O governo pode cortar o financiamento para abertura de novas áreas de café com o objetivo de limitar a expansão da oferta e os potenciais efeitos baixistas sobre os preços da commodity. A informação é do presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, que participou na semana passada do encontro com representantes do Ministério da Agricultura e com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, João Rabelo.
O presidente do CNC afirmou que novas medidas de apoio ao setor cafeeiro devem ser anunciadas no próximo dia 20, durante reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN).
De acordo com Brasileiro, o Ministério da Agricultura deve soltar um aviso recomendando a expansão da produção de café apenas em áreas existentes, com a substituição de cafezais por variedades mais produtivas.
Uma das possibilidades é determinar que agentes financeiros oficiais, como o Banco do Nordeste, BNDES e Banco do Brasil, não liberem financiamentos para novas plantações, mas apenas para reforma das lavouras.
"O governo não vai mais assumir isso - um volume maior ofertado - pois a atividade fica antieconômica", salienta Brasileiro. De acordo com ele, o aumento da área plantada significará excesso de oferta e preços baixos. "Nós não podemos proibir de plantar, mas podemos barrar os financiamentos".
Armando Matieli, diretor do Sindicato Nacional dos Produtores de Café (Sincal), acredita que a medida é correta, ao menos enquanto o setor não tiver um "planejamento estratégico à altura".
Como política pontual, a medida também é vista como positiva por Eduardo Carvalhaes, sócio-diretor do Escritório Carvalhaes, de Santos. Mas ele ressalta que a política tem reflexos apenas no médio prazo. Na sua avaliação, se o Brasil quiser continuar como o grande player mundial, "sempre haverá que pensar em novas áreas".
O governo também estuda redistribuir os recursos de financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), de modo a contemplar os produtores e agentes mais carentes. E há sinalização por parte da equipe econômica de prorrogação do prazo de pagamento das linhas de crédito de comercialização que vencem em dezembro e janeiro de 2013. A intenção é evitar uma pressão de oferta, segundo Brasileiro.
O mercado aguarda o posicionamento do governo sobre as medidas de apoio ao setor. Ontem, a commodity negociada na bolsa de Nova York atingiu o menor patamar desde junho de 2010.
Brasileiro ressalta que os importadores vão buscar café brasileiro a partir do início do próximo ano, já que neste momento existe ainda oferta de outros países produtores. "A partir de janeiro, a indústria europeia vai precisar buscar café do Brasil e aí o cenário muda. Nós não queremos preços elevados, estamos buscando preços de R$ 400 [a saca], que seriam remuneradores", afirma.
Veículo: Valor Econômico