Uma oferta primária de ações pode ser a melhor opção para a Aracruz Celulose livrar-se da alta dívida contraída com operações com derivativos, sugeriu o banco Goldman Sachs, em relatório sobre o setor de papel e celulose. Segundo os analistas, a Aracruz teria de fazer uma oferta de US$ 2,1 bilhões emitindo 2,5 milhões de ações.
O ingresso de capital novo seria, segundo o banco, preferível à venda de ativos, como a fábrica da Aracruz em Guaíba (RS) ou a participação na Veracel, sociedade que divide com a sueco-finlandesa Stora Enso. "Ambas geram caixa e oferecem atrativas oportunidades de crescimento. A Veracel é a fábrica mais lucrativa de celulose do Brasil", escrevem os analistas da área de pesquisa da Goldman Sachs, Marcelo Aguiar, Pedro Grimaldi e Eduardo Couto.
"Enquanto a oferta de ações parece ser menos favorável para os lucros de curto prazo, ela deixaria a companhia com seus ativos de alta qualidade e sua oportunidade de crescimento intacta", dizem eles.
A Aracruz reconheceu US$ 2,13 bilhões em prejuízos causados com operações com derivativos. A empresa negocia uma solução da dívida com uma dezena de bancos - o Goldman Sachs é uma das instituições. Na proposta apresentada pelos bancos à Aracruz, a empresa teria de pagar sua dívida em sete anos, com uma taxa de juro de Libor (a taxa interbancária de Londres) mais 7% ao ano.
A fabricante ainda não se manifestou sobre a proposta. Mas segundo a Goldman, a opção recomendada pelos bancos seria muito cara. A empresa teria de pagar o equivalente em média a 32% de sua geração de caixa, medida pelo lucro antes dos impostos e encargos projetado para 2009 e 2010.
Neste cenário, a relação entre dívida líquida e a geração de caixa da Aracruz também aumentaria para 7,5 vezes em 2009 e para 5,7 vezes para 2010, segundo os analistas. Se a Aracruz optasse por fazer uma oferta, os analistas da Goldman Sachs calculam que essa relação seria reduzida para 2,7 vezes em 2009.
Segundo eles, a venda de ativos não seria suficiente para reduzir o endividamento da companhia. A venda da fatia de 50% na Veracel poderia render, segundo cálculos do banco, US$ 1,04 bilhão, quase metade da necessidade para cobrir o prejuízo com os derivativos.
Caso a Aracruz faça a oferta, os analistas avaliam as implicações para a Votorantim, sócia da empresa que busca uma fusão com a Votorantim Celulose e Papel (VCP). Segundo o Goldman Sachs, a Votorantim teria de levantar US$ 263 milhões para subscrever o aumento de capital e não ter sua participação de 28% diluída.
Desde que despencaram ao mais baixo valor em mais de uma década, as ações da Aracruz já tiveram 28% de recuperação desde o dia 2 de dezembro diante da perspectiva de investidores de que um acordo com os credores seja favorável à empresa.
No entanto, os papéis da fabricante de celulose continuam sendo negociados com deságio de 70% sobre o valor da ação no dia anterior ao anúncio de perdas com derivativos, no fim de setembro. Para a Goldman Sachs, o acordo da Aracruz com os credores não deve sair antes do fim deste ano, prevendo o fechamento para o primeiro mês de 2009.
Veículo: Valor Econômico