Na guerra entre os grandes conglomerados coreanos, a LG perdeu espaço para a rival Samsung durante dois anos consecutivos. Antes em posições próximas na disputa pelo mercado global de produtos eletrônicos, as companhias se distanciaram entre 2010 e 2011, principalmente por conta do desempenho da Samsung na área de dispositivos móveis.
Com aparelhos que conquistaram a atenção dos consumidores, a Samsung tornou-se a maior companhia de produtos eletrônicos do mundo, deixando a concorrente ofuscada. Mas, agora, a LG se diz pronta para voltar a uma disputa ombro a ombro. "Queremos ganhar espaço nas vendas de TVs e telefones mais caros", disse ao Valor Sean Choi, gerente global de marketing da companhia. Produtos dessa categoria têm preços maiores, o que significa margens melhores, exatamente o que a LG está buscando. Produtos sofisticados também costumam ajudar as companhias a ganharem ar de inovadoras, o que é bom para o fortalecimento de suas marcas.
Na Consumer Electronics Show (CES), em Las Vegas, a LG está mostrando alguns dos produtos que pretende usar sob a nova estratégia. Eletrodomésticos que podem ser controlados pelo celular, como geladeiras e máquinas de lavar roupa, e TVs com telas de alta definição, desenho mais fino e baixo consumo de energia estão entre as apostas. Em fevereiro, no Mobile World Congress (MWC), em Barcelona, a fabricante planeja mostrar a terceira parte de seu plano - os smartphones.
Companhia enfrentou problemas entre 2010 e 2011 por não ter previsto o crescimento acelerado da área móvel
"Hoje temos um resultado bastante equilibrado entre essas três linhas de produtos e queremos continuar assim, sem depender muito de apenas uma categoria", disse o executivo. Sob processo de retomada, a América Latina, especialmente o Brasil, são mercados-chave para a companhia, afirmou Choi. "A região será o motor de crescimento para a empresa", disse o executivo.
LG e Samsung formam o que os coreanos chamam de "chaebol", grandes conglomerados com atuação em diferentes segmentos. A LG, por exemplo, tem braços que vão da construção civil à indústria farmacêutica. Mesmo considerando só a área de eletrônicos, a diversificação é enorme. Ambas têm negócios na venda de produtos aos consumidores e na fabricação de componentes que são usadas pelas próprias empresas e pelos concorrentes - um PC da Samsung tem 75% de seus componentes fabricados por unidade especializada da própria companhia, uma divisão com receita de US$ 16 bilhões por ano, que vende seus produtos para empresas como Apple e Hewlett-Packard (HP).
Na avaliação de Choi, os problemas enfrentados pela LG entre 2010 e 2011 decorrem do fato de a companhia não ter previsto que a área de mobilidade cresceria tão rapidamente e, portanto, não ter se preparado para isso. Sem smartphones e tablets com desempenho de vendas semelhante ao de aparelhos da Samsung e da Apple, principalmente, a LG perdeu destaque e, consequentemente, receita.
David Paul Morris/Bloomberg / David Paul Morris/BloombergO smartphone Optimus G teve papel importante no lucro de US$ 142 milhões da LG no 3º trimestre do ano passado
Nos anos fiscais de 2010 e 2011 a companhia registrou resultados negativos - prejuízos de US$ 550,1 milhões e US$ 251,1 milhões, respectivamente - por conta do mal desempenho de sua área de telefones celulares.
A fabricante não conseguiu acompanhar o ritmo das rivais mais bem posicionadas, ficando fora da disputa pelo mercado de tablets e restrita a uma participação reduzida na área de smartphones. Com o resultado fraco, analistas chegaram a recomendar que a LG vendesse a unidade.
A postura adotada pela companhia em sua fase mais complicada, no entanto, foi de cautela. Em vez de se apressar para desenvolver novos produtos e brigar por participação de mercado, a LG preferiu investir no desenvolvimento de produtos que pudessem proporcionar mais chances em um ciclo futuro de lançamentos.
Os resultados da estratégia começaram a aparecer no terceiro trimestre fiscal de 2012, quando a companhia teve um lucro de US$ 142 milhões, impulsionado pela venda de eletrodomésticos. As vendas do celular de alto padrão Optimus G também ajudaram o grupo.
Na avaliação de Choi, produtos como esse mostram os avanços que a LG Electronics conseguiu durante seu período de ostracismo. O desenvolvimento do modelo selou uma aproximação mais forte com outras companhias do grupo, como a LG Display (que fabrica telas) e a LG Innotek (especializada em baterias).
No caso do Optimus G, as conversas entre a unidade de celulares e as demais empresas do grupo começaram bem mais cedo que de costume. Esse relacionamento ajudou a reduzir custos e criar tecnologias que, segundo a LG, podem diferenciar os aparelhos dos modelos feitos pela concorrência. "Vamos continuar a fazer isso daqui para frente", disse o executivo.
Veículo: Valor Econômico