A executiva Ana Paula Bueno Company gasta até R$ 2 mil por mês com produtos e serviços para Manolito, um labrador de três anos e 47 quilos. A conta mensal inclui despesas com alimentação, higiene e a "creche" onde ela deixa o cão, todos os dias às 8h, antes de ir ao trabalho, para pegá-lo às 20h. "Não gosto de deixá-lo sozinho em casa", diz.
Sem saber, Manolito ajuda a movimentar um setor que faturou R$ 12,7 bilhões, em 2012. "A estimativa do mercado pet, em 2013, é alcançar R$ 14 bilhões", diz Luiz Góes, sócio da consultoria GS&MD-Gouvêa de Souza, que fez um estudo sobre o setor.
"O aumento esperado é fruto da ampliação do poder de compra do brasileiro, aliado à maior oferta de itens que começam a fazer parte da cesta de consumo mensal das famílias." O país é o quarto maior do mundo em população de animais de estimação e o segundo em cães e gatos. Há 29,2 milhões de cachorros e dez milhões de felinos no Brasil.
Para atender essa demanda, estima-se que existam cerca de 25 mil pet shops no mercado nacional, a maioria de pequenas empresas. "A formalização do varejo fez desaparecer o formato de negócios conhecido como 'pet de garagem' e permitiu o surgimento de cadeias de lojas, redes de franquias e sites de e-commerce."
Com um crescimento esperado de 200% em 2013, ante o ano passado, a Meu Amigo Pet, com lojas físicas e virtuais, investe no franqueamento da marca. "Antes, os clientes alimentavam os animais com restos de alimentos. Hoje, cresce a entrega de rações premium, além de medicamentos e acessórios", diz o CEO da empresa, Daniel Nepomuceno, sem abrir números de faturamento.
O site Meu Amigo Pet, resultado de um investimento de R$ 3 milhões, começou a operar há três anos. O número de clientes cadastrados passou de dez mil, no ano de abertura, para 200 mil, em 2013. Com 40 funcionários, oferece cinco mil itens, com um tíquete médio de R$ 150. "Agora, vamos oferecer 'assinaturas' mensais de mercadorias, nas áreas de alimentação, higiene e saúde."
O sucesso do endereço eletrônico fez o grupo abrir duas lojas próprias em São Paulo. Há dois pontos em construção em Sorocaba e Itu (SP) e a previsão é inaugurar mais quatro unidades até o fim do ano. No franqueamento, iniciado em 2012, há uma parceira em funcionamento e duas com contratos já fechados, segundo Nepomuceno. "O plano é ter oito franqueadas ainda em 2013." O investimento total para quem deseja abrir uma franquia começa em R$ 300 mil.
"No varejo, espera-se uma concentração das vendas em redes de lojas maiores, como aconteceu com o setor de supermercados", diz Góes, da GS&MD-Gouvêa de Souza. "Devem surgir também novas opções de alimentos, com rações específicas para cada tipo de animal, e remédios voltados à prevenção de doenças."
De acordo com José Edson Galvão de França, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o país tem o segundo maior faturamento do mundo, no setor, atrás somente dos EUA. "As exportações de produtos destinados a animais de estimação cresceram 13,2% de 2011 a 2012, passando de US$ 162,7 milhões para US$ 184,3 milhões, o maior valor registrado desde 1998."
Por conta do peso econômico do segmento, foi criada, no ano passado, uma câmara setorial da cadeia produtiva de animais de estimação, ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com metas de trabalho que deverão ser cumpridas até 2017. "Há ações nos âmbitos de governança, fomento, marco regulatório, marketing e capacitação", diz França. Até lá, os empresários trabalham para se livrar de alguns obstáculos no caminho, como os tributos que incidem sobre a indústria pet.
A Abinpet defende a diminuição da carga tributária, que pode chegar a 50% sobre alguns produtos. Nos EUA, esse índice não passa de 7%. A desoneração é importante porque mais de 60% dos negócios do setor estão concentrados em alimentação, seguido de ofertas de higiene e embelezamento (13%). "Mas o nicho de serviços apresentou o maior crescimento nos últimos anos, de 17,2%, de 2011 para 2012."
Nos pet shops e sites, a diversificação de atividades é cada vez mais perseguida. No Oasis Pet, a cartela de ofertas, além dos tradicionais banho e tosa, inclui atendimento veterinário, internação 24 horas, cirurgias, recreação, fisioterapia, adestramento, hospedagem e acupuntura. A empresa existe desde 2009 e abriu uma filial no ano passado, com investimentos de R$ 400 mil. Ao todo, tem 3,5 mil clientes cadastrados, segundo o sócio e médico veterinário Eduardo Henriques. "Nas salas de banho, podemos atender até dez animais ao mesmo tempo", diz. O serviço custa a partir de R$ 26, mas uma cirurgia ortopédica pode valer R$ 3 mil. "Este ano, será criado um sistema de leva e traz de animais, para ajudar os clientes."
Depois de trabalhar 24 anos no mercado financeiro, Sylvia Maria Naddeo resolveu abrir o Bellas Pet Care, para aproveitar a febre imobiliária no bairro da Mooca, em São Paulo. Começou com 40 clientes e já tem em seu cadastro mais de 500 nomes. A empresária emprega sete pessoas. No ano passado, o faturamento atingiu R$ 170 mil e a estimativa para 2013 é chegar a R$ 230 mil.
Dono do site Presente Animal, Marcos Mauro preferiu apostar na cobertura oferecida pela internet e abriu o endereço eletrônico no final de 2012. Uma das especialidades da empresa, que recebeu investimentos de R$ 300 mil na fase de implantação, é entregar produtos estampados com o nome ou a foto dos bichos. "Temos itens como almofadas, mantas e toalhas, além de ofertas para os donos, como camisetas, canecas e mochilas", diz.
Esta semana, Hanriette Soares lança, no Rio de Janeiro, o portal PatPet, uma clínica veterinária on line com atendimento ininterrupto. Hanriette investiu R$ 1,2 milhão no projeto. O plano é faturar R$ 2,5 milhões até dezembro.
Setor abre oportunidades na área de distribuição e varejo
O consumidor do mercado pet mudou e os empresários acompanham a transformação para não perder negócios. Para os especialistas, sai de cena o criador que buscava o essencial e surge o comprador mais exigente, que não economiza na hora de adquirir o que há de melhor, entre produtos e serviços, para seu bicho de estimação.
"Os donos dos pet shops devem conhecer o perfil dos clientes", afirma José Antônio Di Bonifácio, diretor da Associação dos Distribuidores Pet do Brasil (Andipet) e dono de uma distribuidora desse setor em Ribeirão Preto (SP). Segundo ele, crescem as oportunidades nos setores de varejo e serviços, com hospitais especializados, sessões de fisioterapia e psicologia, além de hotéis especiais.
Bonifácio lembra que até meados da década de 1970, o mercado praticamente não existia. "Poucas pessoas viam os pets como companhia. A maioria era para segurança e os veterinários atendiam em domicílio." A partir dos anos 1980 as grandes empresas de alimentação ajudaram a trocar a comida caseira por rações balanceadas.
O diretor da Andipet afirma que há novos negócios nos ramos de distribuição e varejo. "Os grandes supermercados vendem 33% da alimentação pet, uma parcela pequena diante dos similares americanos e europeus, com 55% do mercado", diz. "As vendas pelos meios eletrônicos são pequenas, mas a tendência é ganhar espaço."
A startup AssinePet.com, por exemplo, entra no mercado com um modelo de assinatura on-line de produtos. O sistema vem ganhando força em outros setores. O plano é que os donos de animais encomendem conjuntos de ração, brinquedos e itens de limpeza pelo site e recebam o pacote em casa.
Para quem pretende ingressar no setor, o conselho é evitar o amadorismo. "Não se deve entrar nesse universo sem conhecê-lo bem, sem saber como concorrer com os grandes fornecedores", diz. "Como somos o segundo mercado do mundo, não vai demorar para varejistas estrangeiros se instalarem por aqui." A australiana Aussie Pet Mobile, com mais de 350 unidades em oito países, de serviços de banho e tosa em domicílio, para cães e gatos, está procurando parceiros para abrir franquias no Brasil.
Para Luiz Góes, da consultoria GS&MD-Gouvêa de Souza, alguns lojistas poderão desaparecer se oferecerem apenas produtos perfilados nas prateleiras. "É necessário apresentar serviços que garantam margens melhores e itens especiais para cada tipo de animal - a regra vale para alimentos, medicamentos e acessórios." Nos EUA, na área de saúde, já há uma demanda maior de remédios veterinários para a prevenção de doenças, e não só drogas para tratamentos.
"Oferecer o mesmo que uma grande loja já tem e ainda querer concorrer com elas é um caminho curto para a morte do negócio", afirma. Góes acredita que os moradores de grandes cidades, com menos tempo para se dedicar aos animais, vão procurar empresas que ofereçam até passeios com os bichos. A venda de acessórios também tem futuro. "Hoje é comum que os consumidores comprem mais roupas, brinquedos e camas, desenvolvidos especialmente para os pets."
De acordo com José Edson Galvão de França, presidente-executivo da Abinpet, outro passo importante para o empreendedor é o investimento na qualificação de funcionários. A entidade oferece cursos de capacitação, em parceria com o Sebrae.
Veículo: Valor Econômico