O homem de 16 bilhões de pílulas

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Como Luiz Donaduzzi, sócio de um laboratório paranaense, pretende passar a produzir mais da metade dos comprimidos e doses de medicamentos genéricos do mercado brasileiro.



A cerca de 150 quilômetros das Cataratas do Iguaçu, uma fábrica no município de Toledo, na região oeste do Paraná, produz anualmente dez bilhões de pílulas, comprimidos e doses líquidas de medicamentos genéricos. É um número que chama bastante a atenção, em especial por representar mais de um terço da produção nacional. O responsável por esse desempenho é o laboratório Prati-Donaduzzi, dono de um faturamento de R$ 500 milhões em 2012. Fundado há duas décadas pelo farmacêutico gaúcho Luiz Donaduzzi com a sua esposa, Carmen, o irmão Arno Donaduzzi e o genro Celso Prati, o laboratório prepara-se para um novo salto. Está investindo R$ 100 milhões em uma nova unidade industrial em Toledo, com previsão de inauguração em outubro de 2014.
 
Com ela, sua produção alcançará 16 bilhões de medicamentos, um crescimento de 50%. Apesar desse tamanho e do gigantismo dos números, a Prati-Donaduzzi é praticamente desconhecida no mercado nacional. Até recentemente, sempre operou fora do radar dos consumidores finais e das grandes redes de farmácias. Seu foco são os remédios de baixos preços vendidos para hospitais, por meio de licitações governamentais. Entre os seus maiores sucessos de vendas estão genéricos de omeprazol, voltado a disfunções gastrointestinais, e do analgésico paracetamol. “Vamos investir agora em remédios de maior valor agregado”, afirma Luiz Donaduzzi, presidente da Prati. O objetivo dessa estratégia é atingir novos mercados, sem perder, no entanto, o espaço conquistado nos hospitais.
 
Lentamente, a empresa já vem diminuindo a dependência do segmento. Em 2010, cerca de 90% da sua receita vinha das vendas hospitalares. No ano passado, já caíra para 60%, graças ao aumento do portfólio de produtos. Atualmente, a Prati vende 107 genéricos, mas já possui outros 50 medicamentos aguardando aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Para 2014, a meta é desenvolver 70 novos remédios. Está em seus planos produzir de forma terceirizada para grandes farmacêuticas multinacionais. Nessa nova leva de produtos, estão previstas áreas nunca antes exploradas pela empresa, como as de medicamentos para tratamento oncológico e remédios de marca própria com prescrição médica.
 
“Vamos aumentar em 25% nosso investimento em pesquisa e desenvolvimento”, afirma Donaduzzi. “O mesmo percentual será aplicado em marketing.” Uma das primeiras iniciativas nessa área é o patrocínio a uma equipe de stock car, caminho também seguido pelas fabricantes de genéricos rivais Eurofarma e Medley. A Prati também pretende, com o lançamento de novos medicamentos, ampliar o peso do varejo nos seus negócios, cuja atuação atualmente é focada em redes menores e regionais. “As grandes redes de farmácias vêm nos procurar, mas ainda não temos capacidade para atendê-las”, diz Eder Maffissoni, vice-presidente da farmacêutica. Para levar à frente seu projeto de expansão, a saída foi buscar em São Paulo funcionários de grandes empresas, incluindo de rivais.
 
Dos atuais oito diretores, cinco foram contratados em 2012. Outros sete gerentes de primeiro nível também foram recrutados fora. “Avisei o Carlos Sanchez (dono da EMS) de que estava sendo sondado pela Prati e iria visitá-los, mais para conhecê-los do que por interesse em mudar de emprego”, diz Marco Aurélio Miguel, ex-diretor de marketing da EMS, que assumiu o mesmo cargo na Prati. “Quando cheguei em Toledo, fiquei impressionado com o projeto e com o tamanho da fábrica.” Fontes do mercado afirmam que um dos motivos para os planos de reformulação da Prati está no interesse de vender parte de seu controle. O que é negado por Donaduzzi. “Somos apaixonados pelo trabalho e não faz sentido começar em outra atividade agora”, diz o fundador.
 
“Há um assédio muito grande das estrangeiras, até porque há poucas empresas de genéricos brasileiras viáveis.” Além da Medley, comprada pela francesa Sanofi-Aventis, a Teuto já vendeu uma fatia de 40% para a americana Pfizer e a Multilab foi incorporada à japonesa Takeda. A EMS, líder do mercado, não tem parceiros internacionais, nem planos de se associar a eles. Independen­temente disso, Donaduzzi já prepara a sucessão no comando da empresa. O acordo entre os acionistas limita a presença de familiares na administração. “Em quatro anos, devo sair da presidência e ficar só no conselho de administração”, diz Donaduzzi. “Vou preparar um sucessor, que provavelmente será o Eder Maffissoni.” Algo que a empresa não deve mudar é o caráter particular do seu modelo de atuação.
 
A empresa não leva em conta os livros de administração que preconizam o foco estrito no negócio principal e a terceirização das atividades não centrais. A Prati prefere fazer tudo por conta própria, da operação logística à fabricação de embalagens. Até mesmo a obra da nova fábrica está sendo tocada pelo sócio Arno, que tem experiência em engenharia. O laboratório possuiu também uma estrutura própria de distribuição que rivaliza em tamanho com as maiores empresas do setor, no País, como a Panarello e Santa Cruz. A Prati leva por conta própria seus medicamentos a 40 mil estabelecimentos, o que representa 75% de suas vendas. “Não olhamos para os concorrentes para imitar estratégias, mas para saber o que fazer de outro jeito”, afirma Maffissoni.



Veículo: Revista Isto É Dinheiro




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