Sucesso de supermercado depende de gestão eficaz de perda de mercadorias

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Acordo entre Procons e Agas criou o programa De Olho na Validade


Os custos impostos aos supermercados pelas perdas (que englobam produtos vencidos, estragados e furtados) não pode chegar a 2%, sob pena da ineficiência nesse controle comprometer a saúde financeira do negócio. Quem fez a avaliação foi o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antonio Cesa Longo. “O nível aceitável de perdas varia de um setor do ponto de vendas para outro, na padaria, o nível é diferente do da seção de hortifrutigranjeiros. Mas, no conjunto, não deve passar de 2% da operação. O risco de ultrapassar esse limite é ser obrigado a repassar o custo aos consumidores e, ainda, enfrentar uma concorrência mais eficiente, que vai ter mais sucesso. Se a situação não é revertida, a empresa acaba fora do mercado.”

O representante do setor supermercadista gaúcho ressaltou, também, que a eficiência na gestão de perdas ganha ainda mais importância porque, atualmente os preços são impostos pelo mercado consumidor. As empresas, destacou, estão limitadas a cobrar os preços que o mercado aceita pagar e não têm mais a liberdade de formar seus preços finais pela fórmula que soma os custos às margens de rentabilidade. Além disso, enfrentam cada vez mais resistência, por parte dos fornecedores, para fazer a troca dos produtos que já não podem ser vendidos.

Com os preços definidos externamente, Longo argumenta que, só com eficiência gerencial, é que os varejistas conseguem embutir no faturamento os custos da operação. Contudo, ele avalia positivamente essa realidade do mercado, já que foi essa mesma pressão (imposta pela abertura dos mercados e mantida pela taxa cambial) que fez com que a indústria nacional tivesse o ganho de eficiência das últimas décadas. “Há 20 anos, as empresas de autosserviço trabalhavam com níveis de perdas de 20% na seção de hortifrutigranjeiros. Quer dizer, 20% dos produtos comprados pelos varejistas eram jogados no lixo. Hoje essa proporção não pode ultrapassar a margem que vai de 4% a 8%. A solução é diminuir o mix de produtos e aumentar a eficiência de controle e do giro”, afirma o líder empresarial.

Os riscos do empresário que não dá a devida atenção a esses controles vão além do aumento nos níveis de perdas, conforme observa o assessor de soluções de negócios da GS1 Brasil, Marcelo Sá Oliveira. Ele lembra que o risco de deixar que o consumidor encontre um produto vencido passa por uma quebra de confiança na marca do varejo. E, além disso, a situação abre espaço para problemas legais. “O gerente da loja pode ser preso”, lembra Oliveira. “Pela situação do mercado hoje, se o cliente encontrar algum produto vencido em exposição nas gôndolas, as redes aplicam regras próprias (não há uma padronização) de compensação. Algumas dão outro produto de graça, outras dão uma quantidade ainda maior. Tudo para minimizar o problema e os danos à imagem”, afirmou Oliveira.

O assessor indicou, ainda, que, nos contatos que mantém com os supermercadistas, percebe que o tema motiva duas preocupações: primeiro, esse dano à imagem, que em tempos de redes sociais dificilmente fica restrita ao consumidor; e depois, com relação às questões legais que podem ter desdobramentos que vão da autuação à prisão do gerente. “Por isso, as redes fazem investimentos pesados em estrutura de pessoal para melhorar esse controle, o que pode ser feito através do código de barras”, apontou o executivo.

No Rio Grande do Sul, o tema foi objeto de um acordo entre a Associação Gaúcha de Supermercados, o Procon estadual e diversos Procons municipais (incluindo o da Capital), para criar o programa De Olho na Validade. Pelo protocolo, firmado em outubro, o consumidor receberá, gratuitamente, uma unidade do produto vencido que ele encontrar na área de vendas, mesmo que haja vários produtos do mesmo lote de registro em perfeitas condições de consumo.

O texto define, ainda, que, em casos onde não existe um produto idêntico àquele com prazo de validade vencido, o consumidor terá direito a qualquer produto similar da mesma seção, com preço equivalente. E detalha que o direito será garantido somente aos produtos vencidos encontrados antes do pagamento no caixa, uma vez que, após a aquisição, a troca do item vencido já é garantida pelo Código de Defesa do Consumidor. O programa começa a valer em meados deste mês e, até agora, 38 empresas supermercadistas de todo o Estado já aderiram. Entre elas estão Rissul, Asun, Gecepel, Centershop, Peruzzo, Apolo e Grepar. Na capital, as duas maiores redes de supermercados (Zaffari e Walmart), disseram, na ocasião, que analisariam os termos do programa. A Walmart formalizou a adesão nesta semana. A rede Zaffari, segundo a Agas, deve aderir nos próximos dias.


GS1 Brasil defende controle da validade feito no caixa, pela utilização de código de barras

O assessor de soluções de negócios da GS1 Brasil, Marcelo Sá Oliveira, conta que está desde meados de 2011 trabalhando para mostrar ao setor supermercadista brasileiro a possibilidade de fazer o controle de perdas através de uma nova tecnologia de código de barras. Segundo ele, o GS1 Databar permite que o consumidor identifique no caixa a data de validade do item que está comprando. Isso, disse ele, impediria que um produto saísse da loja vencido.

O mesmo mecanismo pode ser usado para controlar os estoques, tanto da indústria e dos distribuidores, quanto do próprio varejo, para evitar que os produtos cheguem às prateleiras num prazo muito curto para o vencimento da validade. “Aliando o código de barras e a tecnologia da informação, esse tipo de controle pode ser feito em qualquer produto, independentemente de ser perecível ou não”, afirmou.

A novidade, segundo o executivo, desperta a atenção de todos os empresários do setor. Porém, não há, até o momento, um exemplo de adoção do sistema em larga escala no País. Isso porque, segundo Oliveira, a operação desse novo padrão de código de barras demanda ajustes tanto em equipamentos emissores de etiquetas – como as balanças dos açougues e das seções de frios e de frutas – quanto nos sistemas de gerenciamento dos caixas.

“Estamos negociando com os fornecedores de sistemas e com os fornecedores de balanças para colocar no mercado, já no ano que vem, produtos preparados para a adoção do sistema. Tendo estrutura mais acessível, acredito que a adoção da ferramenta será mais rápida”, disse ele.

Oliveira recomenda, ainda, que o começo da migração para o novo padrão de controle se dê justamente nos setores onde a embalagem dos produtos é feita pelo próprio varejista – como no fracionamento de queijos. Isso porque essa etapa da produção é menor, e o lojista tem todo o controle.  “É possível fazer o controle também em produtos vendidos a granel, desde que se adote alguma tecnologia de identificação.”

Para o assessor da GS1 Brasil, o investimento em tecnologias de controle não deve representar um aumento de preço para o consumidor final. Isso porque os suportes (as etiquetas nas bandejas de carne, por exemplo), já existem. A mudança depende apenas de uma atualização de software gerencial e da inclusão de alguns equipamentos, como leitores e balanças, que são renovados periodicamente pelas redes de supermercados.


Ceasa pretende reduzir destinação de 1,5% dos produtos como resíduos para os lixões


Levantamentos sobre alimentos no Brasil mostram que 30% do que é produzido se perde entre a lavoura e a mesa do consumidor. Esse é o número que não sai da cabeça do diretor da área operacional da Ceasa do Rio Grande do Sul, Gerson Madruga da Silva. Ele tenta implantar na “cidade do abastecimento” alguns princípios mais rígidos de controle de perdas e sustentabilidade. “Poderíamos ter, na Ceasa, algum selo de sustentabilidade, alguma certificação que aumentasse a confiança que o consumidor deposita nos produtos que passam por aqui. Mas na situação atual não dá”, disse ele, que descreve a dificuldade de convencer os produtores rurais e os atacadistas a separar o que é resíduo reciclável, do que é lixo orgânico. Atualmente, o complexo descarta, em média, 700 toneladas por mês.

Segundo ele, o objetivo mais imediato da administração é reduzir o encaminhamento de resíduos para os lixões – que custam à Ceasa R$ 80,00 por tonelada. Atualmente, cerca de 1,5% do volume de produtos que entra no complexo acaba saindo em contêineres para os lixões. Mas o total de alimentos e resíduos recicláveis desperdiçados deve ser muito maior, porque, conforme explica Madruga, muita coisa acaba levada pelo vento. Pelo programa em implantação, a Ceasa e seus expositores devem separar os resíduos em quatro tipos: orgânicos (frutas, verduras, folhas); palha (usada para acondicionar cargas de frutas); madeira; e restos (com subdivisão entre inorgânicos e orgânicos). A meta é que o resíduo inorgânico em dois anos seja reduzido a um terço ou menos do volume atual, porque é esse o descarte que vai seguir gerando custos para a Ceasa.

Trabalham no projeto 15 pessoas de diferentes setores, para aumentar o volume de alimentos não vendidos que são doados ao banco de alimentos, de resíduos orgânicos enviados para a compostagem e de recicláveis vendidos. Um grande impulso deve ser dado no meio do ano que vem, quando ficará pronto o resultado do investimento de R$ 600 mil, de recursos próprios, na construção de uma estrutura com esteiras de separação, trituradores e decantação. Para o material orgânico que é enviado à compostagem, existe ainda um outro projeto, que é a construção de uma estrutura de produção de biogás. O projeto, orçado em R$ 3,5 milhões, foi construído junto com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e inscrito num edital do Centro Nacional de Tecnologias Limpas e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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