Produção nacional de grãos terá primeira queda em três anos

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A produção brasileira de grãos deve cair 5% nesta safra após três anos consecutivos de crescimento. Isso deve significar colheita de cerca de 137 milhões de toneladas. Na safra anterior, o País colheu o recorde de 143,8 milhões de toneladas. A projeção foi feita ontem pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, durante a divulgação da mais recente estimativa de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A crise e o cenário restrito de mercado fizeram o ministro ser mais pessimista que o levantamento técnico da Conab, que indicam retração de 2,5% na produção, com colheita de 140,2 milhões de toneladas na safra 2008/09.

 

Stephanes acredita em uma retração mais severa na produção devido a fatores como a estiagem no Sul do País e, claro, os efeitos da crise financeira internacional. Segundo o ministro, sozinha a queda de 5% na produção não é preocupante, pois houve uma expansão de 9% na safra passada. "O problema é o reflexo na próxima safra", admitiu, antevendo dificuldades para o plantio 2009/10, ou seja, desestímulo à produção. Estão descartados no curto prazo problemas como desabastecimento ou alta de preços.

 

A queda de produção segue sentido inverso ao total da área plantada, que apresenta ligeira alta. Segundo dados da Conab, o total de área cultivada chegará a 47,5 milhões de hectares nesta nova safra, frente 47,4 milhões de hectares no plantio anterior. "O Brasil está plantando. O que teremos é queda da produtividade.", disse Stephanes.

 

A crise tem impacto forte na produção de algodão e de milho, culturas que devem ceder áreas para a soja, mais rentável. No algodão, a área plantada cai de 1,08 milhão de hectares para 860 mil hectares, uma retração de 20,4%. A produção de algodão em pluma cai de 1,6 milhão de toneladas para 1,27 milhões de toneladas, redução de 20,8%. Stephanes disse que o governo já adotou as medidas possíveis para incentivar a cotonicultura, como os recursos para Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACCs). "Não há porque ir além desse limite. Há, efetivamente, uma retração de mercado.", disse o ministro.

 

A primeira safra de milho deve ocupar uma área de 9,34 milhões de hectares, queda de 3,2% na comparação com o total de 9,65 milhões de hectares da safra passada. A produção de milho cai 7,4%, de 40 milhões de toneladas para 37 milhões de toneladas. Segundo a Conab, o milho sofre o efeito do preço baixo, alto custo de produção, redução das exportações e aumento de oferta. "Nossa preocupação é com a safrinha, pois com o preço baixo, pouca gente vai plantar", disse Stephanes. O governo tem um estoque de 12 milhões de toneladas de milho. Para evitar distorções de preço, a estratégia oficial é continuar comprando milho para os estoques oficiais.

 

A soja ocupará 21,24 milhões de hectares, 0,3% a menos que os 21,31 milhões de hectares da safra passada. A produção cai 2%, para 58,8 milhões de toneladas, frente 60 milhões de toneladas do cultivo anterior. Para o arroz, a produção é estimada em 12,2 milhões de toneladas, pequeno crescimento na comparação com o total de 12 milhões de toneladas da safra passada. A primeira safra de feijão deverá ter produção de 1,49 milhão de toneladas, frente 1,24 milhão de toneladas, na safra passada. O trigo, cultura de inverno cuja colheita está sendo concluída na região Sul, tem produção de 5,87 milhões de toneladas, expansão de 53,4% na comparação com os 3,82 milhões de toneladas da safra anterior.

 

"Os instrumentos que temos serão suficientes para amenizar os impactos da crise, não para resolver a crise", disse o ministro da Agricultura. Ele garantiu, entretanto, que o governo está atento aos efeitos da turbulência econômica, pronto para lançar novas ações de apoio aos produtores, ajustando a política agrícola caso seja necessário. "Estamos fazendo avaliações constantes, mas é muito difícil saber o que acontecerá no mercado em quatro, cinco ou seis meses", disse. Para discutir o cenário futuro, o Ministério da Agricultura promove amanhã uma reunião técnica "de inteligência", com técnicos de vários órgãos. Stephanes, em sintonia com o Palácio do Planalto, criticou os juros altos cobrados atualmente pelos bancos.

 

"O governo vai trabalhar para baixar juros. O spread alto só acelera a crise.", afirmou Stephanes, destacando que se em breve não houver crédito mais barato, "o governo vai ter que adotar medidas mais específicas." O ministro confirmou a liberação dos R$ 2 bilhões para as cooperativas, em linhas a serem anunciadas nos próximos dias.

 

Uma das preocupações de Stephanes é em relação ao preço dos fertilizantes. Ele avalia que os nitrogenados já baixaram de preço, acompanhando a queda do dólar. "Fósforo e potássio caíram muito pouco e não vemos condições de que caiam mais. Vão se estabilizar em um patamar um pouco abaixo do que no ano passado.", disse. Uma das alternativas estudadas pelo governo é realizar importações diretas.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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