A fabricante japonesa de produtos eletrônicos Panasonic inaugurou ontem sua primeira fábrica de eletrodomésticos na América Latina, em Extrema (MG). A unidade já está produzindo geladeiras e inicia em abril de 2013 a manufatura de máquinas de lavar. A companhia estuda também a nacionalização da produção de condicionadores de ar. Com a entrada no segmento de linha branca, a empresa expande seu público-alvo à classe média emergente, mudança que deve ser estendida no futuro aos produtos de linha marrom.
Com investimento de R$ 200 milhões em uma área construída de 46 mil m², que criará 400 empregos, a Panasonic planeja produzir 500 mil refrigeradores e 300 mil lavadoras em três anos. "Em refrigeradores, a produção será de 30 mil unidades este ano, 130 mil em 2013, chegando a 350 mil no ano seguinte. A capacidade instalada é para essas unidades, mas é possível expandir, pois a área total da planta é de 170 mil m²", afirma o diretor-operacional da planta, João Daniel. O retorno do investimento é esperado para 2015, relata o executivo.
Até o fim de 2013, a fabricante planeja colocar no mercado 36 novos produtos de linha branca, entre geladeiras, máquinas de lavar e micro-ondas - estes, fabricados em Manaus (AM). Como a base de comparação é pequena, a projeção de crescimento de vendas da empresa para 2013, ante 2012, é de 590% em refrigeradores e de 550% em lavadoras. "Queremos atingir um market share de 10% em ambas as categorias até 2015", diz o gerente de Produtos de Linha Branca, Sergei Epof.
A produção da empresa em Extrema tem início com o refrigerador NR-BB51P, que tem capacidade de 423 litros e consumo de energia 33% menor do que o mínimo exigido para obtenção do selo A de eficiência. O produto chega ao mercado com valores entre R$ 2,89 mil para acabamento branco e R$ 3,09 mil para aço escovado. O NR-BB51P pertence à categoria frost free, a mais sofisticada entre os refrigeradores disponíveis no mercado nacional. "Este é o segmento que mais cresce no País, superando os refrigeradores de uma porta e aqueles sem degelo automático", relata o gerente. Segundo ele, até o fim de 2013, os produtos da Panasonic deverão abranger quatro faixas de preço, de R$ 1,799 mil a acima de R$ 2,6 mil, o que corresponderá a 40% do mercado brasileiro.
Cerca de 26% do custo final de um NR-BB51P são de componentes importados. "Essa parcela pode flutuar em relação ao câmbio, mas 20% sempre serão importados", diz o diretor operacional de eletrodomésticos. Isso porque o compressor, considerado o "coração" do refrigerador, é trazido do exterior, de uma planta da companhia em Cingapura. "O Brasil é hoje o maior fabricante mundial de compressores, mas a tecnologia que estamos trazendo não existe aqui", informa, referindo-se à capacidade do equipamento da Panasonic de mudar de rotação, de forma a economizar energia, regulado por um computador que estuda os hábitos do consumidor.
Outro diferencial competitivo da companhia está no processo produtivo, explica Daniel. Segundo ele, a injeção de espuma no refrigerador (que utiliza o gás R600A, em lugar do nocivo CFC), processo que define toda a velocidade da linha de produção, é feita na nova planta em três minutos. "Isso resulta num tempo de produção hoje de uma hora e 15 minutos, que será reduzido para 40 minutos, de 30% a 40% mais rápido do que a concorrência", diz.
Desenvolvidos no Brasil, os processos passaram por pesquisas com consumidores locais. "Além dos hábitos de uso de geladeiras e lavadoras, estudamos também os de condicionadores de ar", relata Epof, e confirma que este pode ser um próximo passo na nacionalização da produção de linha branca da empresa, que hoje importa lavadoras, panelas de arroz e condicionadores de ar.
Segundo o gerente, a ampla gama de eletrodomésticos a ser apresentada nos próximos anos marca uma busca da empresa pelas novas classes de consumo do País. "Existem projetos para que também a linha marrom atinja o público de classe C, então é um plano geral da companhia", adianta o executivo.
O presidente da Panasonic do Brasil, Hirotaka Murakami, afirma que a crise pela qual passa a companhia japonesa em seu país de origem e nos mercados maduros não afeta o Brasil. "A empresa optou por investir mais nos mercados de grande crescimento, como o brasileiro", afirma Murakami. Segundo ele, por conta da mudança no cenário global, o País e os demais emergentes serão o principal vetor de crescimento da japonesa nos próximos anos. "Em 2012, esperamos que os emergentes cresçam entre 30% e 40% sobre o ano passado", projeta o presidente.
Veículo: DCI