Em briga com o governo federal, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), vai lançar, "diante da alta da inflação", uma campanha para que o reajuste dos salários torne-se trimestral. "É uma forma de recuperar o poder de compra. O governo não consegue segurar a inflação e não dá para o trabalhador pagar a conta", afirma Paulinho.
O pedetista pretende usar a comemoração do 1º de Maio das centrais, na quarta-feira, para fazer uma "votação" sobre se a proposta tem apoio dos mais de 2 milhões de trabalhadores que são esperados nos shows que ocorrerão em São Paulo, organizados pela Força, UGT, CTB e Nova Central - apenas a CUT, ligada ao PT, faz evento separado.
Além do confronto ao governo federal com a campanha pela indexação dos salários à inflação, os possíveis rivais da presidente Dilma Rousseff (PT) também vão ter palanque na quarta-feira. Confirmaram presença três pré-candidatos à Presidência: o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a ex-ministro do Meio Ambiente Marina Silva (sem partido). O governo será representado pelo ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias (PDT).
Segundo Paulinho, os detalhes do reajuste serão discutidos em reunião hoje, mas os sindicatos da base da Força que estão em campanha salarial, como o da construção civil, já devem levar a pauta para a mesa de negociações.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo, o deputado estadual Antônio Ramalho (PSDB) defende que os sindicatos façam campanhas salariais trimestrais, com paralisações, para pressionar pela recomposição do poder de compra dos trabalhadores. "Queremos um gatilho para, cada vez que a inflação chegar a 3%, o reajuste dos salários seja automático", diz.
As outras centrais que organizam o 1º de Maio com a Força, porém, dividem-se sobre o tema. O único a apoiar é o presidente da Nova Central em São Paulo, Luiz Gonçalves (PT). Ele diz ser favorável a qualquer proposta que beneficie os trabalhadores, mas que precisa debatê-la antes.
"O Paulinho pegou todo mundo de surpresa com essa ideia, que ele vai levar no 1º de Maio. É uma boa discussão porque os trabalhadores estão sem política de reajuste salarial desde o governo Collor, mas acho muito difícil aprovar uma lei desse porte no Congresso", afirmou.
Já o presidente da CTB, Wagner Gomes (PCdoB), afirma que a campanha está "deslocada da realidade". "Se tiver aumento trimestral, aí vai alavancar a inflação de vez. Não achamos que a inflação chegou em patamar que justifique isso", pondera.
Para o presidente da UGT, Ricardo Patah (PSD), a proposta é política e não tem "pé no equilíbrio da economia". "Um gatilho para recuperar os salários tão rapidamente vai fomentar a inflação, alimentar o emocional das pessoas e causar uma indexação geral. Não tem sentido", diz.
Ramalho rebate as acusações de que a pauta é política. "Agora a inflação pode estar em 6% ao ano, mas se as pessoas que defendem os trabalhadores não pressionarem, não demora muito e isso cresce, chega a 10%, 15% ao ano", diz.
Veículo: Valor Econômico