Doença, que foi detectada em 2006, já atinge praticamente todas as plantações brasileiras
Uma praga chamada erinose, ou ácaro da lichia, já afeta 100% da produção da fruta no País. Desde 2006 - quando houve o primeiro registro da doença em pés de lichia em Tupã, no interior de São Paulo - até agora, a doença se espalhou e infectou todos os pomares no Estado de São Paulo (responsável por 90% da produção nacional) e também a totalidade das plantações de Minas Gerais, segundo Osvaldo Kiyoshi Yamanishi, professor da Universidade Brasília (UnB) e um dos maiores especialistas mundiais em cultura da lichia.
"Muitos produtores estão se desesperando e arrancando os pomares", diz Estevam Costa Marques, produtor de lichia em Taubaté (SP) e fundador do site Lichia.com, que presta assistência a agricultores da fruta.
O motivo do desespero é que não há remédio licenciado para a praga no Brasil. "O acaricida da maçã serviria para o controle da doença, mas o produto não é licenciado para o uso em lichia", explica Yamanishi. O licenciamento é feito pelo governo (por meio dos ministérios da Agricultura e da Saúde, além de órgãos como o Ibama), para empresas de defensivos agrícolas, mediante o pagamento de uma taxa que pode chegar a R$ 300 mil, diz o professor. O problema é que não há interesse mercadológico nesse investimento, uma vez que a cultura da lichia ainda é pequena no País e não atinge escalas industriais. Segundo o site Lichia.com, o Brasil tem aproximadamente 160 mil árvores de lichia.
O governo estuda há alguns anos, segundo o professor, a liberação do registro do acaricida independente do interesse de empresas de defensivos. "Mas existe muita burocracia."
Outra solução seria a poda da árvore, o que, segundo Marques, é muito custoso para o produtor, que acaba desistindo da cultura.
Nesse cenário, muitos agricultores acabam apelando para a ilegalidade e usam o acaricida da maçã ou outros defensivos, como a abamectina. "O problema é que, após três aplicações, o ácaro fica resistente ao defensivo", explica o especialista.
Ele recomenda a pulverização de uma solução de enxofre nas árvores, logo após a poda das partes infectadas. "Na Austrália, na China e no Havaí, os grandes produtores mundiais, a praga é controlada dessa maneira, que é uma prática da agricultura orgânica", diz.
Infecção. O ácaro da lichia é transmitido pelo vento, insetos e até mesmo por pessoas. "Alguém que visite um pomar infectado pode passar o ácaro para outras árvores por até 15 dias", afirma o produtor Marques. Ele esperava produzir 50 toneladas da fruta na última safra, que começou em novembro e termina agora. Mas, com a erinose, a produção caiu para 30 toneladas. "Estou mudando o pomar para Cuiabá, porque lá o calor parece inibir o ácaro."
Veículo: O Estado de S.Paulo