Os primeiros três meses da rotina da administradora Patrícia Macedo Costa na Presidência da Vilma Alimentos mesclaram as decisões típicas de um momento de transição inesperado, depois da morte do pai e principal executivo da empresa, Domingos Costa, em julho, às definições da estratégia de crescimento da fábrica de 87 anos, que acaba de concluir um ciclo de investimentos de R$ 140,8 milhões. O plano de expansão para os próximos dois anos, revelou Patrícia Costa ao Estado de Minas, está sendo avaliado entre uma nova aquisição no setor de alimentos e a construção de um segundo parque industrial. São avaliados segmentos como panificação, biscoitos e molhos. A possibilidade de uma fusão também não está descartada, desde que o negócio fortaleça e valorize a produção da Vilma.
“Estamos abertos a vários desenhos e nem poderia ser diferente, já que a Vilma não está alheia às tendências do setor. O principal é agregar valor ao nosso negócio. Há tempos não somos mais uma empresa de massas, e sim de alimentos”, afirma. Empenhada em aliar a imagem de uma produção tradicional que a empresa carrega à prática da inovação constante, Patrícia Costa diz que aprendeu na gestão de Domingos Costa a importância de uma equipe comprometida e motivada para sugerir ideias e melhorias. “Se elas vierem de mim ou de outro profissional, não importa”, diz. Aos 33 anos, dos quais 15 já dedicados à Vilma, a executiva atendeu o EM na loja conceito da Vilma, aberta no mês passado justamente como instrumento de aproximação do consumidor.
O consumo per capita de massas no Brasil ainda é considerado baixo. Isso significa que a melhora recente do poder de compra da população não teve o resultado esperado? Como explorar esse potencial?
O Brasil já se destaca como o terceiro maior produtor mundial e são inúmeros os benefícios do macarrão, como alto valor nutricional, praticidade e variações de receitas, além do custo competitivo aqui. Percebo que a principal tendência em razão da melhora do poder aquisitivo do brasileiro nos anos recentes não foi, necessariamente, o aumento do consumo per capita, mas sim a migração para produtos mais elaborados e de maior qualidade. Meu pai sempre observou que o consumo não cresce se a marca não oferecer mais qualidade ao cliente. É o que observamos agora. A linha do macarrão comum está diminuindo a sua participação, enquanto cresce a demanda pelas linhas mais elaboradas, do macarrão com ovos, o grano duro e o integral. Cresce também a procura pelos formatos diferenciados, como o Rizzo (macarrão no formato de arroz) e a linha gourmet.
A Vilma tem investido nas linhas de produtos especiais e encerrou no ano passado um ciclo de investimentos na fábrica de Contagem e em silagem para trigo. Qual tem sido o resultado frente aos concorrentes?
As massas gourmet são produtos que atendem um público cada vez mais exigente e que busca qualidade e inovações. Nosso produto é obtido através da secagem lenta e gradual e o resultado é uma massa de altíssima qualidade, com textura ‘al dente’, mesmo quando mantida por longos períodos sob aquecimento. Alguns deles, como o tagliatelle de majeiricão, são produtos inéditos no Brasil e o fato de serem fabricados aqui nos garante maior competitividade (frente a importados da Barilla e De Cecco, por exemplo), o que se reflete nos preços oferecidos ao consumidor. Concluímos investimentos de R$ 140,86 milhões para modernização, aumento da capacidade e inovação de uma linha diversificada de 800 produtos, entre massas, misturas para bolo, refrescos e temperos. O momento, agora, é de consolidar esse plano e definir as próximas estratégias. Os recursos aplicados na silagem nos permitirão acompanhar todo o processo da matéria-prima.
Sob o seu comando, como pretende que a Vilma seja conhecida nos próximos anos? Como a empresa continuará concorrendo num mercado que já passou por muitas fusões e aquisições?
Estamos abertos a vários desenhos e nem poderia ser diferente, já que a Vilma não está alheia às tendências do setor. O principal é agregar valor ao nosso negócio. Há tempos não somos mais uma empresa de massas, e sim de alimentos. Exemplo disso é que há três anos adquirimos a marca Pirata para expandir nossa atuação no segmento de temperos e condimentos. Independentemente desse desenho, vamos seguir buscando negócios que nos permitam ampliar nossas linhas de produtos e nossos mercados de atuação. Há um mês, passamos a ter uma gerência só dedicada à expansão e estamos fazendo estudos sobre novos projetos nos segmentos de pães, biscoitos e molhos. Não há nada fechado ainda. Podemos trabalhar por uma nova aquisição ou pode ser uma fábrica nova. Pode surgir ainda uma fusão, às vezes um caminho mais adequado, mas o principal é agregar valor. Somos uma empresa economicamente financeiramente saudável e não poderíamos estar fechados a isso, mas o negócio é o que vale mais para nós. Acredito que teremos essa definição para os próximos dois anos.
Como a empresa está reagindo a uma mudança repentina não só na presidência como em áreas vitais, a exemplo da financeira e do marketing e vendas?
Somos uma empresa de 1.700 funcionários e apenas quatro membros da família, hoje, e estamos num momento de transição inesperado. Veio gente nova para as diretorias de vendas e financeira. A rigor é tudo novo, embora eu já esteja trabalhando na Vilma há 15 anos. (Em 28 de julho, morreram num desastre aéreo em Juiz de Fora Domingos Costa, o filho Gabriel, de 14 anos, o vice-presidente de marketing e vendas, Cezar Tavares, e outros três executivos). O mais difícil é a falta que o meu pai e o meu irmão fazem, mas como meu pai dizia “não podemos tratar os desafios como intransponíveis, mas sim como fonte de energia e motivação”. Sempre estive ligada às questões estratégicas da Vilma e a alegria que nos move hoje é ver que muitos dos sonhos que a gente elaborou juntos estão sendo colocados em prática. O que aprendi com as outras gerações é ter a cabeça aberta para as melhorias. Se elas vierem de mim ou de outro profissional não importa.
Veículo: Estado de Minas