Mesmo com fechamento de uma captação de R$ 1,05 bilhão na terça-feira, papéis da companhia terminaram o pregão de ontem com queda de 2,76%
Mesmo depois da captação de R$ 1,05 bilhão conseguida com a oferta de ações fechada na terça-feira, o frigorífico Marfrig, dono da marca Seara, continua acumulando perdas na Bolsa de Valores. Ontem, as ações da empresa caíram 2,76%, fechando em R$ 8,80. Na semana, a desvalorização já é de 24,14%.
"O mercado entende que, se a empresa aceitou vender ações a R$ 8, em vez do preço inicial, que era de R$ 11, nenhum investidor vai querer pagar mais que isso", diz Alan Oliveira, analista da Futura Investimentos. Por isso, segundo ele, a tendência é que, nos próximos dias, o preço continue caindo.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que em 2010 comprou R$ 2,5 bilhões em debêntures do Marfrig para capitalizar a empresa, foi um dos maiores prejudicados com captação abaixo do esperado. O banco é o segundo maior acionista do grupo.
Na época da compra, o BNDES comprou as ações a uma cotação de R$ 17 o papel - o dobro do que valem agora. O banco, conforme era esperado, deve ter convertido em torno de R$ 360 milhões em ações anteontem. O restante ficaria para a conversão automática, prevista para julho de 2015, ao preço fixo de R$ 24,50.
Concorrência. Mesmo após a captação, o endividamento do Marfrig continua sendo um dos maiores dentre seus concorrentes. A empresa, conforme seu último relatório, tinha ao fim do terceiro trimestre um endividamento líquido de R$ 9,296 bilhões. Se a empresa usasse 100% do que foi captado para abater a dívida, esse valor cairia para R$ 8,246 bilhões. Mas a meta do frigorífico é usar 70% do dinheiro para abater o endividamento, o que ainda deixaria a companhia com débitos de cerca de R$ 8,5 bilhões. A dívida da companhia é maior que a da BRF, que no mesmo período somava endividamento de R$ 7 bilhões. Também é superior à dívida de R$ 3,297 bilhões do frigorífico Minerva, que fez no final de novembro uma oferta de ações e conseguiu captar R$ 557 milhões. O Marfrig só perde para o JBS, que tem dívida de R$ 15,243 bilhões.
O problema é que, em relação ao valor de mercado das companhias, o Marfrig está em pior situação. Ontem, a empresa estava avaliada em R$ 3,123 bilhões - pouco mais de um terço do que a empresa deve. Já o valor de mercado da BRF (R$ 34,075 bilhões) é cinco vezes maior que sua dívida. O JBS é avaliado em R$ 16,050 bilhões, quase R$ 1 bilhão a mais que sua dívida.
"Foi por causa desse endividamento elevado que o Marfrig aceitou anteontem vender as ações a um preço 27% menor do que esperava", explica o analista da Futura.
Por conta desse ainda alto endividamento, analistas do BTG Pactual divulgaram relatório ontem alertando para o fato de que o Marfrig ainda irá precisar de um novo financiamento para o pagamento de sua dívida. "Ainda vemos riscos de execução importantes", diziam os analistas no relatório do banco.
A dívida do Marfrig chegou a esse ponto depois de 20 aquisições de empresas feitas pela companhia nos últimos cinco anos.
Veículo: O Estado de S.Paulo