Preço será fixado de acordo com o maior valor cobrado por região
BUENOS AIRES – O governo argentino fixou preços máximos para os combustíveis (gasolina e nafta) pelos próximos seis meses. A medida começa a valer a partir desta quinta-feira e será mantida, segundo o governo, até as eleições legislativas, marcadas para outubro.
A decisão foi anunciada pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, e publicada no “Boletín Oficial” – o Diário Oficial argentino – nesta quarta-feira.
Segundo o artigo 1º da resolução 35/2013, que estabelece o congelamento, o “preço máximo de comercialização dos hidrocarbonetos líquidos a ser aplicado (...) será igual ao mais elevado do dia 9 de abril do corrente ano, nas regiões citadas”.
O texto, separado em sete artigos, afirma ainda que os “sobre os efeitos da aplicação, ficará a cargo das empresas dedicadas à destilação, comercialização do petróleo e de seus derivados informar para conhecimento de seus clientes o preço mais alto em cada região”.
Para isso, o país foi dividido pela medida em seis regiões, com sensíveis diferenças de preços: Buenos Aires, Patagônica (Neuquén, Río Negro, Chubut, Santa Cruz e Terra do Fogo, Antártida e ilhas do Atlântico Sul); Pampeana (Córdoba, Santa Fé e La Pampa); Cuyo (San Juan, San Luis e Mendoza); Noroeste (Jujuy, Salta, La Rioja, Tucumán, Catamarca, e Santiago del Estero); Nordeste (Formosa, Chaco, Misiones, Corrientes e Entre Ríos).
Medida prejudica a YPF, diz ex-executivo da empresa
Em entrevista à Agência Brasil, o ex-presidente da empresa de petróleo argentina YPF, Daniel Montamat, criticou a medida.
— O congelamento é uma medida de conjuntura para controlar a inflação em ano eleitoral, mas prejudica a YPF, controlada pelo estado.
Montamat, que também exerceu o cargo de secretário de Energia, lembrou que “a YPF tem 58% do mercado de óleo diesel, 57% do mercado de gasolina Premium e 53% do mercado de gasolina super”.
Ele conta que há um ano o governo expropriou 51% das ações da YPF, que pertenciam a Repsol, alegando que a empresa espanhola não estava investindo em produção. A escassez de combustível levou a Argentina a gastar US$ 9,5 bilhões, em 2012, na importação de energia – quase a totalidade do seu saldo na balança comercial. Este ano, os gastos estimados eram de US$ 13 bilhões, mas um incêndio no início deste mês na refinaria da YPF, em Ensenada, prejudicou a produção local.
— A Argentina descobriu recentemente novas e importantes reservas, mas precisa de investimentos locais e estrangeiros para explorá-las e medidas como esta não ajudam — disse Montamat. — As empresas aqui vão ter que vender combustível pelo mesmo preço até outubro, apesar de os custos de produção aumentarem – devido à inflação – e de termos que importar energia a preço de mercado.
Em outubro, serão realizadas eleições legislativas na Argentina: a inflação e a insegurança estão no topo da lista das preocupações dos eleitores, segundo pesquisas de opinião. Oficialmente, a inflação na Argentina não passará de 11% este ano, mas segundo economistas independentes e sindicatos, o custo de vida aumentará entre 25% e 30% em 2013. Os aumentos salariais, no entanto, devem superar os 20%. Na Argentina, os aumentos são negociados entre empresários e sindicatos, mas precisam ser aprovados pelo Ministério do Trabalho.
Segundo Montamat, resolver a questão de escassez de energia na Argentina leva tempo e dinheiro.
— A YPF calcula que tem que investir US$ 7,5 bilhões ao ano, durante cinco anos. Mas precisa de parceiros e estes só virão se houver uma política energética estável.
Veículo: O Globo - RJ