A indústria processadora de laranja atrasou a colheita da fruta este ano, segundo os citricultores paulistas. A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), que representa as empresas de suco, nega a afirmação e prevê excedente de fruta para as safras de 2012/2013 e 2013/2014. "O atraso é generalizado. Ainda há 30 milhões de caixas para serem colhidas, além de 15 milhões que se perderam", disse o líder da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas, ao DCI.
O presidente da Citrus BR, Christian Lohbauer, por sua vez, estimou que 90% da compra prevista em 290 milhões de caixas já foram absorvidos. "A prioridade continuará a ser dada à laranja da própria indústria", reiterou.
Ambas as entidades esperam produção de 364 milhões de caixas este ano. Como os estoques estão reconhecidamente cheios, com 660 mil toneladas de suco, os produtores preocupam-se com a perda de fruta na lavoura.
Nos municípios de Tabatinga, Ibitinga e Itápolis (SP), menos de 40% de uma produção média de 40 milhões de caixas foram recebidas, até então, pela indústria, de acordo com o sindicalista Frauzo Ruiz Sanchez, que lidera a organização de produtores local.
Segundo ele, três fábricas próximas da região foram fechadas, definitiva ou temporariamente, neste ano e a contratação de frete caiu de seis caminhões, na semana passada, para dois na atual.
"A indústria não está dando fluxo ao produtor. O processamento não está sendo feito na velocidade adequada, e crescem os riscos de despesa e perda de qualidade", declarou Frauzo.
Para Lohbauer, a redução do recebimento da fruta "é uma decisão de cada empresa, tomada normalmente". As entregas costumam ter pico entre outubro e novembro, prolongando-se até o período entre janeiro e março. "Neste ano, devem fechar antes de março", disse o representante.
Em Tabatinga, as remessas da variedade pera-rio, usualmente prontas entre agosto e setembro, segundo Frauzo, tiveram registros até este mês, na safra atual. A preocupação, agora, é com as variedades tardias (valência e natal). "Se passar de janeiro, perdemos a janela", disse o sindicalista.
Cumpre-se compromisso
A Citrus BR diz que 27 milhões de caixas - de um excedente previsto em 80 milhões, mas dos quais 40 milhões foram parte do compromisso assumido junto ao governo - já foram absorvidos pela indústria, em nome da prorrogação da Linha de Crédito Especial (LEC) - financiamento de R$ 80 milhões criado em 2011.
Os industriais haviam pedido esse apoio ao governo, em agosto, com a justificativa de haver laranja demais na praça e os estoques já estarem cheios, ameaçando os preços internacionais. Portanto, comprometeram-se a comprar metade das caixas do excesso estimado. Em nome dos citricultores, o governo, sem possuir nenhum dado próprio - como revelou o DCI - botou a estratégia na prática: cedeu crédito para que se mantivessem estocadas 311 mil toneladas de suco, por mais 24 meses, nos estoques privados - os mesmos que ameaçam a demanda pela fruta, o que preocupa os citricultores.
"No documento, o Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento] proíbe a exportação da fruta comprada em 2011", endossa Lohbauer: "Isso fez a indústria comprar mais."
Pepro
O prêmio dado a produtores para compensar a venda de caixas de laranja a R$ 7, já contemplou 27 milhões de caixas.
Veículo: DCI