Queda na área plantada faz disparar importações brasileiras de grãos

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As compras aumentaram mais de 100% em outubro deste ano em relação a igual mês de 2011


A redução da área plantada mais o agravamento de fatores climáticos levou a safra de trigo brasileira a um recuo de 39% no ano comercial 2011/2012, contra o período 2010/2011, ao sair dos 5,7 milhões de toneladas para os atuais 4,1 milhões de toneladas, segundo dados da Consultoria Safras & Mercados.

Esse resultado negativo provocou um aumento nas importações do grão no mês de outubro, segundo dados do Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que mostram um salto de 118% na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

O analista da Safras & Mercados, Élcio Bento, explica que esse resultado expressivo em outubro já sinaliza manutenção desse movimento de alta para o próximo ano, ao lembrar que o ano comercial da cultura se inicia em agosto com encerramento em julho.

Sendo assim, o resultado apresentado nas compras realizadas no período de janeiro a outubro deixa de ser significativo para o mercado. Nesse período, houve uma queda de 4,04%, na comparação com os mesmos 10 meses de 2011.

“Os agricultores da região Sul—local onde está concentrada entre 90% a 95% da produção nacional — estão trocando o cultivo do trigo pelo milho safrinha por conta de essa cultura ter muito mais liquidez”, explica o analista.

Além da queda de produção do trigo, Bento observa que as fortes chuvas acabaram também por interferir em boa parte da qualidade da colheita, inviabilizando o uso do grão para a fabricação de farinha, sendo agora exportados para fabricação de ração animal.

“Como consequência desse resultado desastroso, a tendência é de aumento de preços, que já estão elevados”, comenta Bento, lembrando que entre a safra 2010/11 e 2011/12 a tonelada do grão já subiu 50%, saindo de R$ 450 a tonelada para os atuais R$ 680.

Diante de um cenário tão negativo, Bento observa ainda que o Brasil tende, a partir de agora, a depender cada vez mais de fornecedores de fora do Mercosul. A Argentina é um dos principais vendedores do grão, mas vem sofrendo problemas de quebra de safra provocada também por fatores climáticos.

“Esse tende a ser mais um fator agravante, já que as taxas praticadas de comércio fora dessa área são elevadas”, aponta.

Arroz
Esse cenário nebuloso se desenha também para a cultura de arroz, que apresentou aumento de quase 105% em outubro.

De acordo com Eduardo Aquiles, analista da Safras & Mercados, o cenário é bem parecido com o do trigo. “Os produtores têm percebido maior vantagem em outras commodities, como soja e milho, que apresentam preços muito mais competitivos”, conta, observando que o preço da saca que era de R$ 25,77 em 2011, hoje já soma R$ 37,29.

Quanto à cevada, que registra um salto de quase 800% nas importações no mês em questão, influenciada por problemas climáticos, Marcelo Otto, diretor agroindustrial da Ambev, aproveita para contar que para o próximo ano haverá aumento de área plantada no país. “O objetivo é alcançar a autossuficiência com produtores qualificados, que plantam variedades corretas em áreas adequadas”, finaliza.

 
Economistas dizem que movimento é sazonal


Ao contrário dos analistas que acompanham o mercado, eles vão esperam continuidade da alta

Essa visão pessimista desenhada para grãos como trigo e arroz não é tão negativa na avaliação de Evaldo Alves, professor de comércio exterior da Fundação Getúlio Vargas Management.

Para o economista, os resultados devem fazer parte de uma sazonalidade de mercado, não devendo se estender para o próximo ano, como acreditam os analistas do setor.

“Muitas empresas pretendem fechar o ano com estoques maiores, aproveitando alguns aspectos tributários do momento”, diz, observando, contudo, que esse fator tende a mexer com os preços, sendo também um complicador para o saldo da balança comercial.

O sócio da Barral M Jorge e ex secretário do MDIC, Welber Barral, segue na mesma linha e avalia as altas de importações dos grãos como fatores exclusivamente sazonais.

 

Veículo: Brasil Econômico


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