Enquanto muitos setores industriais tentam se recuperar do impacto da crise financeira global, as farmacêuticas instaladas no país só agora começam a dar sinais de que a desaceleração da economia brasileira deverá afetar as vendas do segmento. No terceiro trimestre (de julho a setembro), as vendas de medicamentos genéricos alcançaram 179,7 milhões de unidades, aumento de 17% sobre o mesmo período de 2011, de acordo com o levantamento da Pró-Genéricos (Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos), com base nos dados da consultoria IMS Health. Apesar do aumento robusto, o setor registrou neste trimestre a menor expansão para este período desde 2001, quando as vendas de genéricos passaram a ser auditadas.
Telma Salles, presidente da Pró-Genéricos, não vê esses dados com preocupação. Ainda. "Acreditamos que esse movimento de desaceleração nas vendas reflete nossa atual conjuntura econômica", disse ela ao Valor.
Apesar da desaceleração nas vendas, a participação de mercado dos medicamentos genéricos avançou neste terceiro trimestre. Esse segmento tem uma fatia de 26,6%, ante 25,6% no mesmo período do ano passado. A Pró-Genéricos estima chegar a 30% no fim do próximo ano.
A associação projetava crescimento de até 30% em volume para este ano, mas a expansão deverá ficar abaixo, em torno de 20% - no máximo 25% -, elevação respeitável, se concretizada. Em valor, a receita com as vendas de genéricos atingiram R$ 2,8 bilhões entre julho e setembro deste ano, alta de 21% sobre o mesmo intervalo do ano passado. Vale lembrar que esse faturamento considera o preço "cheio" do remédio, sem descontos oferecidos pelas farmacêuticas. Os descontos sobre os medicamentos, em média, giram em torno de 45%.
No acumulado do ano, os genéricos subiram 19,8% em unidades. Em 2011, as vendas entre janeiro e setembro cresceram 31,8%, enquanto que em 2010, analisando o mesmo período, a expansão foi de 32,8% sobre o ano anterior.
Não foram somente os genéricos que tiveram um crescimento menor nas vendas. Os medicamentos de referência também recuaram, segundo Nelson Mussolini, vice-presidente executivo do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo). "O setor não está passando por uma crise, mas há uma estagnação. Costumamos dizer que em momentos como esse, o consumidor deixa de comprar o medicamento menos importante quando vai à farmácia com a receita na mão", observou Mussolini.
O mercado farmacêutico total também diminuiu o ritmo de vendas no período. A indústria registrou vendas de 680,6 milhões de unidades entre julho e setembro de 2012, contra 606 milhões em igual período de 2011, registrando alta de 12%. No terceiro trimestre do ano passado o mercado farmacêutico apresentou crescimento de 13% nas vendas em relação a 2010. A expectativa é de que as vendas anuais fiquem em torno de 10% a 12%.
Em recente entrevista ao Valor, o presidente da multinacional americana Pfizer, Victor Mezei, informou que o setor farmacêutico demora mais para sentir os efeitos da desaceleração da economia por ser produtos de primeira necessidade.
Telma Salles criticou a morosidade da liberação de registros de medicamentos por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não atribuiu a desaceleração das vendas desses medicamentos à recente greve dos agentes federais.
Desde que passaram a ser comercializados, os genéricos arrecadaram R$ 10,1 bilhões de ICMS. Esse valor representa um terço dos R$ 30,4 bilhões gerados em economia com o consumo desses produtos, de acordo com a entidade, com 14 associados (que respondem por 85% desse mercado).
Veículo: Valor Econômico