Lojas de teles e varejistas em rota de colisão

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O avanço das vendas de aparelhos celulares no varejo tem obrigado as operadoras de telefonia móvel a diversificar suas estratégias para atrair consumidores às suas lojas. No ano passado, as companhias aumentaram seus gastos com subsídios e incrementaram as vendas de aparelhos. As vendas nas lojas das operadoras ajudam a estimular a assinatura de planos de dados e acesso à internet, mais rentáveis que os serviços de voz. O interesse das operadoras concentra-se nos smartphones, aparelhos com acesso à internet e de valor agregado mais alto.

Uma pesquisa realizada pela GfK Retail and Technology a pedido do Valor revelou que, apesar dos esforços das teles, as vendas crescem de forma mais acelerada no varejo. Em fevereiro, os celulares no varejo e sem chip de operadoras já representavam 52,6% das vendas totais no país. No caso de smartphones, o índice chega a 42,3%. Há dois anos, o varejo respondia por 31% das vendas totais de celulares no Brasil.

Benjamin Sicsú, vice-presidente da Associação Brasileira de da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), disse que, há seis anos, praticamente todos os aparelhos eram vendidos com planos de operadoras, mas, atualmente, o nível é inferior a 50%. "A tendência é que cada vez mais o consumidor prefira adquirir aparelhos sem plano", afirmou

Para representantes das operadoras e dos fabricantes, esse movimento está ligado a um amadurecimento do mercado de telefonia móvel. De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a média de celulares por habitante no país chegou a 1,3. A maioria das vendas tem por objetivo a troca de aparelhos que já possuem linha. Outro fator citado pelos executivos são os preços mais baixos, ou o maior número de parcelas nas vendas a prazo.

Diante desse cenário e do interesse em atrair consumidores interessados em trocar seus celulares por smartphones, as operadoras diversificaram iniciativas para atrair mais clientes às suas lojas.

A Claro, controlada pela América Móvil, investe na abertura de lojas para atender aos clientes. Em 2012, a companhia abriu 72 lojas e passou a ter 324 unidades no país. Neste ano, inaugurou outras três. A operadora também decidiu oferecer descontos de 20% a 40% no preço dos planos de dados ilimitados para clientes que decidem comprar o aparelho em outras lojas. "É uma maneira de beneficiar os nossos clientes", afirmou Ricardo Cesar de Oliveira, diretor nacional de vendas consumo da Claro.

Em 2012, as despesas da Claro com subsídios de aparelhos cresceram 8%, para R$ 1,8 bilhão. No ano, a operadora liderou os acessos com dispositivos móveis no país, com participação de 39,9%, de acordo com o "Balanço Huawei de Banda Larga". Na sequência estão Vivo, TIM e Oi, com fatias de 28,2%, 22,1% e 9,1%, nessa ordem. Oliveira associou o resultado da Claro à oferta de planos de acesso à internet de R$ 0,50 por dia para clientes pré-pagos e ao aumento de subsídios na venda de smartphones. Essas políticas serão mantidas pela companhia.

A Telefônica/Vivo voltou-se à oferta de subsídios para clientes pós-pagos que têm planos de dados e que querem trocar de aparelho. "Nas lojas da Vivo, o foco são os clientes pós-pagos, e quanto maior o plano, maior o desconto na compra do aparelho", afirmou Fábio Avelar, diretor de planejamento e gestão comercial da Vivo. O executivo disse que as vendas de aparelhos para clientes pré-pagos são maiores no varejo e, por isso, a operadora tem procurado reforçar parcerias para estimular a oferta de chips da Vivo nessas redes.

A TIM, controlada pela Telecom Italia, também decidiu reforçar parcerias com redes varejistas, como Casas Bahia e Magazine Luiza, para incrementar as vendas de aparelhos com o chip da operadora. "As vendas nesse tipo de varejo têm crescido fortemente e a tendência é que continuem aumentando", afirmou Fabio Cristilli, diretor de internet, serviços de valor adicionado e aparelhos da TIM.

Nas lojas próprias, a TIM reforçou a oferta de smartphones a preços populares (abaixo de R$ 400) e também os subsídios para possibilitar a venda de tablets com conexão de terceira geração (3G) abaixo de R$ 800. Segundo Cristilli, em 2012, a operadora respondeu por 50% das vendas de tablets 3G no país. Neste ano, a expectativa é elevar as vendas desses aparelhos em quatro vezes em relação a 2012. "Haverá um forte crescimento do mercado de tablets, e a meta é ampliar as vendas de planos de dados com a oferta de tablets", disse.

A Oi, por sua vez, optou pela oferta em suas lojas de smartphones mais sofisticados, vendidos com descontos ou pagamento parcelado. "Os consumidores que frequentam as lojas têm mais interesse em adquirir aparelhos de maior valor agregado, sobretudo smartphones", disse Bernardo Weisz, diretor de equipamentos da Oi. O executivo disse que a política de subsídios adotada em 2012 será mantida. A Oi foi a que mais resistiu a subsidiar a venda de aparelhos. No ano passado, a tele registrou um aumento de 2.027% nas despesas com aparelhos e acessórios, para R$ 507 milhões.



Cresce demanda por celular que aceita mais de um chip


Ao mesmo tempo em que as companhias de telecomunicações procuram reforçar os subsídios às vendas de smartphones e desenvolvem planos de dados para atrair e cativar mais clientes, os consumidores tentam escapar da dependência de uma única operadora com a aquisição de aparelhos capazes de operar com duas ou mais linhas ao mesmo tempo.

De acordo com fabricantes ouvidos pelo Valor, a procura por esse tipo de aparelho antes era restrita a celulares mais baratos. Nos últimos meses, porém, cresceu a procura por smartphones mais sofisticados com essas características. A consultoria GfK Retail and Technology não divulga o número de vendas de smartphones que aceitam mais de um chip (chamados "multi SIM"), mas confirma que o crescimento foi mais forte nas vendas de aparelhos na faixa entre R$ 450 e R$ 699.

Atentos a essa tendência, os fabricantes tentam incrementar a oferta de smartphones com essas características. A Samsung, que registrou um aumento na participação de mercado de 17% em 2011 para 42,4% em 2012, segundo a consultoria Gartner, reforçou a oferta de aparelhos que aceitam dois chips. Michel Piestun, vice-presidente de telecomunicações da Samsung, disse que de 50 modelos lançados por ano, 12 permitem o uso de mais de uma linha. "Alguns dos nossos campeões de vendas são smartphones com dois chips", disse.

Neste ano, a Samsung lançou também modelos de mais alto valor agregado, como o Samsung Galaxy III, com dois cartões de memória. Piestun afirmou que, após fazer pesquisas com consumidores, observou que há uma demanda reprimida entre usuários de aparelhos mais sofisticados por smartphones com essas características. "Muitos profissionais possuem uma linha de telefonia móvel particular e uma para o trabalho e é conveniente reunir as duas em um aparelho elegante para apresentar no local de trabalho", disse o executivo. Piestun informou que as vendas de smartphones cresceram 78% no país em 2012 e há espaço para manter esse ritmo de expansão neste ano, com destaque para aparelhos com mais de um chip.

A LG Electronics, que aumentou sua participação de mercado em smartphones de 7,2% para 13,3% no ano passado, também reforçou a oferta de aparelhos que aceitam dois ou mais chips. Raphael Rocha, gerente-geral de produtos e estratégia da LG disse que 40% das vendas de smartphones são de aparelhos com essas características. "A maioria dos usuários no país adota planos pré-pagos e tem interesse em manter mais de um chip para aproveitar as promoções", disse. O executivo afirmou que a LG já oferecia smartphones com dois e três chips e, no próximo mês, vai trazer ao mercado aparelhos que aceitam quatro chips. A maioria das vendas desses produtos é voltada a redes varejistas.

Rodrigo Vidigal, diretor de marketing da Motorola Mobility, afirmou que a fabricante também ampliou a oferta de smartphones sofisticados com mais de um chip. "Esse tipo de tecnologia tem atraído bastante os consumidores", afirmou. No ano passado, a participação da Motorola Mobility cresceu de 4,2% para 8,2%, segundo o Gartner. Vinicius Costa, gerente de portfólio e produtos da Nokia, também relatou um aumento da procura por modelos com dois chips.



Veículo: Valor Econômico


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