Experiência e qualificação são premiadas na maturidade, quando aposentados se tornam consultores e sua capacidade de solucionar problemas passa a ser disputada pelo mercado
O currículo é vasto. Na bagagem, eles trazem experiência, a vivência em grandes corporações e conhecimento estratégico. Assim como os reis da antiguidade buscavam o conselho dos sábios, os consultores seniores se tornaram uma espécie de gurus do mercado. A informação acumulada ao longo dos anos vale ouro nas corporações. Para os profissionais maiores de 60 anos, a consultoria se torna uma opção de alta qualificação e renda: alguns chegam a ganhar 80% mais que os salários dos tempos da carteira assinada.
Assim como o conhecimento, a rede de relacionamentos do consultor é fundamental, avalia Marcus Quintella, coordenador do MBA em empreendedorismo e desenvolvimento de novos negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBS).”Se o consultor for bom, ele pode chegar a contratar empregados para ajudá-lo”, enfatiza Quintella.
Eduardo Nery se tornou consultor por volta dos 60 anos. Mas até chegar lá, ele, que hoje está com 68, trilhou um caminho longo, combinando academia com a prática do mercado. Aliás, para ele esse é o segredo do negócio. “O trabalho nunca me atrapalhou em nada, pelo contrário”, garante Nery, que conseguiu o primeiro emprego aos 13 anos. Aos 18, administrava a faculdade de engenharia, o curso de cinema, e o trabalho. Formou-se também em economia e especializou-se aqui e no exterior, nas áreas de geração de energia e desenvolvimento sustentável e gestão empresarial. Na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), trabalhou por 34 anos, mas também desenvolveu projetos para a Nasa, em segurança nacional, e na Organização das Nações Unidas (ONU). Sua empresa focada em desenvolvimento sustentável, a Energy Choice, desenvolve projetos para um portfólio vasto de clientes:“Me aposentei em 1995. Os projetos são muitos e não reduzi o ritmo. Não penso em parar”.
Mas para alcançar sucesso em um mercado qualificado é preciso planejamento. Carlos Eduardo Caram, head hunter e conselheiro da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), diz que se preparar para se tornar um consultor é uma expertise em si. Segundo ele, áreas como recursos humanos, engenharias, mineração e siderurgia são exemplos de onde consultores seniores têm forte atuação. “Com planejamento e espírito empreendedor, é possível romper o vínculo empregatício mantendo patamar de renda igual ou maior. Muitos deixam de ser funcionários da empresa e se tornam consultores da organização.”
O técnico de instrumentação Emílio Bispo da Silva, de 78, tem 50 anos de experiência em várias multinacionais na área de instrumentação industrial. Há dez anos ele se aposentou e passou a prestar consultoria para empresas. “Mas eu preparei a minha cama antes. Quando era funcionário, prestava serviços nos finais de semana e feriados. Foi assim que fiz a clientela”, diz.
Os benefícios surgiram no bolso: Silva conta que recebe hoje cerca de 80% a mais do que no período em que era empregado. “A hora é mais valorizada. E não tenho o compromisso de horário com ninguém. Quando trabalhamos como empregados, temos que esperar o reajuste anual do salário e das decisões do sindicato. Hoje, eu que passo o preço do serviço para o cliente. Há mais flexibilidade na negociação”, completa. O técnico afirma que adiou a decisão de se tornar consultor porque precisava de segurança maior no passado. “Era casado e tinha filhos, não podia me aventurar muito”, explica.
Voo alto
Um vasto e experiente currículo nacional e internacional na área da aviação acompanham Renato Cláudio Costa Pereira, de 76 anos. Ele é reformado militar da Força Aérea Brasileira e há sete anos começou a atuar como consultor em aviação. Pereira, que foi piloto durante anos, fez seu último voo em 2002, no Canadá. “Foi o momento em que deixei de voar e passei a pilotar a escrivaninha. A aviação de combate exige uma agressividade maior, que você vai perdendo com a idade”, diz
Na avaliação de Pereira, o planejamento é a palavra de ordem na área da aviação. “É uma atividade que envolve tecnologia de ponta. Não dá para esperar os problemas acontecerem para resolvê-los. A atenção deve ser permanente e é preciso vislumbrar os próximos cinco, 10 e 15 anos”, avalia.
Veículo: Estado de Minas