados pela Fecomércio Minas. Isso porque, desde maio deste ano, o índice que mede o recebimento dos cheques sem fundo se mantém em 2%. Em março do ano passado, a taxa chegou a ser ainda menor, de 1%. Na outra ponta, o dado atingiu seu ápice, 12%, em janeiro de 2009.
O comércio varejista aposta, ainda, em outras ações, a fim de evitar perdas ao comercializar a prazo. Dentre elas, merece destaque a utilização de cadastro de clientes, 16%; priorização do uso de cartão de crédito, 7%; e aceite de cheques apenas para clientes fidelizados e capacitação da equipe de funcionários, ambos com 4%.
Com isso, entre os entrevistados, nenhum deles afirmou não ter recebido os valores referentes às vendas a prazo, em julho. O dado sinaliza que as taxas de inadimplência da pessoa física podem retrair nos próximos meses. Conforme a Pesquisa de Endividamento do Consumidor (PEC), também da Fecomércio Minas, o índice de inadimplência do consumidor registrou recuo de 0,7 ponto percentual na passagem de junho para julho, chegando aos 5,8% mês passado.
Para Dias, a tendência é que, pelo menos até dezembro, a curva da inadimplência continue descendente. Segundo o especialista, em decorrência da aproximação do Natal, mais pessoas buscam quitar débitos pendentes, com o objetivo de aliviar o orçamento e ter mais acesso ao crédito, para comprar mais para as festas de fim de ano. "Além disso, no segundo semestre, observamos que uma parcela maior da população está disposta a gastar, devido, também, ao recebimento do 13º".
Veículo: Diário do Comércio - MG