A safra 2012/2013 de arroz, que já começou a ser plantada no sul do País, deve ter uma queda de 15%, para 11,4 milhões de toneladas, apesar de os preços do cereal estarem 67% acima dos registrados em setembro do ano passado.
A cultura deve se espalhar por 2,4 milhões de hectares, com retração anual de cerca de 15%. Já o preço médio da saca de 50 quilos acumula alta de 67% neste mês, valendo R$ 39, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O governo federal tende a queimar quase um terço de 1,5 milhão de toneladas de seu estoque até o final do ano. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tem promovido a realização quinzenal de leilões, ofertando 80 mil toneladas por vez.
No principal estado produtor, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) pede reavaliação do volume leiloado para 50 mil toneladas. A intenção é evitar que os preços sejam afetados pelas ofertas públicas.
A formação dos estoques data de julho de 2011, principalmente. O segmento enfrentava uma crise de oferta: os arrozais tinham se expandido 20% em relação a 2010 e derrubado os preços para cerca de R$ 19, frente a um custo de produção de R$ 30 a saca.
"A compra do governo, no ano passado, somada às reduções de área e produtividade neste ano, e mais exportações, pressionaram [para cima] o preço do grão", observou o presidente do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), Cláudio Pereira.
Nas últimas safras, os arrozeiros acumularam dívidas de R$ 3 bilhões. Metade deles está descapitalizada, segundo a Federarroz.
A Federação mostra preocupação com a dívida acumulada pelo setor e quer a "dilatação" de prazos para o pagamento. "Entregamos essa proposta em 2011, mas até agora não houve retorno."
Entretanto, com preços menores e subsídios do governo, conseguiram ampliar a presença do produto no mercado internacional, principalmente na Ásia.
O Brasil bateu recorde de exportação de arroz na safra passada, embarcando dois milhões de toneladas - 70% das quais em direção a países asiáticos. Neste mês, o segmento já atingiu a meta que era prevista para todo o ano-safra (2012/2013): exportar um milhão de toneladas. "O arroz brasileiro está se firmando no mercado internacional", afirmou o presidente da Federarroz, Renato Rocha. Segundo ele, até o final da safra, o País deve exportar 1,5 milhão de toneladas do grão.
Em relação às importações do Mercosul, contudo, a federação pede ao governo que estabeleça cotas e períodos adequados à compra de arroz de países vizinhos, como a Argentina.
Santa Vitória do Palmar
No extremo sul do País, na região dos lagosi, os arrozeiros de Santa Vitória do Palmar (RS) já plantaram 10% de uma safra estimada em 60 mil hectares. O produtor Márcio Silveira, proprietário do maior arrozal da cidade (5,7 mil hectares), semeou 60% da sua área. "Se não chover nos próximos sete dias, planto tudo", ele afirma.
O clima seco tem atrapalhado a vida dos gaúchos ao longo deste ano, tanto mais na região noroeste do estado (onde mais se produz arroz), segundo o Irga, mas é positivo que a chuva não caia justo agora, em período de plantio.
Dono de vasta propriedade, Silveira trabalha com alta produtividade: 200 sacas por hectare. Ele diz que a soja tem entrado no município - nos últimos três anos, disparou de 300 para doze mil hectares, sem afetar as áreas de arroz. "É uma cultura de rotação boa para o arroz. Aumenta a produtividade em 20 sacas."
Veículo: DCI