Restrições argentinas à exportação de trigo e forte queda da produção brasileira vão obrigar moinhos do Brasil a importar volumes elevados do cereal de fora do Mercosul, o que significa a obrigatoriedade de pagamento de 10% de Tarifa Externa Comum (TEC). Normalmente, menos de 5% das importações brasileiras são trazidas de fora do bloco. Nesta temporada, essa fatia deve alcançar entre 35% e 42%. A condição deve encarecer ainda mais o trigo usado no Brasil. O preço da farinha já subiu 20% nos últimos dois meses. Novos ajustes estão à vista.
Segundo o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih, a indústria vai precisar importar de 7 milhões a 8 milhões de toneladas do cereal para atender sua demanda interna, estimada em 10,5 milhões de toneladas. Em torno de 2,5 milhões a 3 milhões serão importadas de fora do Mercosul.
A produção doméstica deve cair 22%, para 4,4 milhões de toneladas, na safra 2012/13, que está sendo colhida. Desse total, 1 milhão de toneladas devem ser exportadas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Na Argentina, de onde o Brasil compra cerca de 30% do trigo que consome, intempéries nos últimos três meses afetaram a safra de inverno. A bolsa de Cereais de Buenos Aires reduziu para 9,8 milhões de toneladas sua expectativa de colheita, queda de 30% em relação ao ciclo passado.
Até o momento, os agricultores argentinos colheram 42% da área plantada na safra 2012/13. As preocupações com os danos à cultura levaram o governo da presidente Cristina Kirchner a cortar a cota de exportação em 1,5 milhão de toneladas na semana passada. Ainda assim, a expectativa do mercado é de que o governo vai voltar atrás e liberar a venda desse volume ao exterior ao fim da colheita.
A ArgenTrigo, associação que representa os produtores de trigo do país, prevê que a safra 2012/13 alcance 10,5 milhões de toneladas, com um estoque de passagem de 1 milhão de toneladas e o consumo doméstico de 5,5 milhões de toneladas, o que deixaria 6 milhões de toneladas disponíveis para exportação - volume que, inicialmente, correspondia ao que o governo pretendia embarcar do cereal.
Assim, explica Lawrence Pih, o Brasil terá que buscar o cereal nos Estados Unidos. Ontem, a tonelada do trigo americano estava cotada a US$ 360 no porto nos Estados Unidos (Golfo). Somando-se as despesas de frete e a TEC, que incide em 10% nas importações de trigo de fora do Mercosul, o valor dessa carga chega ao moinho em São Paulo a US$ 470 por tonelada. Em reais, seria algo próximo de R$ 970. Já o trigo argentino foi cotado ontem a US$ 435 posto no moinho em São Paulo, cerca de R$ 900.
O cereal brasileiro vem buscando a paridade com o internacional e segue em alta. Segundo levantamento da Safras & Mercado, somente em dezembro, o trigo subiu 20%, para R$ 780 a tonelada, em Maringá (PR). No entanto, com a escassez do produto no Mercosul, a pressão altista vem se intensificando. "Eu recebi hoje oferta de venda a R$ 820 para o norte do Paraná", diz Pih.
Desde setembro, início da safra no Brasil, o trigo subiu 30%, segundo a Safras. O cereal importado é ainda onerado adicionalmente com a alta do dólar que, desde setembro, subiu 15%. "O aumento do custo de aquisição pelos moinhos supera 50% e, até agora, foram repassados 20 pontos percentuais para o preço da farinha", diz Pih. O repasse de outros 20 pontos será feito no primeiro trimestre de 2013", avisa o empresário.
Veículo: Valor Econômico