A presidente Dilma Rousseff encontrou-se nesta quinta-feira, na Casa Rosada, em Buenos Aires, com sua colega argentina Cristina Kirchner. No encontro, que ocorreu a portas fechadas, foram discutidas as relações estratégicas e políticas entre os dois países que, nos últimos tempos, tiveram momentos de tensão.
O principal assunto de interesse do Brasil é a questão comercial, já que as exportações brasileiras ao mercado do sócio sofreram queda de mais de 20% no ano passado e 3% no primeiro trimestre de 2013, segundo dados da própria agência de estatísticas do governo argentino. O Brasil questiona as denominadas Declarações Juramentadas Antecipadas de Importações (DJAI), que acabaram com as licenças automáticas de importações.
Atualmente, o comércio bilateral favorece amplamente o país vizinho, e os investimentos brasileiros na Argentina são cada vez menores. No primeiro trimestre deste ano, a Argentina registrou um superávit comercial com seu principal sócio no Mercosul de US$ 82 milhões, graças, em grande medida, às barreiras protecionistas aplicadas pela Casa Rosada. Foi o primeiro superávit dos argentinos em dez anos. Em recente exposição no Congresso, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que integra a comitiva da presidente, admitiu que o comércio com a Argentina “é menos que satisfatório”, preocupação que deve ter sido transmitida nesta quinta às autoridades argentinas durante a longa reunião no palácio de governo.
A queda dos investimentos brasileiros na Argentina é outro ponto que preocupa os dois governos. A decisão da Vale do Rio Doce de suspender o projeto Potássio Rio Colorado, na província de Mendoza, caiu como um balde de água fria na Casa Rosada. Era um investimento de quase US$ 6 bilhões, o maior da História da Argentina. De acordo com dados da empresa de consultoria Abeceb de Buenos Aires, os investimentos brasileiros na no país vizinho alcançaram um recorde em 2010, basicamente pelo projeto da Vale, agora suspenso. No ano passado, foram anunciados investimentos por cerca de US$ 2,4 bilhões, o que representa uma queda de 20% em relação ao ano anterior, e dos quais US$ 1,4 bilhão eram para a ampliação do projeto da Vale em Mendoza.
A venda de ativos da Petrobras na Argentina é outro assunto que deve ter sido discutido por ambas as presidentes. Há meses, circulam rumores sobre uma negociação com o empresário argentino Cristóbal López, fortemente vinculado ao governo kirchnerista. López já tem investimentos no setor petroleiro e também em cassinos, entre outros. O governo brasileiro oferecia créditos do BNDES para obras de infraestrutura e buscaria ampliar a presença das empresas brasileiras no país.
Veículo: Jornal do Comércio - RS