A maior organização de café do mundo, a Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), em Minas Gerais, dispensou o uso de sacas na safra atual e iniciou, ontem, uma operação totalmente mecanizada para receber e preparar o grão. Trata-se do maior complexo mundial de armazéns de café.
O Complexo Industrial Japy permite aos cerca de doze mil cooperados transportar a granel parte da produção, estimada em 330 milhões de toneladas (14% do arábica produzido no Brasil).
Com o fim da segunda etapa do projeto, ontem, acrescentaram-se ao empreendimento tecnologias capazes de filtrar, segregar e classificar (com código de barras) o café, tudo de forma automática.
"A logística é mais moderna: o café passará pelo complexo sem ter nenhum contato humano", disse ao DCI o presidente da Cooxupé, Carlos Paulino. Ele explicou que o produto vai chegar por caminhões graneleiros, ser despejado por meio de rampas para carretas de até trinta toneladas e, enfim, ensacado em grandes sacolas (big bags) de 1,2 tonelada.
O projeto custou R$ 7,5 milhões e ocupa área de 40 mil metros quadrados, dispõe de 80 silos para processamento e armazenagem e de mecanismos para coleta, pesagem e análises do café.
Com o complexo, a capacidade de armazenagem da Cooxupé chega a 5,2 milhões de sacas, quase toda a produção própria esperada para a safra de 2012/2013, de 5,5 milhões de toneladas.
Uma porta-voz da Cooxupé explicou que o novo modelo de transporte e armazenagem da cooperativa, pioneiro no segmento de café, foi inspirado no tipo de trabalho desempenhado pelos produtores de soja e milho no centro-oeste brasileiro - onde os grãos costumam ser transportados a granel.
A dispensa do uso de sacas de sessenta quilos, além disso, gera economia para os cafeicultores. O cafeicultor César Coutinho, de Serra do Salitre (MG), por exemplo, está deixando de gastar R$ 5 por saco e R$ 0,60 pelo serviço de carregamento dos caminhões , desde que aderiu ao transporte graneleiro.
"Até subiram o preço da sacaria para desestimular o uso. Não querem mais que carreguem peso no campo", afirmou, referindo-se a uma questão de saúde. "Todas as unidades já estão utilizando as bags [no lugar das sacas]", acrescentou.
Mesmo assim, segundo o engenheiro agrônomo Francisco Corrêa Jr., ligado à unidade de Monte Carmelo (MG) da Cooxupé, muitos agricultores ainda resistem à mudança, " por uma questão de costume".
Segundo Corrêa Jr., nas exportações da cooperativa, os meios de embarque estão divididos: 50% ensacados, e a outra metade a granel. Em seu município de atuação, a relação é de 20% e 80%, respectivamente.
O complexo industrial de Japy pode ser considerado um empreendimento da agricultura familiar, posto que 84% dos produtores rurais ligados à Cooxupé pertençam a essa classe. Eles movimentam, junto ao restante (de propriedades de médio e grande porte), um faturamento anual bilionário, que atingiu R$ 3 bilhões no ano passado.
Sediada em Guaxupé e presente em 224 municípios, nas regiões do sul de Minas, Alto do Parnaíba (cerrado mineiro) e Vale do Rio Pardo (SP), a estrutura da cooperativa se divide em 22 escritórios avançados, nos quais recebe a produção, e um posto dedicado às exportações em Santos, no litoral paulista.
A safra de 2011/2012 da Cooxupé era estimada em seis milhões de sacas no começo deste ano, mas a falta de chuvas não favoreceram o recorde na produção. Cerca de 80% da colheita real já foram apurados, e o resultado atualmente esperado é de 5,5 milhões - ou melhor, o equivalente (a granel) a esse volume.
O número corresponde a cerca de 10% das previsões oficiais sobre a safra de café brasileira, incluindo o tipo conilon, que a cooperativa não produz.
Veículo: DCI