Dominar tecnologia e novos formatos, junto a capacidade de produção a preço competitivo, é determinante no futuro das companhias
"Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, salve a Seleção. De repente é aquela corrente pra frente..." - O refrão que ficou popular na Copa de 70, a primeira a ser transmitida ao vivo para todo o país, marcou época e ficou na memória dos brasileiros. De lá para cá, muita coisa mudou. A população mais que dobrou, o país não vive mais o milagre econômico e o mercado de televisores, que na época engatinhava, hoje movimenta cifras bilionárias. Só a paixão pelo futebol continua a mesma.
De olho na popularidade das competições esportivas, as empresas pretendem ampliar as vendas.
– Nada no mundo vende mais televisão do que a Copa do Mundo, e nós teremos produtos competitivos para a ocasião – afirmou Silvio Stagni, diretor de televisão da Samsung no Brasil.
As empresas sul-coreanas, aliás, parecem entender, como nenhuma outra, o dinamismo e a velocidade do setor. A LG, outra companhia com sede na Coreia do Sul, estima faturar no mercado brasileiro US$ 3 bilhões em 2013, aumento de 20% no volume de negócios em relação ao ano passado.
– Fechamos 2012 em segundo lugar, com fatia de 25% do mercado. Mas já em janeiro assumimos a liderança, com 27% – estima a gerente de marketing de televisores da LG Brasil, Fernanda Summa.
Enquanto isso, as três grandes fabricantes japonesas de televisores – Sony, Panasonic e Sharp – vêm enfrentando dificuldades em acompanhar o ritmo dos vizinhos asiáticos.
A Sharp prevê um prejuízo operacional de US$ 1,94 bilhão no ano fiscal que termina em 2012. Para tentar reverter a situação, a empresa prometeu mudanças e redução de custos: até agora já foram demitidas mais de 5 mil pessoas.
– As empresas japonesas investem muito em inovação, assim como nós. A diferença é a velocidade na tomada de decisão. Aqui tudo é muito rápido – explica Fernanda.
A Semp Toshiba, companhia nipo-brasileira muito popular nas Copas de 94 e 98, também sente os efeitos desse novo cenário. Em cinco anos, viu o faturamento cair 36% e, desde 2011, amarga prejuízos. O empresário Affonso Hennel, 83 anos, que ajudou a fundar a Semp e já estava aposentado, até voltou a dar expediente para tentar reverter o quadro.
Mas o caso mais emblemático talvez seja o da Philips que, depois de enfrentar prejuízos em série, anunciou em janeiro passado a venda da divisão de eletrônicos. A companhia vai se concentrar em produtos de iluminação e equipamentos médicos. A empresa holandesa, que já foi referência em inovação, apresentando ao mundo tecnologias como a fita cassete, o videocassete e o CD, não resistiu à velocidade do mercado.
Muda o formato, muda o mercado
Os televisores de tubo aos poucos estão se transformando em raridades, do tipo que só se encontra em museu. Populares nas salas de estar, os aparelhos perdem espaço no mercado para os televisores de LED ou plasma. E tudo isso em uma velocidade estonteante.
Mesmo a tela plana, hoje artigo comum em qualquer residência do país, chegou ao Brasil há apenas 11 anos, três Copas atrás. Dominar a tecnologia e o novo formato e, mais do que isso, ser capaz de produzi-los a um preço competitivo, é determinante para o futuro das companhias.
– Temos produtos para todas as faixas. Desde aparelhos mais caros até os com preço mais em conta – explica o diretor de marketing da LG, Pablo Vidal, de olho na entrada da classe C no mercado de consumo.
Mas algumas inovações ainda trazem mais dúvidas do que certezas. As TVs 3D, por exemplo, são caras e dispõem de conteúdo escasso. E o problema mais sério: a maioria das pessoas não se adapta ao uso obrigatório de óculos.
Talvez a Copa do Mundo ajude. Grandes eventos internacionais costumam ter impacto sobre consumidores ainda indecisos e os deixa dispostos a gastar um pouco mais.
Veículo: Zero Hora - RS