Um forte encarecimento de produtos lácteos foi o principal responsável pelo aumento do índice de preços globais de alimentos da agência das Nações Unidas para agricultura e alimentação (FAO) em março. Depois de oscilar na faixa de 210 pontos entre dezembro e fevereiro, o indicador alcançou 212,4 pontos no mês passado, maior patamar desde outubro de 2012.
De acordo com relatório divulgado ontem pela FAO, houve aumentos médios das cotações em dois dos cinco grupos de produtos pesquisados. No caso dos lácteos, o indicador alcançou níveis recordes, também verificados em 2011. Impulsionado pela queda de produção provocada por uma estiagem na Nova Zelândia, país que lidera as exportações globais nesse mercado, chegou a 225,3 pontos, ante os 203 em fevereiro.
O indicador do açúcar também subiu, mas pouco. Por conta dos atrasos das exportações brasileiras decorrente das filas que marcaram o porto de Santos no primeiro trimestre, atingiu 262 pontos em março, ante 259,2 no mês anterior. Ainda assim, se fevereiro não estivesse no calendário o nível atual seria o mais baixo desde 2009.
No terreno das quedas, a maior foi a dos óleos e gorduras. O indicar do grupo caiu para 201,1 pontos, ante 206,1 no mês anterior. É o menor patamar desde dezembro, definido sobretudo pelo clima favorável às lavouras de soja no Brasil nesta safra 2012/13, pelas perspectivas de produção recorde nos EUA no próximo ciclo (2013/14), por diversos adiamentos de compras por parte da China e pela fraca demanda para processamento nos Estados Unidos.
No grupo formado por carnes, o indicador recuou de 179,2, em fevereiro, para 175,7 em março. Conforme a FAO, a oferta global segue relativamente ajustada à demanda, o que ajuda a explicar as pequenas oscilações vistas desde setembro.
No caso dos cereais, finalmente, o indicador registrou sua sexta queda mensal consecutiva. Chegou a 244 pontos e ainda poderá cair mais, em virtude da recomposição parcial principalmente da oferta de milho, bastante prejudicada pela seca nos EUA em meados do ano passado.
Em outro relatório divulgado ontem, a FAO projetou a produção mundial de cereais em 2,309 bilhões de toneladas nesta safra 2012/13, que "oficialmente" terminará em 31 de agosto. Trata-se de um volume quase 2% menor que o de 2011/12, com a influência direta da seca do ano passado nos EUA, a mais severa em mais de cinco décadas.
Mas, como já informou o Valor, as primeiras projeções do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) para a próximas safra de grãos do país, que começará a ser semeada nas próximas semanas, sinalizam que a recuperação esperada, especialmente na colheita de milho, deverá mesmo se confirmar, a não ser em caso de novas adversidades climáticas. Há risco de seca em áreas do Meio-Oeste, mas nada que indique a possibilidade de uma quebra da produção.
Veículo: Valor Econômico