Geladeiras e fogões estão mais caros

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Pressão da indústria para repassar custos e aumento do IPI provocam impasse com lojistas e reduzem estoques de produtos


Diversos modelos de fogões, geladeiras e máquinas de lavar já estão mais caros – e não apenas em razão da volta gradativa do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Fabricantes pressionam o varejo para reajustar toda a linha, alegando aumento de custos. Essa negociação já estaria provocando escassez de produtos mais populares.

As principais redes de comércio do Estado têm sido procuradas pela indústria nas últimas semanas para discutir prazos e condições para elevar os preços. Manlec e Colombo admitem que há pressão dos maiores fabricantes, como Electrolux e Whirlpool, dona das marcas Consul e Brastemp.

– A indústria argumenta que o custo da mão de obra e do aço tem aumentado nos últimos meses e há necessidade de subir os preços – afirma Atílio Manzoli Júnior, diretor da Manlec e conselheiro da Câmara dos Dirigentes Lojistas da Capital (CDL).

Conforme Manzoli, as negociações iniciaram em meados de 2012, mas nos últimos meses parte dos fabricantes começou a reajustar os produtos. O varejo tentou evitar o repasse imediato, substituindo marcas e produtos mais caros por outros que não elevaram os preços.

– Por enquanto, dá para compensar reajustes negociando com fornecedores, mas em algum momento chegará ao consumidor – alerta Manzoli.

O valor pleiteado pela indústria não é revelado pelo varejo por questão estratégica (cada rede negocia sob diferentes termos), mas, conforme analistas, varia de 2% a 3%. Gustav Gorski, economista-chefe da Quantitas Asset, destaca que algumas altas já ocorreram em janeiro, o que aponta uma reversão na sequência de corte de preços nos meses anteriores. Embora parte do varejo não admita o aumento, o repasse já é constatado em pesquisa de inflação. Conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), houve alta de 1,72% nos fogões e de 1,13% nas geladeiras no mês passado.

Em fevereiro, parte da alíquota de IPI reduzida foi reposta, o que implicará nova alta de preços, possivelmente além da diferença do imposto.

– A pressão por reajuste é maior para geladeiras e freezers. Como a indústria já está cobrando mais, o consumidor começará a perceber preços maiores já neste mês, conforme recebemos produtos com os novos valores – explica o gerente de compras da Colombo, Leandro Arruda.

Produtos de maior saída estão escassos

Comerciantes têm reclamado de demora da indústria para atender aos pedidos de novos produtos. Itens com alta procura e que demandam entrega rápida, como máquinas de lavar roupa de 11 quilos e geladeiras frost free, estariam levando até 60 dias para chegarem aos estoques das lojas – prazo que normalmente é de 10 dias. Varejistas consideram uma forma de a indústria pressionar para que os reajustes sejam aceitos na totalidade.

– Existe a questão da demanda, que foi forte nos últimos meses e obrigou os lojistas a encomendarem mais. Mas essa demora para entregar os itens com maior procura é atípica – afirma Vitor Koch, presidente da Federação das CDLs do Rio Grande do Sul.

Lojistas já começam a evitar a venda de produtos cuja reposição ficou mais difícil, para se prevenir contra quebra de contrato com clientes. Em uma das lojas da TaQi na Capital, o gerente de vendas, que pede para não ser identificado, afirma que os fornecedores deixaram de se comprometer com a entrega de alguns modelos de geladeiras.

– A situação começou em dezembro e se arrasta até agora – afirma o gerente.

Entidade que representa a indústria eletroeletrônica no país, a Eletros admite que existe a necessidade de elevar os preços para cobrir custos de parte da indústria, mas nega que fabricantes possam estar dificultando as encomendas.

– Houve elevação das vendas em dezembro, com muitos clientes interessados em aproveitar o IPI menor, e as encomendas cresceram. Além disso, muitas fábricas dão férias coletivas nesta época do ano, o que pode causar atraso em algumas entregas. Mas hoje está tudo resolvido – afirmou o presidente executivo, Lourival Kiçula.

O caminho do aumento
A pressão da indústria sobre o varejo para elevar o preço dos produtos acaba no bolso do consumidor:

Custos mais altos
O aço usado em eletrodomésticos da linha branca (fogão, tanquinho, geladeira e máquina de lavar) subiu cerca de 5% nos últimos seis meses. E o salário mínimo teve aumento bem acima da inflação em 2012. Os dois itens representam em torno de 30% do custo para a indústria.

A volta dos tributos
A partir de fevereiro, começou a chamada recomposição das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Ou seja, os tributos que o governo reduziu no passado voltaram a subir. Fogões, por exemplo, estavam isentos até 31 de janeiro. A alíquota avançou para 2% e, em julho, subirá para 4%.

O cerco
A atuação mais intensa da indústria sobre o varejo para repassar os aumentos do aço e da mão de obra teve início no fim de janeiro, véspera do fim do corte do IPI. Assim, os varejistas enfrentam dupla pressão: elevar o preço em razão da alta dos tributos e do repasse dos fabricantes.

Ação e reação
Os varejistas resistiram em aceitar todos os reajustes pedidos pela indústria, tentando diversificar os fornecedores. A indústria, então, reduziu o ritmo de entrega dos produtos. Na prática, para alguns modelos, o aumento ainda não chegou. Mas, para outros, em especial os mais comuns, o repasse já ocorreu.

Consequências para o consumidor
O aumento foi detectado no cálculo da inflação de janeiro, medida pelo IPCA. O fogão, por exemplo, subiu 1,72%, e a geladeira, 1,13%. Modelos que não tiveram aumento de preço estão mais difíceis de encontrar no mercado.



Veículo: Zero Hora - RS


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