Restrição à exportação deixou o produto mais barato no mercado interno
Os argentinos recuperaram o título de maiores carnívoros do planeta ao ostentar um consumo per capita de 63,1 quilos por ano de carne bovina. O anúncio leva em conta dados do mês de julho da consultoria Abeceb, que indicou que há um ano e meio o consumo estava em 52,8 quilos por ano.
Esse resultado havia sido o volume mais baixo desde 1914 (nesse ano, quando a medição começou a ser realizada pela Junta Nacional de Carnes, a marca de consumo por habitante foi de 56,1 quilos).
O Uruguai sempre ocupou o segundo posto no ranking mundial de consumo de carne bovina. Mas, entre 2009 e 2011, conquistou a primeira posição. No entanto, neste ano, segundo dados do Instituto Nacional de Carnes (Inac) do Uruguai, com a marca de 60 quilos, os uruguaios voltaram à vice-liderança no ranking global.
A Abeceb afirma que a recuperação do consumo deve-se a uma conjunção de fatores, entre os quais o aumento do estoque e a queda das exportações, drasticamente limitadas pelo governo da presidente Cristina Kirchner, que redirecionaram a carne ao mercado interno. Esse fator, nos últimos meses, criou um clima de estabilização dos preços de alguns cortes de carne e até de redução em outros. Além disso, o aumento do consumo foi propiciado pelo maior abate de gado.
Ao longo deste ano, o consumo de carne de frango, que vinha crescendo, ficou estabilizado. O mesmo fenômeno ocorreu com a carne suína, produto cujo consumo foi estimulado pela própria presidente Cristina, que em julho de 2010 declarou pela TV que o produto era "afrodisíaco".
Na ocasião, seu marido e ex-presidente Nestor Kirchner ainda estava vivo - a presidente destacou que a ingestão de carne suína havia propiciado um animado fim de semana na companhia de seu cônjuge. Kirchner morreu três meses depois.
Durante décadas, a carne bovina foi um símbolo do país no exterior. O recorde de consumo ocorreu em 1958, ano no qual cada argentino comeu, em média, 98 quilos do produto. Nas décadas posteriores, o consumo caiu por motivos econômicos, por uma ampliação do cardápio cotidiano dos argentinos, além de cuidados com o colesterol.
No entanto, apesar da recuperação do primeiro lugar no pódio de consumo de carne para os argentinos, a Abeceb considera que será "difícil" voltar ao nível de 70 quilos per capital alcançados em 2007 e 2008.
Cultura. Durante décadas as crianças nas escolas primárias do Brasil escreviam a redação "Minhas férias". Na mesma época, os alunos argentinos redigiam "La Vaca" ("A Vaca"), fornecedora do produto que simboliza os hábitos de alimentação do país.
A carne também está na cultura televisiva. Diversas telenovelas argentinas tiveram galãs que protagonizavam viris personagens açougueiros que seduziam as clientes com seu avental manchado de sangue.
Em 2002, o churrasco foi o centro do talk show Um aplauso para o churrasqueiro, em que o apresentador Roberto Petinatto fazia entrevista enquanto devorava pedaços de carne.
O formato foi relançado na semana passada com a apresentadora Flavia Palmiero, que em Políticos na churrasqueira entrevista políticos que devem acender o fogo e preparar a carne enquanto são sabatinados.
A tradição da carne transcende gerações. Carlos Príncipe é açougueiro do Mercado del Progreso, no Caballito, em Buenos Aires. Ele descende de uma família de açougueiros: seus avós atendiam o conde de Ramanones, ministro do rei espanhol Alfonso XIII.
Veículo: O Estado de S.Paulo