Ao lado do frango, o iogurte é considerado símbolo do aumento do poder de compra da população. Nos últimos sete anos, a demanda per capita continuou em alta e deu um salto de 41%, para 6,5 kg por pessoa em 2011. Para a líder Danone, no entanto, o brasileiro ainda encara o produto como "artigo de luxo", nas palavras do presidente da empresa no país, Mariano Lozano. Por isso, a multinacional francesa, que já tem 30% do seu portfólio formado por itens que custam menos de R$ 1, está empenhada em tornar a categoria mais acessível.
A fábrica da Danone em Poços de Caldas (MG) está recebendo investimentos de R$ 50 milhões para iniciar a produção de um formato inédito no país: a garrafa PET de 1,350 litro. Até agora, o maior formato da Danone era o da garrafa de 900 ml e, no mercado, quem apresentava a maior embalagem era a Vigor, com 1 litro de iogurte. "Queremos oferecer uma garrafa maior, a um custo por porção menor", afirmou Lozano ao Valor.
A nova linha de produção vai aumentar em 50% a capacidade de fabricação de iogurtes líquidos da Danone - cerca de metade do consumo brasileiro está nos iogurtes líquidos e, a outra metade, nos cremosos. A fornecedora Graham Packaging introduziu uma nova tecnologia de sopro de embalagens, que passam a ser produzidas dentro da fábrica da Danone em Poços de Caldas. Com o novo conceito, o peso das embalagens é reduzido e, consequentemente, há diminuição das emissões de gás carbônico, outra preocupação da multinacional, diz Lozano. Entre 2010 e 2012, a Danone mundial se comprometeu a reduzir em 30% as emissões de gases do efeito estufa. "O Brasil já conseguiu reduzir em 35%", diz.
No início de outubro, o primeiro produto em PET de 1,350 litro será o Activia, com preço sugerido entre R$ 8,49 e R$ 8,99. A porção de 100 ml da garrafa PET será até 14% menor que o da embalagem de 900 ml do Activia. Com isso, Lozano espera fazer com que a média de consumo no país vá bem além de um iogurte por semana.
"Na Holanda, onde o consumo é de praticamente um iogurte por dia, o índice é de 34 kg per capita ao ano, mas mesmo aqui perto, na Argentina, o índice é muito maior: 15 kg por pessoa ao ano", diz Lozano, um argentino que está há 12 anos na Danone e assumiu a direção da empresa no Brasil há três anos, depois de passar pelas subsidiárias da Eslováquia e da África do Sul. "Nosso ideal é que o iogurte faça parte da cesta básica do brasileiro", diz o executivo.
O Brasil é o quarto maior mercado da multinacional, depois de Estados Unidos, França e Espanha. "Brincamos internamente que, até 2015, seremos maiores que a Espanha", afirma Lozano, ressaltando que o faturamento da Danone no Brasil está a "algumas poucas centenas de milhões" de distância da Espanha. No país, afirma, a Danone não registra desaceleração nas vendas e vem crescendo 15% ao ano.
Em 2012, o investimento em bens de capital (capex) se manteve igual ao de 2011 e 2010, em torno de R$ 100 milhões. Mas, a partir de 2013, esse montante deve aumentar, afirma Lozano. "A fábrica que inauguramos em 2010 no Ceará, em Maracanaú, já está perto da capacidade total", diz o executivo. No mundo, a Danone é dona de 47 fábricas, duas delas no Brasil. A de Poços de Caldas é a terceira maior do grupo, só atrás de unidades industriais do México e dos Estados Unidos.
Além de aumentar a capacidade de Maracanaú, é possível que o aumento do capex da Danone em 2013 seja usado em novos produtos. A empresa costuma fazer grandes lançamentos a cada dois anos. Em 2009, a empresa presentou a marca Actimel, quando passou a disputar o segmento de leite fermentado. Em 2011, foi a vez de apresentar Densia, um iogurte sem gordura que supre 50% das necessidades diárias de cálcio.
Com as investidas, a Danone procura diminuir a dependência do o Activia, iogurte que garante auxiliar no funcionamento regular do intestino e que se tornou o carro-chefe da companhia no país. Lozano afirma que essa meta vem sendo cumprida. "Há quatro anos, o Activia representava 50% das vendas, hoje, responde por 30%", diz o executivo.
O mercado de produtos lácteos frescos (iogurtes, leite fermentado e petit suisse) movimentou R$ 5 bilhões no Brasil em 2011. Desse total, a participação da Danone é de 38%. A segunda colocada, Nestlé, tem cerca de 19%, apurou o Valor.
No Brasil, empresa resiste ao grego, sucesso nos EUA
A Danone investiu US$ 220,6 milhões em publicidade no ano passado, segundo o Ibope. O montante a coloca entre os 40 maiores anunciantes do país. Mas Mariano Lozano, presidente da empresa no Brasil, diz que gostaria de dividir essa exposição com outros competidores. "Oitenta e cinco por cento dos investimentos em mídia da categoria iogurtes são feitos pela Danone", diz ele. "Quem entrar anunciando qualquer produto será bem-vindo, é um impulso para o consumo da categoria".
A rival Nestlé resolveu "ajudar". Este mês, a fabricante levou ao ar uma campanha nacional, pela Rede Globo, para anunciar o seu iogurte grego. A categoria foi inaugurada no país em julho, pela Nestlé e pela Vigor. As empresas ainda não fornecem dados sobre o desempenho do produto mas, segundo a Nestlé, "superou as expectativas". Nos Estados Unidos, a venda de iogurte grego representa 22,8% do consumo e já ultrapassou a demanda por iogurte light.
Lozano desconversa quando o assunto é lançar o iogurte grego no Brasil. Nos EUA, a sua marca a Dannon Oikos é a terceira em vendas do segmento. Segundo Lozano, trata-se de um produto 100% proteína, sem gordura, diferente das fórmulas lançadas no Brasil, "que têm muita gordura", alfineta.
A diretriz mundial da Danone é fornecer produtos de apelo saudável - por isso a empresa saiu dos biscoitos em 2007, quando vendeu a divisão para a Kraft. Dois anos depois, em 2009, morreu Daniel Carasso, filho do fundador da Danone, aos 103 anos. Seu segredo? Tomar um iogurte por dia. O nome Danone foi inspirado nele: na Catalunha, "Danon" é apelido de Daniel. (DM)
Veículo: Valor Econômico