Medida que vale para supermercados e eletrodomésticos acabaria em abril
BUENOS AIRES – O governo da presidente argentina, Cristina Kirchner, pretende estender o congelamento de preços em supermercados e redes de eletrodomésticos até depois das eleições legislativas, marcadas para o próximo mês de outubro. A decisão da Casa Rosada foi transmitida pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, a empresários locais, segundo confirmou a presidente da Câmara Empresarial de Desenvolvimento Argentino e de Países do Sudeste Asiático (Cedeapsa), Yolanda Durán. O congelamento foi aplicado pelo Executivo argentino em fevereiro passado e, de acordo com o cronograma inicial, terminaria no próximo dia 1º de abril.
— Moreno nos disse que (o congelamento) está funcionando bem e vão ampliar o prazo até depois das eleições — confirmou Yolanda, que representa os supermercados chineses, de presença cada vez mais expressiva, principalmente em Buenos Aires e municípios da Grande Buenos Aires.
A inflação é uma das grandes pedras no sapato da Casa Rosada, que este ano enfrentará um novo teste eleitoral, considerado crucial pelos políticos kirchneristas. O governo pretende ampliar sua bancada no Congresso e, assim, reforçar sua base de apoio político, já pensando no pleito presidencial marcado para 2015.
Para que Cristina possa disputar um terceiro mandato consecutivo, o Congresso deveria aprovar uma reforma constitucional, possibilidade que a presidente insiste em descartar, mas que seus aliados continuam defendendo publicamente.
Estratégia eleitoral
Manter os preços congelados seria, portanto, uma estratégia eleitoral destinada, principalmente, a conquistar os votos da classe média, setor que nos últimos anos distanciou-se do projeto de poder kirchnerista. A disparada de preços é hoje, ao lado da alta percepção de insegurança, uma das principais preocupações dos argentinos.
De acordo com dados recolhidos por deputados da oposição, que todos os meses divulgam o chamado Índice de Preços do Congresso, em janeiro passado a inflação atingiu 2,58%, bem acima do 1,1% comunicado pelo Indec (o IBGE argentino). O IPC do Congresso é calculado com base em projeções de analistas privados, que suspenderam a publicação de suas estatísticas diante de pressões do governo.
Segundo os congressistas opositores, entre janeiro de 2012 e o mesmo mês deste ano, a inflação acumulada foi de 26,28%.
Desde que foi aplicado o congelamento de preços, associações de consumidores denunciaram a escassez de alguns produtos como açúcar, farinha e óleo, principalmente das marcas mais baratas.
Veículo: O Globo - RJ