Uma esperada falta de sementes compromete o tímido aumento de área previsto para as lavouras de trigo no Rio Grande do Sul, onde se pretende expandir os trigais de 0,9 para 1,1 milhão de hectares na safra de 2013/2014.
A escassez de matéria-prima decorrente dos baixos níveis de produtividade e de qualidade do estado na última temporada, também implica maior necessidade de importação do cereal neste ano.
Num cenário mundial em que países triticultores se recuperam de quebras históricas - com estoques de 63 milhões de toneladas (duas semanas de consumo) e preços superiores a R$ 750 por tonelada no mercado global -, o Brasil deve importar sete milhões de toneladas de trigo em 2013.
A tonelada do trigo está cotada a R$ 756 (RS) e R$ 653 (PR).
Este volume corresponde a um déficit de US$ 3 bilhões na balança comercial, calcula o presidente da Comissão de Trigo da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim. Segundo ele, as cotações da commodity devem se firmar nos patamares atuais ao longo do ano.
Atraído pela rentabilidade da cultura, o produtor gaúcho tende a ampliar sua área de produção, de acordo com a Farsul. Contudo, a intenção de cultivo deve esbarrar na falta de sementes. "Vamos ter dificuldades nesse sentido. Na colheita passada, os padrões mínimos da produção de sementes não foram atingidos ", diz Jardim.
A produtora Sementes Estrela, de Erexim (RS), que havia produzido 150 mil sacos (40 quilos) para 2012, sofreu quebra de 33% na lavoura destinada a este ano. De oito variedades plantadas, duas foram anuladas pelo clima, conta o empresário Efraim Fischmann.
"No ano passado, houve três ingredientes climáticos: seca em julho, geada em setembro e excesso de chuvas em novembro", lembra. "Foi uma rara conjugação do clima. Há muitos anos não ocorria, como em 2012, uma quebra que envolvesse as safras de verão e inverno", endossa Jardim.
Vide o Paraná
Enquanto os triticultores do Rio Grande do Sul buscam recuperar a produtividade perdida - a Farsul projeta, com otimismo, produção de três milhões de toneladas neste ano, ante 1,8 milhão na colheita passada -, os paranaenses vêm de uma temporada bem- -sucedida, em que colheram dois milhões de toneladas de trigo.
"O produtor gaúcho, ao contrário do paranaense, teve muito problema de qualidade", compara Jardim. Por esse motivo, 70% da produção do Rio Grande do Sul estão sendo vendidos a preço mínimo (cerca de R$ 500 por tonelada). "O processo de panificação exige trigo de alta qualidade", diz.
Já a oferta do Paraná tende, inclusive, a diminuir neste ano, pois os produtores vêm optando pela rentabilidade da segundo safra de milho (a "safrinha", de inverno), em vez de arcar com os riscos e oscilações do trigo, observa o representante da Farsul.
No caso das sementes, a oferta paranaense deve ser equilibrada neste ano e, além disso, encaminhada, em parte, aos agricultores gaúchos. A Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem) estima reserva de 2,5 mil sacos (50 quilos) da matéria-prima para este ano, repetindo o volume de 2012. Do total, 300 mil costumam ser encaminhados ao Rio Grande do Sul.
A Sementes Fróes, que atende quatro municípios ao norte do Paraná, diz que não houve problemas climáticos na região. Sua produção, de 140 mil sacos de sementes por ano, ficou estável em 2012. "Algumas variedades devem socorrer o Rio Grande do Sul, equilibrando nosso mercado."
Veículo: DCI