Escândalo da carne de cavalo ganha proporções maiores e mais produtos têm as vendas suspensas; rede de tráfico já envolve cinco países
O escândalo envolvendo o comércio irregular de carne de cavalo não para de crescer de proporções na Europa. As autoridades sanitárias da França cancelaram ontem a autorização de venda de produtos da marca Spanghero, fornecedor da carne da fabricante de congelados Findus.
O caso, descoberto no Reino Unido, já envolve a França, a Romênia - país de procedência da carne - e a Holanda, onde trabalhariam intermediários responsáveis pelo tráfico, além de dez países em que carne equina foi consumida em lugar de bovina.
Ontem, a Direção Geral da Concorrência, o Consumo e a Repressão de Fraudes (DGCCRF) da França acusou a Spanghero de "fraude econômica". Por ordem do Ministério da Economia Social e do Consumo, as autorizações da marca foram suspensas pela vigilância sanitária, obrigando a empresa a anular os trabalhos em sua linha de tratamento de carne.
Além disso, as autoridades sanitárias da Europa estão realizando 2,5 mil testes de DNA em todo o continente para identificar a eventual presença de carne de cavalo nos produtos.
"A Spanghero sabia que revendia carne equina como carne bovina, que lhe chegou com etiqueta aduaneira correspondente", acusou o ministro da Economia Social, Benoit Hamon.
Segundo a companhia, seus profissionais não reconheceram o código de comercialização da carne, 0205 XXXX, como referente a produto de origem equina. Na Europa, os códigos de carne bovina são 0201 XXXX e 0202 XXXX. Conforme a Direção Geral da Concorrência, essas indicações são de domínio dos profissionais desse setor da economia.
Segundo o presidente da companhia, Barthélémy Aguerre, não teria havido má-fé de parte da Spanghero na distribuição da carne errada. "Para nós, o código de oito números não correspondia a um código aduaneiro", justificou Aguerre. "Se tivéssemos querido fraudar, nós teríamos trocado as etiquetas de código."
De acordo com o executivo, o escândalo põe em perigo a própria existência do frigorífico, situado na cidade de Castelnaudary, no sul da França, junto à fronteira com a Espanha. "O governo coloca em perigo 300 pessoas que trabalham na Spanghero", afirmou, reclamando da proibição de venda sem que haja risco sanitário.
Pânico. Em Bruxelas, o comissário europeu de Saúde, Tonio Borg, convocou a imprensa para esclarecer que o escândalo não configura uma crise de segurança alimentar, já que não há risco no consumo. "Nós não devemos semear o pânico", exortou.
O problema é que as suspeitas de fraude despertaram temor na população, ainda traumatizada pelo mal da vaca louca no Reino Unido. Consumidores acusam as autoridades sanitárias de falta de controle sobre os alimentos na Europa.
Como consequência, empresas do setor temem uma crise econômica causada pela queda nas vendas. Produtos como lasanhas, canelones e massas congeladas em geral vêm sendo retirados das prateleiras de grandes redes supermercadistas da França, como Carrefour, Monoprix e Picard. Essa situação se reproduz em outros países da Europa.
O consumo de carne de cavalo é um hábito difundido na França, mas é reprovado pela maioria dos consumidores em outros países, como o Reino Unido, onde a Agência de Segurança Alimentar localizou ontem traços desse tipo de carne em 29 produtos, entre 2,5 mil investigados.
Alimentos congelados suspeitos também vêm sendo analisados em países como a Áustria, a Noruega e a Dinamarca. O caso ganha características de escândalo porque um outro frigorífico, desta vez na Holanda, também foi descoberto misturando carnes equina e bovina para baixar custos. Nos dois casos, a procedência do produto é a mesma: a Romênia.
Veículo: O Estado de S.Paulo