China amplia as importações de cereais

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O Estado de Nebraska, cercado de terra por todos os lados e encravado no meio do território dos Estados Unidos, nunca se sentiu tão próximo da China, que está importando mais cereais do que nunca. "A China é um destino cada vez mais frequente para as exportações" disse Greg Ibach, secretário de Agricultura do Nebraska, em recente visita a Pequim. Os embarques de produtos agrícolas do Estado americano para a China duplicaram nos últimos cinco anos.

Mas o Nebraska não é o único a chamar a atenção. Desde autoridades chinesas até executivos de tradings mundiais, o setor começou a reconhecer, sem alarde, que a China atravessa uma mudança estrutural ao se tornar uma importadora líquida de grãos. Até recentemente, a China importava apenas pequenas quantidades de arroz de tipo especial, volumes pouco significativos de trigo e quase nada de milho, ao insistir na autossuficiência. Mas isso está mudando: o país asiático, que já era o maior importador mundial de soja, está agora acrescentando cereais como milho, trigo, cevada e arroz à sua lista de compras.

A mudança pode ter implicações profundas para os mercados mundiais de alimentos porque a demanda total da China por grãos é grande em relação ao tamanho do mercado mundial de commodities. "A perda pela China de apenas um pouquinho de autossuficiência significa muita coisa na esfera do comércio exterior", diz Jean-Yves Chow, analista do banco Rabobank, um dos maiores financiadores globais do agronegócio. "Se a China importar 5% do milho que consome, isso é equivalente a um terço ou metade do comércio mundial de milho", afirma ele.

As importações chinesas de grãos já triplicaram até esta altura do ano. Cresceram para 13,4 milhões de toneladas de janeiro a novembro em relação às 4,5 milhões de toneladas do mesmo período de 2011. A farra de compras transformou a China no segundo maior país importador mundial de arroz e cevada, um dos dez maiores compradores de milho e um dos 20 maiores de trigo.

Os principais fatores determinantes dessa tendência são as mudanças de padrão alimentar, num momento em que mais chineses mudam para as cidades, onde normalmente consomem mais carne, o que exige mais produtos agrícolas que são a base da ração animal. A mudança elevou as pressões já enfrentadas pelo setor agrícola da China, que já tenta alimentar seus habitantes, equivalentes a 20% da população mundial, com pouca terra agricultável e pouca água.

Desde que a China ingressou em sua fase de alto crescimento econômico, há mais de três décadas, defrontou-se com advertências apocalípticas de que sua crescente demanda por alimentos geraria escassez em âmbito mundial. De um modo geral, essas advertências se revelaram equivocadas, uma vez que Pequim injetou bilhões de dólares em seu setor agrícola para manter a autossuficiência em três produtos: milho, arroz e trigo.

Embora a China ainda mantenha uma política oficial que determina um nível de autossuficiência de 95% no caso desses produtos - uma política conhecida como "linha vermelha" -, comentários recentes sugerem que a insistência na autossuficiência pode estar começando a perder força.

Chen Xiwen, um graduado funcionário governamental da área agrícola, reconheceu recentemente que o aumento das importações de grãos e de oleaginosas seria inevitável. "Fazer pleno uso dos recursos internacionais e dos mercados internacionais se tornou muito necessário", disse ele em simpósio em Pequim. "A produção agrícola da China cresceu, mas a demanda cresceu ainda mais depressa."

As grandes tradings mundiais estão se posicionando para lucrar com as importações chinesas de cereais. A Louis Dreyfus Commodities, por exemplo, descreve a escalada das importações de milho por parte da China como "uma medida capaz de mudar o jogo".

Executivos do setor dizem que a trading japonesa Marubeni está em posição de liderança para lucrar com as importações chinesas de cereais. A trading comprou este ano a Gavilon, uma trading americana de grãos de capital fechado, por US$ 5,3 bilhões, incluindo dívidas, com o objetivo de fornecer milho à China. A aquisição complementa seu acordo firmado em 2009 com a Sinograin, a estatal chinesa encarregada da reserva estratégica de produtos alimentícios, de "ampla cooperação".

Outras empresas também estão se preparando. A trading Archer Daniels Midland (ADM), com ações negociadas em Nova York, lançou este ano uma oferta não solicitada no valor de 2,8 bilhões de dólares australianos pela compra da australiana GrainCorp, uma das tradings independentes de trigo e cevada ainda operantes na região da Ásia-Pacífico. Patricia Woertz, principal executiva da ADM, disse recentemente aos investidores que seu objetivo era "conectar os produtores da Austrália com a crescente demanda mundial por produtos agrícolas e alimentos, principalmente da parte da Ásia", sugerindo interesse pela China.

Cargill, Bunge, Louis Dreyfus Commodities, Noble Group e Glencore também estão investindo em negócios que serão mais lucrativos caso a China importe, grandes volumes de trigo, cevada, arroz e milho nos próximos anos.



Veículo: Valor Econômico


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