Atrás de novo mercado, fabricantes nacionais investem em produto de melhor qualidade
Há dez anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu que, no Brasil, o chocolate precisava ter, no mínimo, 25% de sólidos totais de cacau (massa de cacau e manteiga de cacau). A resolução veio após uma pressão da indústria, que defendia que o porcentual adotado não fosse alto para que o produto pudesse ter preços menores.
O problema, dizem os especialistas, é que, mesmo estabelecendo um patamar mínimo, a resolução da Anvisa acabou nivelando por baixo a qualidade do chocolate nacional, que ganhou mais açúcar e gordura. Mas, recentemente, a indústria começou um movimento contrário. Seguindo o que já aconteceu com o vinho, com o café e com as cervejas, o consumidor começa agora a querer conhecer chocolates de melhor qualidade.
De olho nessa tendência, várias empresas brasileiras estão lançando o que chamam de "chocolates gourmet", com maior teor de cacau, melhores ingredientes e qualidade compatível a de produtos da Bélgica e Suíça, onde o teor mínimo de cacau nos chocolates é de 40%.
"Esse movimento começou quando as pessoas ganharam mais poder aquisitivo e passaram a viajar mais e a experimentar o chocolate mais fino", diz Ubiracy Fonseca, vice-presidente de chocolates da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab).
Com a demanda criada, o primeiro passo foi dado por marcas importadas, que passaram a investir mais no consumidor brasileiro. A suíça Lindt, por exemplo, tem hoje 20% mais pontos de vendas no País do que tinha em 2010. No ano passado as vendas da marca (importada pela Aurora) tiveram alta de 30% em volume. Para 2013, espera-se vender 20% mais.
A reação das empresas nacionais veio em seguida. A rede de chocolaterias Cacau Show importou equipamentos da Bélgica para fazer aqui, em sua fábrica de Itapevi (SP), chocolates gourmet. "É um maquinário igual ao que a Godiva usa", diz, referindo-se à tradicional marca belga, Alexandre Costa, presidente da Cacau Show. Para ele, a tendência de sofisticação dos chocolates não é só um modismo. "A migração do consumidor para os chocolates premium é um caminho inevitável e sem volta", diz ele.
A própria Nestlé, que lançou há alguns anos a linha Gold, de chocolates importados da Suíça, já ensaia a fabricação de alguns produtos especiais no Brasil. Nessa Páscoa, a empresa lançou, somente na cidade de São Paulo, um ovo especial, em parceria com a chef Carole Crema, dona da doceria La Vie en Douce.
A Harald, fabricante especializada no segmento de coberturas e que fornece para outras indústrias e pequenos confeiteiros, investiu R$ 12 milhões para criar duas linhas de chocolates finos: uma para empresas de alimentos, outra para o consumidor comum. "Fizemos parcerias com produtores de cacau na Bahia e no Pará para comprar deles o cacau fino, aquele que geralmente é exportado para a Europa", diz Jacob Cremasso, diretor comercial da Harald.
Hoje, segundo dados da Abicab, o mercado de chocolates gourmet ainda é pouco expressivo, mas vem crescendo até três vezes mais que o segmento comum. A associação - que está criando um departamento dedicado exclusivamente a esse nicho - estima que 2% do mercado total de chocolates é movimentado pelos gourmet. "É pouco. Mas há três anos isso era zero", diz Fonseca. Hoje, segundo a entidade, o Brasil é o terceiro maior produtor de chocolates do mundo. Fechou 2012 com 732 mil toneladas - produção 3,1% maior que 2011. Em consumo, o País está em quarto lugar, com 2,2 kg de chocolate consumidos por pessoa ao ano. "Há três anos, essa média era de 1,65 kg, o que aponta para um cenário otimista", diz Fonseca.
Veículo: O Estado de S.Paulo